Médica de Bento explica infecções por bactérias hospitalares

A infecção por bactérias hospitalares, resistentes a antibióticos, foi declarada uma das maiores ameaças à saúde pública há anos. Durante a pandemia da COVID-19, entretanto, as ocorrências tiveram um aumento expressivo, ocasionando milhares de óbitos em todo o mundo. Nas últimas semanas, moradores de Bento utilizaram as redes sociais para comentar sobre um possível surto no Hospital Tacchini, o que levou o SERRANOSSA a buscar esclarecimentos sobre essas ocorrências. 

Conforme a infectologista da instituição de saúde, Nicole Golin, a situação já era preocupante antes da pandemia. Previsões da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgadas em 2019 apontaram que até 2050, considerando o cenário mais drástico, a chamada resistência microbiana (doenças causadas por germes resistentes a antibióticos) resultaria na morte de 10 milhões de pessoas anualmente. “Hoje, acredita-se que pelo menos 700 mil pessoas morrem por ano devido a essa resistência microbiana”, revela a infectologista. 

Durante a pandemia, Nicole explica que o longo período de internação em unidades de terapia intensiva (UTIs), “o que é sinônimo de instabilidade clínica e uso de diversos dispositivos invasivos”, explica a alta incidência de infecções bacterianas secundárias em pacientes que contraíram a COVID-19. “Situações que já ocorriam antes da pandemia nas UTIs de todo o país tornaram-se ainda mais frequentes com a necessidade de aumento no número de leitos críticos, muitas vezes de forma emergencial e em locais nem sempre considerados os mais adequados para esse tipo de cuidado”, comenta. “Além desses fatores, o uso muitas vezes desnecessário de antibióticos também contribui para o aumento dessa resistência microbiana”, complementa. 

Com base nessas ocorrências recorrentes de infecções bacterianas, a OMS publicou em maio um guia para tratamento da COVID-19 no qual, entre outros pontos, recomendou a não utilização dos antibióticos no tratamento da doença em casos suspeitos ou leves. “Mesmo para casos moderados, a entidade indicou que o uso só deve ser feito após indícios de uma infecção bacteriana estabelecida”, destaca Nicole. 

Há algumas semanas, a secretaria estadual de Saúde enviou aos hospitais e unidades de saúde do RS um manual para “prevenção de infecções por microrganismos multirresistentes em serviços de saúde”. O documento, elaborado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), apresenta recomendações elaboradas por um grupo de especialistas brasileiros, com base em publicações científicas nacionais e internacionais e em experiências práticas de trabalho. Entre as recomendações, está a aplicação das medidas de precaução em todos os pacientes, independentemente de estarem infectados ou não. “Elas assumem que todas as pessoas estão potencialmente infectadas ou colonizadas por algum patógeno que pode ser transmitido no ambiente de assistência à saúde e devem ser implementadas em todos os atendimentos, independente do diagnóstico do paciente”, diz o documento. 

Sobre as medidas para controle de surtos ou prevenção de disseminação de microrganismos multirresistentes, o documento cita a alocação dos pacientes em quarto privativo, aventais exclusivos e descartáveis, coorte de pacientes e profissionais (separação por sintomas e área de atuação), entre outras.