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Jovem de Bento fala sobre experiência no Reino Unido durante funeral da Rainha Elizabeth II

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A pesquisadora Maiara Piovesana mora em Edimburgo, na Escócia, e diz que o falecimento da rainha e ascensão do rei Charles III faz parte de um momento histórico para o Reino Unido e sua população, até mesmo os imigrantes; “O monarca é visto como uma personificação do espírito britânico”, destaca a bento-gonçalvense

Após 96 anos de vida e 70 anos como rainha do Reino Unido, Elizabeth II faleceu no último dia 08/09, no Castelo de Balmoral, na Escócia. A monarca que mais reinou sobre territórios ingleses, ocupando o cargo com firmeza e dedicação à monarquia desde 1952, saiu de cena sendo uma das mulheres e personalidades mais conhecidas e respeitadas do mundo moderno. Seu velório e enterro oficiais aconteceram na última segunda-feira, 19/09, e foram assistidos por mais de 27 milhões de pessoas apenas no Reino Unido. Com seu jeito sóbrio e humor único, Elizabeth II deixou sua marca entre súditos e em outros países.

Foto: Família Real Britânica/Divulgação

Para entender melhor como foi esse momento para o povo do Reino Unido, o SERRANOSSA conversou com a bento-gonçalvense e pesquisadora na Universidade de Edimburgo Maiara Piovesana, que mora em Edimburgo, na Escócia. Natural de Bento, ela reside no Reino Unido definitivamente desde 2017, quando iniciou um doutorado na área de biologia molecular e vegetal. Casada com um inglês, Maiara afirma que mesmo com choques de cultura e costumes, sempre se sentiu bem no país que, segundo ela, mesmo com regras rígidas para com imigrantes, sempre a tratou bem.

“Os locais de trabalho são muito internacionais. Por exemplo, agora, eu trabalho em um laboratório na Universidade de Edimburgo, na Escócia, e de todo o grupo de laboratório, que são em torno de umas 15 pessoas, apenas um dos membros é escocês, o restante é de outras partes do mundo, de diversos países, e foi a mesma coisa no instituto que eu fiz o doutorado. Então, é um país onde uma grande parcela da população é imigrante ou filhos de imigrantes. A gente consegue se encaixar de uma maneira relativamente fácil em termos de se integrar no círculo social”, diz a pesquisadora.

Sobre a morte da monarca mais longeva da história inglesa, Maiara destaca o peso do momento para a vida de todos. “A morte da Rainha Elizabeth II foi, sem dúvidas, um marco histórico, um dia que o Reino Unido não vai esquecer”, afirma. A pesquisadora conta que estava no aeroporto, prestes a viajar, quando soube do falecimento. Segundo ela, toda e qualquer tela digital anunciava sobre a morte da rainha. “O país inteiro entrou em estado de alerta, digamos assim. Claro que todo mundo já previa que este momento estava para chegar, porque ela tinha 96 anos, mas é algo que mobilizou muito a população. Imediatamente, começaram os preparativos para o funeral dela, principalmente por parte do Exército”, o marido de Maiara é oficial do Exército e teve que largar tudo para se dedicar ao trabalho.

Mesmo com a morte da monarca, a população precisou seguir com o dia a dia. Porém, nem mesmo as ocupações diárias impediram que milhares de pessoas se concentrassem por 10, 12, 15 horas para ter a chance de visitar o caixão de Elizabeth II e prestar as últimas homenagens. “Afetou nesse sentido, mas não que tenha mudado no dia a dia das pessoas, é mais aquela percepção, todo mundo comentando ‘meu Deus, a rainha faleceu, agora nós temos um novo rei’”, pontua.

A jovem Maiara na Universidade de Oxford. Foto: Arquivo pessoal

Um fato é que, mesmo sendo popular, a realeza britânica tem seus opositores. Parte da população deseja que o país deixe de ser monarquia e se torne uma república ou que a família real deixe ter os privilégios, como, por exemplo, um ‘salário fixo’. Segundo pesquisa do site UOL, entre março de 2021 e março de 2022, a família real britânica recebeu 86,3 milhões de libras (R$ 516 milhões) referentes ao chamado Sovereign Grant, o “Subsídio Soberano”, em tradução livre. Sobre a relevância da realeza, Maiara destaca que é perceptível o forte apelo ainda sustentado por Elizabeth II e seus descendentes.

“Foi interessante ver isso bem vivo agora nesse momento. Muitas pessoas fiéis, quem eles chamam de monarquistas aqui, chorando devido à morte da rainha, participando desses momentos, querendo ver o caixão, cantando o novo hino, dando as boas-vindas ao Charles como rei e outra parcela da população, bem menor na minha percepção, protestando e dizendo que não tem justificativa, que o rei não foi eleito”, pontua. Para ela, é difícil para os brasileiros, por exemplo, entenderem a posição do rei/rainha, já que isso não existe no país – o Brasil foi declarado como República em 1889.

Apesar disso, ela diz compreender qual a importância dessa família real, afinal, por meio do turismo e da mítica envolta aos nomes reais, os monarcas conseguem devolver algo em troca para o país. “Eles trazem muito dinheiro para o Reino Unido em termos de todo o turismo que atraem e eu acho que eles representam muito para o povo britânico, então eu entendo a existência dessa instituição”. E uma frase pode definir bem a relação entre monarquia e o povo. “O monarca é visto como uma personificação do espiríto britânico, do que é ser um residente do Reino Unido”, resume.

Sobre a ascensão do novo rei, Charles III, de 73 anos, que assumiu o posto no mesmo dia de falecimento da mãe, Maiara acredita que ele não irá substituir Elizabeth II, afinal, ela ficou 70 anos no cargo e pode ser considerada como o rosto do Reino Unido e seus costumes. Porém, ele terá o seu reinado de acordo com a pessoa que já é, principalmente, na defesa do meio ambiente e na promoção de bolsas de estudos para jovens carentes. “Simplesmente é o novo monarca, que eu acho que vai deixar a sua marca, do seu próprio jeito. Eles são indivíduos extremamente diferentes, a gente sabe disso. A gente já pode ver que ele é automaticamente e imediatamente e extremamente bem-vindo e respeitado pela maioria do povo”, reforça.

A pesquisadora ressalta que, como brasileira e da cidade de Bento Gonçalves, fazer parte deste momento, presente em terras britânicas, possibilita vivenciar um momento que ultrapassa a história. “Eu estava na parada de ônibus e uma senhorinha estava do meu lado comentando sobre a morte da rainha e ela começou a chorar como se fosse um membro da família dela. Então eu acho que tem muito essa ligação, os britânicos se identificam muito com a família real”, conclui a gaúcha.

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