Medalha de ouro para a vergonha

As pessoas adoram citar a “síndrome do vira-lata” quando confrontadas sobre as misérias de nosso país. Os comparativos sempre foram eficazes aos medíocres. Você nunca encontrará grandes pensadores dizendo algo tipo: “Ah, mas lá no lugar tal é pior do que aqui”. A comparação para fins de consolo próprio é nada mais que a ferramenta favorita aos que são preguiçosos demais para qualquer mergulho em algo além das desculpas.

Nunca conheci alguém sensato que desse apoio à Olimpíada ser realizada no Brasil, mas diante dos últimos fatos, tenho visto as enormes vantagens em sediarmos esse evento que faz o mundo voltar os olhos para cá. Pela primeira vez meus amigos “da gringa”, os caras que mal conheciam nosso país, hoje podem perceber a nossa verdadeira face. Quando recebo matérias pelo celular seguidas da pergunta “Isso é mesmo real?”, respondo com um prazer indescritível: Sim, esse é o país que vivo.

Algumas pessoas dizem que não devemos nos rebaixar e questionam como alguns podem afinal ficar “orgulhosos” com o que é dito de horrível de nosso país. Bem, apenas um tipo de pessoa pode se sentir ofendida com as críticas feitas a esse que é o verdadeiro Brasil: as culpadas.

Não me doem as diversas nações rindo de nossa situação, não me doem as humilhações que estamos passando no exterior. Nada disso surte efeito em mim e naqueles que, ano após ano, vivenciaram os absurdos desse país: os mortos em filas de hospital, as crianças passando fome em escolas, os professores sendo tratados como lixo e os políticos roubando vidas. Nós, os realistas, somos imunes às críticas que vêm de fora e que fazem do brasileiro uma piada no mundo inteiro. Nós nunca negamos – nem a nós mesmos – o que nessa terra nefasta repousa.

Pode o vira-lata ter a síndrome do vira-lata? Claro que não. A história do Brasil se escreveu com sangue inocente, nem as guerras que lutamos são motivo de orgulho. Aos que desejam saber um pouco de nossa suja história procurem aí informações sobre, por exemplo, os “voluntários da pátria”.

Essa não é uma terra de santos, é uma terra manchada por sangue e hipocrisia. Não é uma síndrome de vira-latas que nos assola, pois somos nós os próprios cães que aceitam, década após década, o massacre da próxima geração, assim, sucessivamente, sem respiro ou consideração, sem indignação suficiente que nos faça sair da frente da TV, sem ânimo suficiente para sustentar a mentira do: “Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”.

O Carnaval financiado pelo tráfico de drogas, o futebol nas mãos da entidade mais corrupta do planeta. Aqui policial é visto como bandido e bandido é visto como vítima da sociedade. Aqui deputado que desvia dinheiro da merenda se reelege e obras inacabadas que custam 10 vezes mais que em outros lugares são dadas como símbolo de um país que faz.

A olimpíada nem começou e o Brasil já foi eleito o mais atrasado país a receber os jogos, nunca tantas delegações reclamaram tanto, nunca tantos atletas se sentiram tão ameaçados. Basta buscar as notícias para enxergarmos que não é complexo de vira-lata, é a realidade de sermos o próprio vira-lata. Mas pelo menos agora o mundo sabe de verdade quem somos e da porcaria de país que construímos.

Falso amor ao Brasil. Nisso nós somos campeões.