Ivane Fávero fala de desafios do mercado turístico

Bento Gonçalves, um dos 65 destinos indutores do turismo no país, recebeu no ano passado um milhão de visitantes.  Aos poucos, a cidade vai ser consolidando no setor e já é o segundo destino turístico preferido no Rio Grande do Sul, perdendo apenas para Gramado. O SERRANOSSA conversou com a secretária municipal de Turismo, Ivane Fávero para avaliar as conquistas e desafios do setor.

 
SERRANOSSA: Quais desafios ainda são enfrentados?

Ivane Fávero: O principal desafio continua sendo aumentar o tempo de permanência do turista no município. Hoje, a média é de pouco mais de um dia. Nosso objetivo é fazer com que a permanência chegue a três dias. É um desafio a longo prazo, que demanda muito esforço. Para isso, precisamos ter cada vez mais um produto diversificado, além de intensificar a divulgação dos roteiros para o público final. Hoje já são sete rotas turísticas.

SERRANOSSA: Qual a expectativa de visitantes para este ano em Bento?

Ivane: A expectativa é manter o mesmo número do ano passado: um milhão. O que se espera é que esses visitantes fiquem mais tempo aqui e consequentemente tragam mais dinheiro, movimentando a economia local. Não há um cálculo atualizado dos valores que o turista deixa aqui. Na última pesquisa estava em torno de R$ 350 para os que vêm a lazer. Para os turistas de negócio, o montante gasto é ainda maior.

SERRANOSSA: Há uma rivalidade com Gramado?

Ivane: É difícil alcançar Gramado pela gama de opções que a cidade oferece. Não há competição, o que existe são trabalhos em parceria. O mercado nos vê como destino único. O que se quer é a distribuição dos dias em que o turista fica em cada município. Um ganho importante nesse sentido foi o lançamento de pacote turístico da operadora CVC, que inclui estadia de três dias em Bento Gonçalves e de quatro em Gramado. O turista não vai mais fazer só uma visita rápida e deixar a cidade no mesmo dia.

SERRANOSSA: Recentemente, Bento Gonçalves filiou-se à Organização Mundial do Turismo (OMT). O que muda com isso?

Ivane: Bento passa a estar em contato com conselheiros de diversas regiões. É um espaço para discutir a problemática do turismo no Brasil e no mundo. O objetivo é buscar “knowhow” [saber como fazer] através deste intercâmbio para, cada vez mais, lançar bento Gonçalves como um destino turístico.

SERRANOSSA: Podemos falar que o mercado trabalha com alta e baixa temporada em Bento Gonçalves?

Ivane: Alta e baixa temporada quem define é o mercado, através do fluxo maior ou menor em determinadas épocas. Antigamente, a maior concentração de turistas se dava nos meses de junho e julho. A região trabalhou para diminuir essa sazonalidade, pois só dois meses de turismo durante o ano não gera sustentabilidade. A estratégia é termos eventos e programações durante todo o ano. É feito um trabalho em conjunto com o Bento Convention Bureau para buscar alternativas para os meses de menor fluxo. Antigamente, em dezembro, o número de visitantes era pequeno, mas já não é mais graças a atrações como Natal Luz, em Gramado, e Natal Bento, por exemplo. Em janeiro e fevereiro o movimento ainda é baixo, mas houve aumento no fluxo nos últimos anos. O Bento em Vindima está mudando esse cenário, aumentando o percentual de visitantes significativamente. Em março, o fluxo também era baixo, mas feiras como Fimma e Movelsul se posicionaram neste período, atraindo o turista de negócios. Hoje já temos uma distribuição dos visitantes ao longo dos meses e o fluxo maior já não é tão sazonal. Antigamente só nos vendíamos como destino de inverno, hoje temos atrações para as quatro estações, não só para turistas de lazer, que se concentram mais nas férias, feriadões e finais de semana. Nos outros dias e épocas do ano o turismo de negócios ocupa a lacuna deixada.

SERRANOSSA: De onde vem o maior fluxo de turistas?

Ivane: O maior fluxo é da região metropolitana de Porto Alegre. Em segundo lugar está São Paulo e depois há uma alternância de Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro. Do total de visitantes, 60% vêm da região Sul e 25% da região Sudeste. O restante do percentual está dividido entre as outras regiões, com destaque para Norte e Nordeste, que têm crescido bastante. Embora o percentual ainda seja baixo, é o que apresenta o maior índice de crescimento. Em relação a outros países, a maioria dos turistas vem da América do Sul (Argentina e Uruguai) seguido por Europa (Itália, Portugal, França e Espanha). O município está trabalhando em parceria com a secretaria Estadual de Turismo para traçar estratégias que possam ampliar o número de visitantes estrangeiros. Lá fora, a visão que os estrangeiros têm é de que o Brasil só tem praia e Carnaval. Eles conhecem o país só de Foz do Iguaçu (PR) para “cima”. É preciso construir o mercado, difundindo as características da nossa região. Um dos ganhos na luta por ampliar o número de visitantes estrangeiros foi o lançamento de voos diretos de Lisboa para Porto Alegre, feitos pela TAP. Já começamos a receber caravanas de operadoras de turismo interessadas em montar roteiros Brasil-Europa, incluindo Porto Alegre, Gramado, Bento Gonçalves e Campos de Cima da Serra. Também já começaram tratativas para alguns roteiros de enoturismo entre Brasil e Estados Unidos para 2014. Quanto mais distante o mercado, maior a demora em obter retorno.

SERRANOSSA: Como é feita a preparação da comunidade para receber os turistas?

Ivane: Temos uma proposta de qualificação constante, com vários cursos gratuitos, como é o caso de inglês e espanhol, inclusive com turmas no interior. Há vários cursos em parceria com o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (SHRBS), Senac  e Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS). O único problema é não fechar as turmas, porque cursos têm muitos. É um leque muito grande de qualificação, capacitação e treinamento para todo o trade. Também estamos desenvolvendo um trabalho nas rotas turísticas para auxiliar no planejamento estratégico, gerenciamento e marketing de cada atração. Outro ponto que vem contribuir para a qualificação é o intercâmbio entre as chamadas cidades-irmãs. Através do Gemelaggio, já mandamos estudantes para a Itália e vice-versa. É uma contribuição importante para a qualificação na área de gastronomia. Recentemente Bento assinou Hermanamiento com LujándelCuyo, produtor de vinhos na região de Mendoza, Argentina. Em breve também deve ser formalizada a Germinação com Cartaxo, em Portugal. São acordos com três países diferentes e que se abrem para a qualificação.

SERRANOSSA: As obras na Via delVino se arrastam desde junho do ano passado. O fato de encontrar a cidade toda em obras motivou reclamações dos turistas?

Ivane: A obra se arrastou além do prazo previsto por problemas de adequação do projeto e também pela inexistência de um mapa subterrâneo do município. Poucas cidades no país têm obras de fiação subterrânea, portanto é um desafio que enfrentamos. O turista em geral entende que as obras vão trazer melhorias no futuro e manifestam interesse em regressar quando elas estiverem prontas. O foco do turista no município não é o Centro, embora estejamos trabalhando para mudar este cenário. O turista não reclama das obras, mas do comércio fechado aos finais de semana.


Alguns ganhos do setor

*Recentemente foram divulgados os dados referentes a 2011 do Índice de Competitividade do Turismo Nacional, pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em 2008 a nota do município era 59,3. Em 2011, o número saltou para 67,6. A nota de Bento está acima das não capitais (51,8), e acima do índice geral brasileiro, 57,5;

*Bento Gonçalves já ocupa a segunda oposição como destino turístico preferido no Estado, segundo a pesquisa “Marcas de Quem Decide”. O município perde apenas para Gramado. Em 2009, Bento estava em quarto lugar, atrás de Gramado, Canela e Torres;

*Em 2003, a média anual de visitantes nos roteiros turísticos do município era de 388 mil. Nos eventos realizados, a média era de 147 mil visitantes. No último ano, os visitantes nos roteiros subiram para 821 mil e nos eventos para 396 mil;

*Em 2011, Bento Gonçalves recebeu premiação como Melhor Material de Promoção Turística e Melhor Site no concurso Casos de Sucesso na Implementação do Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil, promovido pelo Ministério do Turismo (Mtur).

Reportagem: Carina Furlanetto

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