Inspirada nos ensinamentos de Santo Antônio

O dia do padroeiro de Bento Gonçalves – 13 de junho – é sinônimo de muito trabalho para a professora aposentada Elda Maria Borille Falcade, de 70 anos. Antes dos primeiros raios de sol surgirem no horizonte, ela inicia seus afazeres na cozinha do Salão Comunitário Santo Antônio, que só terminam quando a última louça é lavada. Esse envolvimento já dura 33 anos e começou quando ela e o marido, Lucindo Falcade, participaram do Encontro de Casais. Desde então, as tarefas ligadas à Paróquia Santo Antônio só aumentaram. “Estou mais aqui do que em casa. Em casa vou só para comer e dormir”, brinca ela, que também é catequista e zeladora. 

O convite para que o casal fosse festeiro veio em 1992. Elda explica que, assim como ocorre neste ano, os escolhidos já tinham envolvimento comunitário. Dos quatro casais, dois eram ligados à liturgia e outros dois aos preparativos da festa no salão – caso dela e do marido. “No começo a gente estranhou e pensou que ser festeiro de Santo Antônio não era para a gente, pois éramos simples”, conta. 

Múltiplas funções

Além da ligação com os preparativos da festa, eles também fazem parte de outras ações da paróquia, como a confecção dos tapetes de Corpus Christi. Ao longo desses 33 anos de envolvimento comunitário, ela só se afastou durante o período em que assumiu funções na 16ª Coordenadoria Regional de Educação. “Uma das coisas boas que tem é que ninguém é dono de nada, é sempre um grupo, das catequistas, das zeladoras, dos coletores de esmola. Isso é muito válido”, comenta. Enquanto ela ajuda na cozinha, o marido é um dos encarregados pela distribuição dos pães no dia da festa. Mas nem por isso eles deixam de participar como fiéis: todos os anos acompanham a missa que acontece no último horário no dia da festa. 

Devoção herdada

Natural de Antônio Prado, Elda veio para o município com 10 anos e foi morar em Tuiuty. A devoção a Santo Antônio ela aprendeu com a mãe. Ela conta que era bastante devota de Nossa Senhora de Fátima, mas de tanto envolver-se nas rezas do “sequeri” – segundo a tradição, o responsório “si quaeris miracula”, em latim, ajuda a encontrar objetos perdidos – acabou afeiçoando-se ao santo e hoje é a ele que recorre para interceder nos seus pedidos a Deus. 

O responsório segue fazendo parte do seu dia. “Só me falta perder a cabeça”, brinca. Entre os objetos que Santo Antônio já lhe ajudou a encontrar está um celular. Ela conta que estava indo para a Europa, quando se deu conta que havia esquecido o aparelho na sala de embarque do aeroporto, em Porto Alegre. Na volta da viagem, o aparelho ainda estava lá. “Hoje me apego muito a Santo Antônio. Negocio muito com ele. É negócio mesmo, se eu consigo tal coisa, eu dou tanto para os pobres”, relata. O gesto, segundo ela, é inspirado na vida do padroeiro.  “Depois que me pus a estudar a vida dele, percebi o quanto ele estava preocupado com os pobres e me engajei nesse outro lado”, explica. Além de ter feito cursilho, ela também estuda teologia há sete anos. “Quanto mais você vai estudando, mais percebe que não sabe nada”, observa. 

Esta é a 30ª reportagem da Série “Vida de…”, uma das ações de comemoração aos 10 anos do SERRANOSSA e que tem como objetivo contar histórias de pessoas comuns, mostrando suas alegrias, dificuldades, desafios e superações e, através de seus relatos, incentivar o respeito.