Mais do que um time, uma escola de rugby
Em 2009, envolto a uma realidade de muitos entusiastas do rugby, mas pouca ou nenhuma expertise, o Farrapos importou o uruguaio Carlitos Baldassari para desenvolver um grupo de jogadores e, com conceitos acima dos conhecidos pelos brasileiros, vencer jogos e campeonatos. A estratégia foi certeira. Desde então, o time acumulou cinco títulos consecutivos no Campeonato Gaúcho, conquistou a Copa do Brasil e gradativamente vem ascendendo no cenário nacional. Mais do que continuar vencendo, no entanto, o objetivo do Farrapos é consolidar-se como clube, e para tanto, Baldassari passou a ter, a partir deste ano, a ajuda de outro estrangeiro.
O argentino Maio Oliva (foto), 40 anos, trouxe na bagagem a experiência de mais de três décadas como jogador e treinador no rugby argentino, espanhol e italiano. Além de especialista em forwards (jogadores de 1 a 8), tem enraizada a cultura do esporte e conhece a didática para incorporá-la no Farrapos. A missão não será fácil. Na primeira comparação do rugby brasileiro para o argentino, Oliva foi bastante honesto. “Daquilo que pude observar e dos jogos que eu vi, acho que o nível do Brasil hoje é como era o da Argentina há 30 anos. Um treinador chega, vê quais atletas tem para treinar e, dependendo disso, faz o treinamento”, disse.
Para progressivamente encurtar essa distância, como coordenador técnico de todas as categorias do clube e treinador dos forwards, a primeira tarefa dentro das quatro linhas será tornar a equipe mais equilibrada entre forwards e backs. “Não se pode evoluir somente em uma parte do time, é preciso crescer como um todo”, afirma, enfatizando outra necessidade dentro de campo: evoluir fisicamente. “É outro grande problema que há no rugby brasileiro, os atletas não gostam tanto de treinar fisicamente. Mas é uma parte do trabalho que temos que fazer, todos vão melhorar se treinarem”, frisa.
Já fora das quatro linhas, o desafio será contribuir para um crescimento sustentável, começando pela base da pirâmide, as categorias menores. Oliva elogiou a estrutura do estádio da Montanha, sede dos treinos e jogos do Farrapos, mas indicou que a captação de novos atletas, bem como a consolidação das categorias de base, não passa necessariamente por uma boa estrutura. “Na Inglaterra – um dos principais polos do rugby mundial – há muitos campos, mas eles não têm necessidade de um grande espaço, porque se faz muito rugby na escola. Se usa a estrutura da escola. Depois, com 15 ou 16 anos, o atleta começa a trajetória no clube. Aqui, acredito que trabalhando na escola, trabalhando bem, formando treinadores bons, seguramente não será preciso muito tempo para alcançar um bom nível”, conta.
Mais do que quantidade, o desafio é fazer com que a pirâmide cresça com qualidade, e para isso Oliva também terá importância crucial no Farrapos. O argentino comandará um processo de formação de treinadores dentro do próprio clube, começando pelos jogadores mais velhos que, depois de “aposentados” como atletas, possam vir a ajudar o Farrapos na formação e renovação. “Ha bons jogadores de rugby no Brasil, mas não há tantos treinadores. Aqui no Farrapos, o Carlitos é de fora, o Javier (argentino jogador da equipe principal e treinador das categorias Infantil e Juvenil) também. O Farrapos esta começando a formar treinadores e isso para mim é fundamental. É outra maneira de melhorarmos o nível”, frisa.
Apesar da longa e desgastante tarefa que tem pela frente para desenvolver o esporte em um cenário quase que completamente amador, Oliva se expressa o tempo todo com animação e entusiasmo, o que pode parecer contraditório para um profissional que teve passagens vitoriosas em grandes centro do rugby mundial, consideravelmente mais desenvolvidos que o Brasil. O prazer e exultação do treinador, no entanto, estão justamente na possibilidade de ajudar a plantar uma nova semente do esporte que pratica desde os seis anos e que o ajudou a formar como profissional e ser humano. “A longo prazo, queremos fazer do Farrapos uma grande escola do rugby, estruturar de forma que os atletas que começam no Infantil passem pelo Juvenil e cheguem ao primeiro time, essa é a ideia. Para isso a gente precisa da ajuda de toda a comunidade, que todos saibam que o principal objetivo do Farrapos é formar boas pessoas, educar os jovens e depois, com o tempo, jogar. Aqui no Farrapos as pessoas estão pensando o tempo todo em melhorar, esse é o espírito do rugby e o que também me motivou a vir para o Brasil”, conclui.
Amistosos
O time comandado por Baldassari e Oliva segue a pré-temporada, que teve início no último dia 31, visando as disputas do Campeonato Gaúcho e Campeonato Brasileiro – Super 8. A estreia no Estadual está agendada para o dia 21 de março, contra o Centauros, no estádio da Montanha. O campeonato nacional, por outro lado, está previsto para iniciar no dia 27 de junho. A tabela ainda não foi divulgada. O time fará o primeiro amistoso no próximo sábado, dia 21, diante do Serra, a partir das 14h30, no estádio da Montanha. Outros dois testes estão agendados para o período de pré-temporada, ambos contra o Carlos Paz (ARG), nos dias 28 de fevereiro e 7 de março, em Estrela e Bento, respectivamente.
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