Márcia Tafarel projeta carreira nos Estados Unidos

Atleta bento-gonçalvense que mais próxima esteve de uma medalha olímpica, Márcia Tafarel voltou à sua cidade natal, porém, apenas para passar as festas de final de ano com familiares e amigos. Desde 2004 nos Estados Unidos, a ex-volante da Seleção Brasileira, 45 anos, almeja continuar galgando degraus como treinadora em um dos principais polos do futebol feminino no mundo.

Se dentro de campo Brasil e Estados Unidos normalmente protagonizam disputas acirradas, fora das quatro linhas a realidade do esporte é totalmente distinta nos dois países. Nos Estados Unidos, há clubes nos 50 estados, onde as meninas começam a praticar o esporte a partir dos oito anos. O futebol feminino, assim como outras modalidades, também é encarado como um atalho por alguns jovens que almejam entrar nas universidades. Com o talento, são atraídos pelas equipes das faculdades e garantem bolsas de estudo. No Brasil, apesar da ascensão da Seleção desde a década de 90, o esporte ainda sofre com uma estrutura deficiente e falta de apoio e visibilidade. Recentemente, duas jovens jogadoras brasileiras se mudaram para os Estados Unidos por conta da falta de oportunidades no Brasil. Lá, rapidamente foram chamadas para integrar as seleções de base.

Márcia chegou a ensaiar alternativas fora das quatro linhas para quando pendurasse as chuteiras, mas a partir do momento em que conheceu um lado até então utópico da modalidade, não teve dúvidas do que faria na nova vida pós-jogadora. “Eu treinava uma equipe de futebol de salão em São Paulo e fazia faculdade de gerenciamento em Turismo e Hotelaria, quando fui convidada pela minha ex-colega de Seleção, Sissi, para passar alguns meses nos Estados Unidos e aprender inglês. Minha prioridade era ficar 60 ou 90 dias, mas quando conheci a estrutura deles e acompanhei alguns jogos das equipes que a Sissi treinava, mudei de ideia e pensei: é isso que eu quero para a minha vida. Abandonei tudo em São Paulo e resolvi trabalhar com o futebol nos Estados Unidos. Agora, pretendo continuar fazendo os cursos que a federação exige para um dia ser treinadora de nível A”,”, relata a ex-jogadora, que vem se especializando para alcançar a graduação máxima e, assim, ter a credencial para comandar equipes adultas nos principais campeonatos do país. Atualmente, ela treina equipes de base do Diablo Futbol Club, da Califórnia, e possuí a licença de nível C.  

Márcia disputou as Copas de 1991, na China; e 1995, na Suécia. Em 1996, participou das Olimpíadas de Atlanta, cuja performance brasileira é considerada um marco para o futebol feminino no país. A equipe embarcou a Atlanta desacreditada por parte da própria CBF, que chegou a agendar passagens para o vôo da volta após a última rodada da primeira fase. Acabou, no entanto, enfrentando um problema de logística. Depois de um surpreendente empate em 1 a 1 com a Alemanha, as brasileiras se classificaram para as semifinais, quando acabaram derrotadas pela China e encerraram os Jogos na quarta posição. Foi a primeira equipe que deu protagonismo ao futebol feminino do Brasil. Se a realidade ainda não é a ideal, a partir daquele resultado as atletas passaram a ser mais assediadas pela imprensa e, por consequência, mais reconhecidas. Um dos principais legados daquele desempenho foi o início da transmissão de jogos do Campeonato Paulista pela TV Bandeirantes. A CBF, por sua vez, não conseguiu remarcar outro vôo comercial e teve que encaixar a equipe feminina no mesmo vôo fretado da seleção masculina.

Em Bento Gonçalves, em 2013, foi promovido pela primeira vez um Campeonato Municipal de Futsal Feminino. Oito equipes e mais de 50 jogadoras disputaram o torneio, sobretudo uma porta de entrada para praticarem a modalidade, seja por hobby ou para se aperfeiçoarem. Com uma oportunidade, nada impede que trilhem o mesmo caminho da conterrânea mais famosa no esporte. “Eu jogava futebol com os meninos, na rua, quando minha mãe me levou para o Bento Atlético Futebol Feminino, aos 13 anos. No primeiro treino, o técnico disse: essa menina tem potencial. Um tempo depois, o Bento Atlético foi adotado pelo Esportivo, chegamos a disputar campeonatos regionais e estaduais. Com 17, 18 anos, fui convocada para jogar um interseleções, em Campinas, pela Seleção Gaúcha, e lá recebi um convite para atuar em uma equipe local. Foi então que iniciei toda a minha trajetória em São Paulo, onde também joguei em clubes como o Palmeiras, Corinthians, São Paulo e outros. Eu estava comentando com o meu irmão, sobre haver um campeonato para as meninas, assim como na minha época. Esse Citadino já é alguma coisa, pode ser um começo para revelar talentos e motivar muitas a seguir uma carreira”, ressalta.

 

É proibida a reprodução, total ou parcial, do texto e de todo o conteúdo sem autorização expressa do Grupo SERRANOSSA.

Siga o SERRANOSSA!

Twitter: @SERRANOSSA

Facebook: Grupo SERRANOSSA

O SERRANOSSA não se responsabiliza pelas opiniões expressadas nos comentários publicados no portal.