Maior quantidade de anticorpos é registrada somente um mês após vacinação, revela farmacêutica
Diante das diferentes vacinas disponíveis hoje no mercado e da série de dúvidas que ainda pairam sobre o Coronavírus, são recorrentes as perguntas em relação à eficácia dos imunizantes. As duas vacinas hoje disponíveis no Brasil, a CoronaVac e a de Oxford/Astrazeneca, necessitam da aplicação de duas doses para garantir o percentual de imunização divulgado após meses de estudo – 50,4% e 82%, respectivamente. Mas afinal, quanto tempo depois da vacina o organismo passa a desenvolver anticorpos para o Coronavírus? Qual o percentual de proteção após a primeira dose? A Coordenadora Corporativa de Farmácia do Hospital Tacchini, Suhélen Caon, explica para o SERRANOSSA.
SERRANOSSA: Em relação às vacinas contra a COVID-19 que estão sendo aplicadas em Bento (CoronaVac e Astrazeneca) se tem a informação sobre o tempo médio que o imunizante começa a fazer efeito? Esse tempo pode variar de organismo para organismo? Por quê?
Suhélen Caon: A proteção começa, em média, duas semanas após a aplicação da segunda dose no paciente, mas a maior quantidade de anticorpos é registrada um mês após o término da vacinação, com variações individuais. As variações têm a ver, principalmente com idade e o sistema imunológico de cada um.
SN: Sabemos que a segunda dose da CoronaVac deve ser aplicada de duas a quatro semanas depois da primeira. E que a segunda dose da vacina da marca Oxford/Astrazeneca, deve ser aplicada após cerca de 12 semanas. Primeiramente, porque há essa diferença de intervalos? O que acontece caso haja um tempo maior de intervalo entre as doses?
Suhélen: A diferença se dá pela formulação das vacinas, ainda que tenham modos semelhantes de ação, cada uma foi avaliada seguindo os intervalos que foram mais promissores para que obtivessem sucesso. Os estudos seguem acontecendo para avaliar outros intervalos de imunização. O que já sabemos hoje é que, se o paciente tiver Covid entre uma dose e outra, deve esperar a melhora completa para completar a imunização e que os resultados preliminares de doses “atrasadas” não demonstra perda de eficácia.
SN: Com base nessas informações, sabemos que uma pessoa fica pelo menos 15 dias com apenas a primeira dose do imunizante. Qual o percentual de proteção dessa pessoa nesse período?
Suhélen: A eficácia da CoronaVac após uma dose é indeterminada. Já após a segunda dose é de 50,4% (geral), podendo chegar a próximo de 70% com intervalo de pelo menos três semanas. Os estudos mediram que três semanas depois chegou perto de 70%, então se espera que seja maior com um tempo maior. Mas o tempo maior que três semanas não foi medido no estudo. Já a eficácia da vacina de Oxford após a primeira dose é de 76% (depois do 21º dia). E após duas doses é de 82%.
SN: As novas variantes do Coronavírus têm preocupado a população. A principal dúvida é se essas vacinas que estão sendo aplicadas mundo afora serão também eficazes para proteção dessas variantes. O que se sabe até o momento e qual sua opinião sobre o assunto?
Suhélen: A eficácia e as atualizações dependem do tipo de tecnologia de cada vacina. A CoronaVac, por exemplo, usa o vírus inativado inteiro, e o sistema imunológico pode desenvolver anticorpos contra diferentes partes do vírus. Os estudos estão acontecendo ao mesmo tempo em que nossa capacidade de identificar novas variantes. Nossa vantagem é que as vacinas conseguem ser ajustadas em até três semanas da identificação da mutação, a partir da decodificação do RNA da nova cepa. Uma vez decodificado, ele é adicionado também à vacina já existente. Tipo as da gripe. O desafio segue sendo a produção em massa e nossa capacidade de conter a disseminação destas novas variantes.
SN: Como é possível detectar as novas variantes? Os testes conseguem distinguir a cepa?
Suhélen: Tem um teste que consegue distinguir, mas não tem em Bento Gonçalves. É preciso enviar a amostragem para Porto Alegre. [Nos atendimentos do município, o critério para envio de amostragens é o paciente ter viajado para municípios brasileiros da região Norte e para países (UK e África do Sul) que estejam com a circulação da nova variante e que estejam com sintomas de síndrome gripal. Conforme a prefeitura, até o momento nenhum caso suspeito de novas variantes foi identificado no município].
SN: Diante da demora entre uma dose e outra, da demora da ação no organismo e das novas variantes, quais os cuidados que precisam ser, necessariamente, mantidos mesmo com as vacinas?
Suhélen: Independentemente das condições de vacinação é imperativo que mantenhamos as medidas de distanciamento social, uso de máscaras e lavagem de mãos.