Justiça manda soltar comerciante que atirou contra cadela em Sapucaia do Sul

A Justiça determinou a soltura do comerciante, de 42 anos, que atirou com uma arma de pressão e matou a cadela de um menino de 13 anos em Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana. O crime ocorreu na segunda-feira (12/10), Dia das Crianças, no momento em que o menino tinha ido ao mercado fazer compras pedidas pelos pais.

A decisão é do juiz plantonista Fernando Alberto Corrêa Henning, ainda na terça-feira (13/10). Ele determinou a liberdade provisória sob compromisso de que o homem compareça aos atos do processo, mantenha endereço atualizado e não se ausente da comarca. 

Na decisão, o magistrado homologou a prisão em flagrante, mas determinou a liberdade após analisar o histórico do comerciante. Henning concluiu não haver necessidade de mantê-lo detido:

"O flagrado não possui antecedentes e não há qualquer indicação especial da necessidade da prisão cautelar para fins de preservação da ordem pública ou econômica, regularidade da instrução ou assecuração da aplicação da lei penal; tampouco há medida cautelar por ele descumprida".

O homem foi um dos primeiros detidos no Rio Grande do Sul com base na nova lei dos maus-tratos, sancionada no final de setembro pelo presidente Jair Bolsonaro. O texto trouxe mais rigor a casos como esse, quando envolvem cães e gatos.

O delegado Mario Souza afirmou que, apesar de o homem ter ficado preso pouco mais de 24 horas, com base na legislação anterior ele seria liberado na hora após assinatura de termo circunstanciado.

— É importante que as pessoas saibam que maus-tratos levam gente para a prisão. Precisamos parar com essa barbárie. Esse homem será investigado e indiciado pela polícia — assegurou o delegado.

Nesta quarta-feira (14/10), o mercado do comerciante amanheceu com tintas vermelha e amarela que parecem ter sido jogadas por alguém. O mercado, antes, era todo na cor preta.

O caso

Segundo a família, o menino foi ao mercadinho do Loteamento Nascer do Sol, no bairro Boa Vista, pouco depois das 12h de segunda-feira para fazer compras pedidas pelos pais. A sua cadela, Belinha, o acompanhou, como fazia de costume. O cão ficou esperando do lado de fora do estabelecimento. A presença do animal gerou a irritação do proprietário do mercado que, segundo a polícia, atirou contra a cadela.

O tiro alertou o menino, que saiu de dentro do mercado. Correndo, ele ainda levou a cadela sangrando em seu colo até os seus pais, para que a examinassem e pedissem ajuda. Belinha não resistiu. A cadela e o garoto eram melhores amigos havia oito anos.

De acordo com o irmão, o menino passou a terça-feira (13/10) com a família e ainda estava abalado, chorando frequentemente. Ele recebeu visitas de pessoas que se comoveram com a história e levaram alguns presentes.

Vídeos gravados por vizinhos e postados em redes sociais mostram o tamanho do amor que ele tinha pela cadela. Já com o animal morto, o garoto permaneceu com ela em seu colo, chorando e pedindo para que ela reagisse.

— Ô, Belinha, tá me ouvindo? — clamava o menino, com os braços sujos de sangue da cadela.

Apesar da dor, o garoto decidiu que deveria enterrar Belinha. Ele mesmo pediu para um vizinho para fazer uma cruz. Depois, com ajuda de adultos, pintou com tinta branca no objeto o nome de sua cadela. O garoto, sozinho, abriu a pequena cova e despediu-se dela na mesma pracinha onde brincou nos últimos anos com a sua melhor amiga.

Informações: Gaúcha ZH