Mais um ano sem esgoto tratado

O anúncio de que Bento Gonçalves passaria a ter esgoto coletado e tratado foi recebido com bastante entusiasmo pela comunidade. Entretanto, o que há para comemorar é apenas o início das obras para assentamento de redes coletoras na bacia do Barracão, em setembro do ano passado. Na prática, o que está feito não é suficiente, uma vez que depende da existência de uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) para que os resíduos tenham a devida destinação.

A ETE, por sua vez, ainda não saiu do papel por questões burocráticas. A construção depende de liberações ambientais e assim que elas forem concedidas, o prazo é de 360 dias para conclusão. Ou seja, mais um ano vai passar sem que o município tenha de fato o prometido sistema de esgotamento sanitário operando.

“O esgoto é a nova barreira a ser vencida no Estado”, afirma o superintendente regional da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) na região Nordeste, Alexsander Cerentini Pacico. Poucos são os municípios que têm o sistema implementado no Rio Grande do Sul. Dados do Sistema Nacional de Informações de Saneamento, do Ministério das Cidades, mostram que apenas 11% do esgoto urbano é tratado no Estado. A Corsan trabalha com a projeção de que em 20 anos todo o Rio Grande do Sul seja saneado.

Em Bento Gonçalves as obras, em um primeiro momento, estão divididas entre duas grandes bacias hidrossanitárias: Barracão e Burati. A soma das duas totalizam o assentamento de mais de 60 quilômetros de redes coletoras. “Os trabalhos ocorrem paulatinamente para que não haja maiores transtornos na mobilidade da população”, observa. Para haver maior agilidade, as obras foram divididas em lotes. A etapa em andamento corresponde ao primeiro lote da bacia do Barracão. Os demais já estão em fase de licitação. A captação de recursos fica a cargo exclusivamente da Corsan. Com a conclusão das duas grandes bacias, ainda restarão intervenções a serem feitas na bacia do Vale dos Vinhedos, as quais não têm previsão de início.

Processo inverso

A ETE Barracão está orçada em R$ 6,6 milhões. A previsão da Corsan é que a estrutura possa começar a ser construída até o final do ano. Pacico explica que, em função das liberações ambientais, está sendo realizado o processo inverso na Bacia do Barracão. “Normalmente a ETE é construída primeiro, para que, à medida que as redes coletoras forem sendo implantadas, já possam ser conectadas”, esclarece. Para as obras na Bacia do Burati, a intenção é iniciar os trabalhos pela ETE. “Caso também enfrentemos problemas com liberações ambientais, iniciaremos pela colocação das redes coletoras”, comenta.

Bacia do Burati

No final de 2011, o prefeito Roberto Lunelli assinou mais um contrato com a Corsan, na ordem de R$ 48,9 milhões. O valor será aplicado na implantação do sistema de esgotamento do município compreendendo redes coletoras e ligações prediais na bacia do Burati, juntamente com cinco estações elevatórias e uma estação de tratamento. A obra em operação elevará o percentual de cobertura de esgoto para 54%. Os trabalhos estão em fase de apresentação de projetos para posterior lançamento dos editais. A expectativa é que iniciem até o final do ano.

Saiba mais

Em março de 2010, quando a prefeitura de Bento renovou o contrato com a Corsan por 25 anos, uma das cláusulas foi a implantação do sistema de tratamento de esgoto no município. Na ocasião, o Plano Municipal de Saneamento (PMSA), elaborado na metade de 2009, foi transformado em lei. O documento traça metas para coleta e tratamento de esgoto e previa que até o final de 2011 o serviço deveria atingir 20% das residências do município. Para este ano, o percentual estimado é de 30%. Em 2013 e 2014 as metas estabelecem 60% e 65%, respectivamente. O possível atraso no cumprimento das metas já havia sido noticiado pelo SERRANOSSA em maio do ano passado. Apesar disso, o secretário de Gestão Integrada e Mobilidade Urbana, Heber Moacir dos Santos, que também é presidente do Conselho Deliberativo do Fundo de Gestão Compartilhada, seguia otimista, dizendo que seriam antecipadas as metas, já que a obra completa abrangeria mais do que a porcentagem estimada para cada ano.

Desafio da conscientização

O desafio para coletar e tratar o esgoto em Bento Gonçalves vai além da realização de obras para construção de Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) e redes de coleta. O maior entrave que o município deve enfrentar é como fazer com que a população ligue sua residência à rede de coleta.  Isto porque a adesão ao serviço representa um aumento de 70% na conta de água. Na prática, isso significa que, se uma família gasta R$ 30 por mês com água, aderindo ao serviço de coleta e tratamento de esgoto, a conta saltaria para R$ 51. O impasse ocorre porque ninguém é obrigado a fazer esta ligação da residência à rede de esgoto. Para isso a Corsan realiza, paralelamente às obras para assentamento das redes, um trabalho de conscientização com as famílias residentes nos bairros onde as intervenções estão sendo realizadas. O custo deste trabalho é de R$ 659 mil.

Aumentar a capacidade

Paralelamente às obras de esgotamento sanitário, a Corsan também realiza obras para melhorar o abastecimento de água no município. Há 25 anos, 80% da água de Bento Gonçalves vem do arroio Burati. Estão sendo realizadas obras para aumentar a capacidade de adução. As obras já iniciaram e tem previsão e conclusão em 360 dias, com investimento é de R$ 3,7 milhões. O objetivo é fazer frente ao crescimento de Bento e preparar o município para que não haja problemas com a estiagem no futuro.  

 

Carina Furlanetto

 

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