João Bortolini: a dor da perda sem explicação

Ainda abalada e consternada com a perda do marido, companheiro e amigo com quem viveu durante quase 40 anos, Ana Orsatto Bortolini não consegue esquecer a tarde do dia 22 de abril. Tentando superar a saudade, ela luta para que a morte de João, 68 anos de idade, não seja esquecida e para que a pessoa que atirou seja identificada. O agricultor foi vítima de uma bala perdida quando estava na janela da residência da família, que fica na linha Paulina, distrito de São Valentim. 

Ela relata que o marido sempre costumava ficar na janela. “Ele nunca quis veneziana naquela janela porque gostava de observar a paisagem. Nunca vou esquecer aquele dia. Ele estava sentado, escorado na janela, como sempre fazia, e eu estava logo ao lado, terminando de limpar a pia. Ele deu um pulo, estendeu o braço e apontou para o mato perguntando o que haviam atirado de lá. Ele chegou a abrir dois botões da camisa e limpar o local, como se estivesse sujo. Em seguida, deu dois passos e caiu”, relembra. Ela conta que ouviu um barulho como se fosse um sopro. “Eu comecei a gritar. Meu neto, meu genro e minha filha vieram até a casa. Como o João estava roxo e não tinha marca nenhuma, apenas uns respingos pequenos de sangue, achamos que fosse um infarto e que ele havia se arranhado”, relata.

Após conseguir carona com um sobrinho, a família levou João para o hospital, onde o médico diagnosticou que um projétil de arma de fogo havia atingido o coração do agricultor. “No mesmo lugar onde ele caiu morto de tarde, pela manhã, ele me abraçou e disse que queria me fazer muito mais feliz. Agora que estávamos começando a viver novamente, depois de alguns problemas, aconteceu isso. Quando tem um motivo, a gente entende, mas do nada é complicado”, conta, desconsolada.

No álbum da família restaram apenas lembranças das festas e comemorações que sempre reuniam os netos, filhos e parentes. “Tiraram a nossa alegria. Um dos meus netos somente voltou a sorrir depois que eu dei de presente para ele o relógio que era do avô. Eles até têm medo de brincar do lado de fora da casa, com receio do que possa acontecer”, lamenta.

A viúva ainda conta que, para presentear as outras netas, mandou desmanchar a aliança de casamento que ele usava e fez dois anéis. “Toda vez que nos reunimos, uma das netas diz: ‘maldita bala, o nono podia estar aqui com a gente’. O que nós mais queremos é que o caso não seja esquecido. O João nunca teve inimizade com ninguém, era uma pessoa tranquila, que quase não saía de casa. O que aconteceu foi uma fatalidade”, desabafa.


Inquérito em andamento

O caso está sendo investigado pelo delegado Leônidas Costa Reis, titular da 1ª Delegacia de Polícia (1ª DP). “O inquérito está em andamento, mas ainda não temos suspeitos do crime”, justifica. Quem tiver qualquer informação que possa ser útil pode entrar em contato com a delegacia de forma anônima, através do telefone 3452 2500. A morte de João Bortolini está sendo investigada como homicídio. Somente neste ano, foram 11 casos em Bento Gonçalves.

 
Reportagem: Katiane Cardoso

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