Maria Fumaça: maquinista revela amor pelo trabalho
Enquanto os 320 passageiros acompanham a tarantela tocada pelo sanfoneiro, com o bater animado de palmas e pés, na locomotiva o maquinista Juliano Agostini de Morais leva nos lábios um sorriso de satisfação. Não é para menos, afinal, é ele o anfitrião da festa diária sobre os trilhos, no trecho entre Bento Gonçalves, Garibaldi e Carlos Barbosa.
No comando da Maria Fumaça há oito anos, Morais garante viver um constante momento de realização. O desejo de ser maquinista surgiu na infância – foi ouvindo as histórias do falecido pai, o mestre de linha Doraci Arruda de Morais, que o menino decidiu qual rumo tomaria na vida. “O pai era responsável pela manutenção da ferrovia. Às vezes, ele me trazia para a estação e eu ficava olhando, curioso, a locomotiva. Eu pensava ‘como deve ser legal comandar esse trem’”, recorda.
Aos 16 anos, Morais foi contratado pela Giordani Turismo como auxiliar de serviços gerais. Depois, foi foguista (colaborador cuja função é alimentar a caldeira) por três anos. Em seguida assumiu e posto de auxiliar de maquinista. Por fim, foi promovido, quando o então maquinista se aposentou. Atualmente, dois profissionais se revezam na tarefa de conduzir as duas locomotivas da empresa, uma fabricada na Alemanha e outra, nos Estados Unidos.
Na rotina diária sobre os trilhos, poucos imprevistos surgiram. Em oito anos, aconteceram apenas dois acidentes. “Tivemos uma colisão com um carro na passagem de nível nas proximidades do bairro Botafogo e outra em Garibaldi, próximo ao acesso à cidade. E olha que eu sempre apito. Alguns moradores até reclamam que apito demais”, diz.
O gosto pela profissão é tanto, que o maquinista mora a 100 metros da estação férrea. Sempre que pode, ele leva a esposa e os dois filhos para passearem de Maria Fumaça. O mais novo, Emanuel, de 3 anos, faz Morais recordar os sonhos de criança. “Ele é apaixonado pelo trem. Diz que vai ser maquinista”, conta o pai, orgulhoso.
Curiosidades
*A Estação Ferroviária de Carlos Barbosa foi a primeira a ser inaugurada na região, em 1908.
*Em 7 de setembro de 1918, foi inaugurado o trecho Carlos Barbosa/Garibaldi.
*O trem chegou a Bento Gonçalves no ano seguinte, no dia 10 de agosto de 1919.
*O ramal ferroviário até a plataforma de Carlos Barbosa foi reativado em 5 de junho de 1993, com finalidade turística.
*O trecho do passeio, ida e volta, corresponde a 46km.
*A cada viagem são consumidos 6.000 litros de água e 7m³ de lenha de acácia.
No Estado
Segundo o Sindicato dos Ferroviários do Rio Grande do Sul (Sindifergs), o piso salarial dos maquinistas que atuam no Rio Grande do Sul é de R$ 1 mil. Sobre esse valor, o profissional recebe 30% de adicional por periculosidade e 29% de adicional por revezamento de turno.
Existem cerca de 300 maquinistas de transporte de carga em atividade.
Até 1957, as estradas de ferro gaúchas pertenciam ao governo estadual. Depois, passaram a ser administradas pelo governo federal.
Em 1997, a malha férrea brasileira foi privatizada. Desde então, a região Sul do Brasil está sob a jurisdição da empresa América Latina Logística (ALL).
Reportagem: Priscila Boeira
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