Mais de 1.200 famílias vivem em situação de extrema pobreza em Bento

Renda mensal per capita de até R$ 89,00 é o que caracteriza a situação de extrema pobreza de 1.281 famílias em Bento Gonçalves, conforme informações do Cadastro Único. São grupos familiares compostos por pessoas desempregadas e sem qualquer fonte de renda, ou nos quais a renda formal/informal de cada membro fica dentro desse teto. Das mais de 1,2 mil famílias que vivem nessa condição em Bento, cerca de 700 são compostas por mulheres chefes de família. Os dados foram repassados pela secretaria municipal de Esporte e Desenvolvimento Social (Sedes).

Essa é a realidade da moradora do bairro Municipal, Valdete Dias da Silva. Divorciada há cerca de um ano, Valdete sobrevive hoje com o auxílio emergencial do governo federal, de R$ 250 mensais. Aos 51 anos, a moradora conta que costumava trabalhar como empregada doméstica, mas precisou largar a profissão para se dedicar exclusivamente aos seus dois filhos com necessidades especiais.  “Eu queria muito poder trabalhar, ter uma renda fixa e não ter que me preocupar com o dia de amanhã. Mas eles dependem de mim. O Giovani [de 27 anos] tem esquizofrenia, psicose e atraso mental. A Giulia [20 anos] tem deficiência intelectual. Os dois têm mentalidade de crianças e são interditados, via judicial. Não têm condições para uma vida ativa, para trabalhar e se virar. São eternas crianças”, explica. O auxílio com a alimentação vem do ex-marido, pai de Giovani e Giulia, que trabalha como pedreiro e também vem enfrentando dificuldades diante da pandemia. 


Foto: Eduarda Bucco/SERRANOSSA
 

Há alguns anos, Valdete contava com o auxílio do Benefício de Prestação Continuada (BPC), por conta da condição de Giovani. Entretanto, a família acabou perdendo devido ao pai e ex-marido de Valdete abrir um MEI. “Na época, nós pensamos em abrir o MEI para pagar o INSS para deixar nossos filhos amparados no futuro”, recorda. Atualmente, a mãe aguarda a perícia marcada para sua filha Giulia, na esperança de conseguir o benefício. “Estou pedindo a Deus que me abençoe para ter pelo menos esse recurso para eles”, comenta.

Sobrecarga da pandemia

Giovani e Giulia realizam atividades na Associação Integrada do Desenvolvimento do Down (AIDD) e Giulia também frequenta a APAE. Entretanto, devido às restrições da pandemia, a maioria das atividades presenciais foi suspensa. “A Giulia, em casa, se sente sozinha. Ela chora, porque gosta de estar com os colegas, de ter o convívio com os outros”, lamenta. Em decorrência da ansiedade por precisar ficar em casa, Valdete conta que a filha adquiriu compulsão alimentar e está acima do peso. 


Foto: Arquivo pessoal
 

Com os filhos mais tempo em casa e com mais necessidades, a rotina de Valdete se tornou ainda mais puxada. “Estou esperando duas cirurgias, uma delas de implante de prótese na perna e outra por conta de um problema no canal da urina. Sinto dores fortes diariamente e os remédios não estão mais fazendo efeito, mas a gente aprende a conviver com a dor”, comenta. Por conta da situação atual envolvendo o divórcio, seus problemas de saúde e sua condição financeira, a moradora tem sido atendida pelo Centro Revivi e por um psicólogo do CAPS. “Na AIDD tem um grupo de crochê e pintura para as mães. Tem sido muito bom porque eu amo crochê e artesanato. Mas às vezes não tenho tempo para mim e falta matéria-prima”, revela. 

Sobre o amanhã

Questionada sobre o que irá acontecer quando ela receber a última parcela do auxílio emergencial, Valdete diz não ter certeza. “Eu conto com a ajuda do pessoal do CRAS para conseguir os benefícios porque não sei lidar com isso. Talvez agora consiga o auxílio gaúcho, mas não sei. Tenho a perícia marcada para a Giulia para conseguir o BPC, mas tento não contar com isso caso eu não consiga”, comenta. 

Vivendo com o mínimo, Valdete afirma que conta com algumas cestas básicas esporadicamente, com o auxílio do ex-marido e de algumas pessoas especiais. Mesmo assim, tem dificuldades, até mesmo, de manter os filhos agasalhados no inverno. Outro desafio é com o transporte até a AIDD e para demais necessidades diárias da família. “O Giovani tem dificuldade na parte motora. Ele tem medo de rampas. Então é muito difícil o transporte para a gente”, afirma.


Foto: Eduarda Bucco/SERRANOSSA
 

Mesmo diante dos inúmeros desafios diários, Valdete não perde o riso fácil e agradece as poucas, mas valiosas pessoas que já os ajudaram em algum momento. “Eu conheci a miséria de perto e é tão ruim ver teus filhos com alguma necessidade e não poder fazer nada. Mas a gente segue batalhando”, afirma. “Eu agradeço a Deus em cada amanhecer e por Ele ter me dado meus filhos. Já sofri muito, mas sempre de pé, sempre sorrindo”, finaliza. 
 

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