Mais de 1,8 mil acidentes de trabalho registrados

Até o início desta semana, Bento Gonçalves já contabilizava mais de 1.850 casos de acidentes de trabalho em 2013. O setor de Vigilância em Saúde do Trabalhador (Visat) deve finalizar a contagem dos registros de agosto nos próximos dias, mas, por enquanto, julho detém o recorde do ano, com 327 ocorrências. 

Com apenas um registro, o número de mortes está abaixo do de 2012, quando 4 situações foram fatais. Em termos gerais, entretanto, este ano pode superar o anterior, que fechou com 2.225 ocorrências. A diferença não está, necessariamente, no aumento da incidência de acidentes ou doenças ocupacionais no município, mas pode estar relacionada a iniciativas que têm intensificado as notificações no Sistema de Informações em Saúde do Trabalhador (Sist), inclusive na rede particular.

Cada caso gera um Relatório Individual de Notificação de Agravo (Rina). Para evitar que alguma situação se perca nos registros, a Visat tem utilizado um procedimento chamado “busca ativa”, no qual os prontuários de atendimento são revisados um a um. “Já melhoramos muito com esse trabalho mais intenso em nossas unidades básicas e no hospital [Tacchini]. Ainda não é ideal, mas o sistema já está funcionando muito melhor”, afirma a médica coordenadora da Visat, Neice Muller Xavier Faria.

Doenças dificultam

Um dos constantes desafios para se tentar chegar a um índice cada vez mais próximo do real é a relação entre as doenças e a situação de trabalho. Nem sempre é possível estabelecer uma ligação mais específica de causa e consequência. “Quando lidamos com casos de urgência, como traumatismos e outros ferimentos, isso fica bem mais claro. No caso de doenças, temos que considerar a questão da multicausalidade, em que o trabalho é mais um dos fatores que podem contribuir, e nem sempre o trabalhador verbaliza isso. Por esse motivo, os dados de doenças ainda estão muito mais distantes da realidade”, explica Neice.

Trânsito preocupa

Por mais que setores como a construção civil e a indústria tenham um histórico de casos de acidentes de trabalho que os deixa sempre em estado de alerta, é o trânsito que Neice considera como uma das atividades mais preocupantes na cidade atualmente. Aqui, dois aspectos são levados em consideração: o primeiro diz respeito aos profissionais que atuam diariamente no trânsito, como motoristas e motoboys. O segundo é o deslocamento cotidiano para o local de trabalho, que também constitui uma situação de risco. “As mortes que vemos no trânsito, e não são poucas, são apenas a ponta do iceberg. Mas há também as sequelas de lesões causadas em muitos desses acidentes, que vão ter reflexos no futuro. E são problemas para o cidadão, sua família e para a empresa. Evitar esses acidentes tem que ser um interesse de todos”, completa a médica.

Prevenção e automação

Além da adoção de medidas preventivas, a automação de alguns processos industriais que antes exigiam envolvimento de mais funcionários também é um dos fatores que podem diminuir os riscos de acidentes, como no caso da Farina, fabricante de componentes automotivos. “No passado, tivemos um índice bastante alto, mas hoje nossa realidade mudou muito. Com os investimentos que a empresa fez em segurança e também através das mudanças de processos, reduzimos o número de acidentes e, principalmente, a gravidade deles”, explica o técnico de segurança Jorge Vagner Amaral dos Santos. A queda, de acordo com ele, beira os 90%. A indústria possui em seu quadro outros dois técnicos e um engenheiro de segurança no trabalho, além da atuação de dois médicos e três técnicos de enfermagem.

Em setores onde ainda há mais trabalho manual, segundo Santos, ações de proteção coletiva também são intensificadas, como a sinalização alertando para locais onde o perigo é mais constante. “Sempre fazemos inspeções para verificar a utilização dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Como o uso desse material geralmente provoca algum desconforto, trabalhamos com cinco fornecedores diferentes, para que o funcionário escolha o que for melhor para ele, mas não deixe de usar”, completa.

Fórum permanente

Ainda em setembro, deve ser criado o Fórum Permanente de Saúde e Segurança no Trabalho, grupo que contará com representantes de trabalhadores e empresas, além de órgãos como o Ministério Público do Trabalho, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Justiça do Trabalho. Além de reuniões mensais para debater o assunto, o Fórum também deverá oferecer aos seus participantes palestras com profissionais da área.

Os números

2012
Total: 2.225
Acidente de trabalho grave: 4
Exposição a material biológico: 27
Outros acidentes de trabalho: 2.187
Dermatoses ocupacionais: 1
Lesão por Esforço Repetitivo (LER)/Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho (Dort): 4
Outras doenças: 2

2013*
Total: 1.859
Acidente de trabalho grave: 1
Exposição a material biológico: 18
Outros acidentes de trabalho: 1.829
Lesão por Esforço Repetitivo (LER)/Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho (Dort): 7
Outras doenças: 4

Fonte: Vigilância em Saúde do Trabalhador (Visat)
*A digitação dos dados de agosto ainda está em andamento.

Reportagem: Jorge Bronzato Jr.


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