Lojas de Caxias do Sul vendiam doações dos Estados Unidos destinadas às vítimas das enchentes de 2024

Produtos identificados como “SOS – Texas/USA”, enviados para ajudar vítimas da enchente de 2024 no Rio Grande do Sul, são vendidos normalmente em Caxias do Sul

Lojas de Caxias do Sul vendiam doações dos Estados Unidos destinadas às vítimas das enchentes de 2024.
O “SOS” não chegou a quem precisava e parou nas mãos erradas. Fotos: GAECO/MPRS

O GAECO/MPRS deflagrou nesta quinta-feira (4) a Operação Ascaris, que investiga o desvio e a venda ilegal de doações enviadas dos Estados Unidos e de empresas da Serra Gaúcha para vítimas das enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul. A ação cumpriu oito mandados de busca e apreensão em Caxias do Sul, São Marcos e Boa Vista do Sul, além de bloquear R$ 2 milhões em contas bancárias.

A investigação, conduzida pelo promotor de Justiça Manoel Figueiredo Antunes, coordenador do 5º Núcleo Regional do GAECO – Serra, contou com apoio do Núcleo de Inteligência do MPRS (NIMP) e da Brigada Militar. As apurações identificaram que roupas e utensílios destinados a famílias desabrigadas foram enviados a uma ONG, mas acabaram vendidos em brechós da região, com indícios de enriquecimento ilícito por meio de laranjas e recebimento de valores via Pix em nome de terceiros.

Lojas de Caxias do Sul vendiam doações dos EUA destinadas às vítimas das enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul.
O inferno é aqui: a maldade humana.

O esquema teria financiado a compra de veículos, um apartamento e outros bens da principal investigada. Ao todo, oito investigados — três da mesma família — e uma empresa são alvos do GAECO.

Segundo o promotor, há indícios dos crimes de apropriação indébita, organização criminosa e lavagem de dinheiro, todos cometidos em contexto de calamidade pública.

A investigação começou após uma denúncia encaminhada ao Consulado-Geral do Brasil em Miami, que alertou a Defesa Civil sobre a venda de roupas importadas — inclusive de marcas conhecidas — que deveriam ter sido entregues às vítimas das enchentes.

Com a apreensão de documentos, mídias e celulares, o Ministério Público busca identificar outros possíveis envolvidos, mapear a movimentação financeira, calcular quanto foi obtido com a venda ilegal e verificar se houve desvios em outras situações.

“O interesse público está muito acima do interesse individual dos investigados, que se aproveitaram da dor das pessoas para obter vantagem patrimonial. Inclusive, divulgavam ações solidárias em suas redes sociais durante as enchentes, e um dos investigados chegou a ser reconhecido publicamente por isso”, afirmou o promotor Manoel Figueiredo Antunes.

O promotor destacou ainda que a apuração já dura oito meses e revelou que contêineres inteiros de doações vindos dos Estados Unidos teriam sido desviados. Porém, informou que contribuições de empresas brasileiras, como a Tramontina e a Cadence, também foram alvo do esquema.

O SERRANOSSA apurou que produtos da marca Kirkland, vendidos exclusivamente pela rede Costco nos EUA — portanto, proibidos de comercialização por terceiros — foram encontrados à venda em brechós de Caxias do Sul.

O coordenador estadual do GAECO, promotor André Dal Molin, reforçou que “a Operação Ascaris, em interlocução direta com a Defesa Civil do Estado, busca responsabilizar os envolvidos e garantir a recuperação dos recursos e bens desviados”.

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