Laudo confirma que jovens utilizaram arma de fogo

A morte de dois jovens durante uma perseguição policial ocorrida no último dia 16 de março teve um novo capítulo nesta semana. O incidente ficou conhecido como “Caso Fiorino” já que as duas vítimas ocupavam o compartimento de carga do veículo, cujo condutor fugiu após ordem de parada da Brigada Militar (BM). Os resultados do exame residuográfico realizado nas mãos dos ocupantes da caminhonete foram concluídos e entregues para a Corregedoria da Brigada Militar, que investiga o caso de forma paralela. O laudo do Instituto-Geral de Perícias (IGP) aponta que havia resquícios de chumbo, bário e antimônio nas mãos do motorista, Tiago de Paula, de 18 anos, e das duas vítimas, Anderson Stiburski, 16, e Danúbio Cruz da Costa, 20. Não foram encontrados vestígios nas mãos do adolescente de 15 anos, caroneiro da Fiorino.

Uma das hipóteses levantadas foi de que os resquícios seriam de “bombinhas” como as que a perícia encontrou dentro do veículo, o que justificaria o resultado positivo. Entretanto, segundo o tenente-coronel Júlio Cesar Rocha Lopes, subcorregedor da BM, as pólvora são diferentes. “A pólvora das bombinhas encontradas é diferente da de arma de fogo, o composto químico é outro e os exames são bem específicos”, explica. O laudo contradiz o depoimento dos jovens, que na época afirmaram não ter conhecimento de que havia uma arma no veículo ou em posse de algum dos ocupantes – durante a análise pericial do veículo no dia do ocorrido, um revólver calibre 38 com dois projéteis deflagrados foi encontrado sob a mochila de uma das vítimas, no compartimento de carga.

Os resultados também vão contra as afirmações de amigos e familiares das vítimas. Na época, houve acusação de que a arma poderia ter sido colocada de forma proposital para incriminar o grupo e justificar a ação dos policiais. O novo indício sustenta a tese de que os brigadianos teriam revidado aos disparos. Em depoimento, os policiais disseram ter decidido atirar após ouvirem tiros vindos da Fiorino.

Mesmo com o novo fato, a Corregedoria segue sustentando a inexistência de um confronto, pois o exame não precisa o momento em que foram efetuados os disparos. “Esse é mais um elemento que será encaminhado à Justiça, mas de forma alguma altera o inquérito”, afirma Lopes. O tenente-coronel disse que ainda faltam alguns resultados do IGP que poderão ajudar na elucidação do caso. “Aguardamos agora os resultados da perícia na arma encontrada no veículo e também resultados de corpo de delito, que irá apontar qual projétil ocasionou a morte dos rapazes”, conclui. 

Quatro policiais indiciados

Dois inquéritos foram abertos para investigar o caso. O primeiro pela Polícia Civil e o segundo pela Corregedoria-geral da BM. O Inquérito Policial Militar (IPM) remetido à Justiça Militar no último dia 11, indiciou quatro policiais. De acordo com a corregedoria-geral da corporação, a conclusão é de que houve excessos na ação policial. Os dois soldados que participaram da perseguição responderão por homicídio simples. O IPM ainda responsabiliza outro soldado por lesão corporal contra o motorista da Fiorino. Um sargento também foi indiciado por transgressão – ele não teria adotado medidas que preservassem a cena do crime para posterior análise pericial.

A investigação feita pela Polícia Civil foi concluída no dia 30 de abril e remetida ao Ministério Público com indiciamento por homicídio com dolo eventual do motorista da Fiorino e dos dois brigadianos que atiraram contra o automóvel durante a perseguição. Na época, o promotor de Justiça Criminal de Bento Gonçalves, Eduardo Lumertz, solicitou outras demandas, como a reinquirição de uma testemunha, o aguardo do resultado de depoimentos de pessoas que residem fora de Bento Gonçalves, o envio de provas periciais, e a obtenção de informações mais precisas sobre o possível duplo registro de uma arma de fogo que teria sido encontrada na Fiorino e estaria em poder dos jovens. O prazo encerrou no último dia 13 de junho. Tanto o Ministério Público quanto a Polícia Civil divulgaram que não irão se pronunciar sobre o andamento do inquérito por enquanto.

Reportagem: Jonathan Zanotto

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