Médicos de Bento explicam motivos que levaram à flexibilização do uso de máscara em crianças

Entre os argumentos sustentados por estudos mundo afora, profissionais falam sobre a menor capacidade de disseminação do vírus pelo público infantil e os problemas cognitivos, sociais e psicológicos que a máscara pode provocar

Foto: Izzy Park/Unsplash

Com base na adoção de novas medidas relativas à pandemia no Rio Grande do Sul, a prefeitura de Bento Gonçalves publicou na segunda-feira, 28/02, o decreto 11.138/2022, que flexibiliza a utilização de máscara de proteção para o público infantil. A partir dele, o uso do equipamento para menores de 12 anos deixa de ser considerado protocolo obrigatório.

De acordo com o documento, não é recomendado o uso da máscara para menores de dois anos; para menores de seis anos é desaconselhado; entre seis e 11 anos é recomendado (não obrigatório); e a partir de 12 anos é obrigatório. A medida segue as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), e tem como embasamento pontos como o avanço da vacinação no público infantil e a dificuldade de manuseio da máscara entre as crianças. “A gente sabe que crianças menores têm dificuldade de fazer a utilização correta da máscara, então acaba tendo uma não efetividade do uso nessa faixa etária”, comenta a secretária municipal de Saúde, Tatiane Fiorio.

Mas conforme o médico otorrinolaringologista Jaime Arrarte, os estudos que levaram à adoção da não exigência do uso de máscaras em crianças vão além da dificuldade de manuseio. Entre eles está a constatação de que o público infantil tem menor potencial de transmissibilidade do vírus. “O que se viu nesses dois anos de pandemia, é que as crianças não parecem ser reservatórios naturais para o vírus. Elas têm menos receptores de ligação na membrana celular para o Sarscov-2, quando comparadas a adolescentes e adultos. Além disso, boa parte dos adultos atualmente está vacinada”, analisa o médico.

Outro argumento ressaltado pelo profissional diz respeito aos malefícios no desenvolvimento das crianças. “Já estão aparecendo fortes evidências de problemas cognitivos, sociais e psicológicos do seu uso”, comenta.

A fala é complementada pela médica geriatra e paliativista do município, Tamara Zaro Chiele, que também é membro do grupo “Lugar de Criança é na Escola RS”. “As crianças da pandemia estão apresentando déficit de cognição, de expressão e menor número de palavras faladas”, revela. “Minha opinião como médica é que não existe benefício algum em crianças usarem máscara. Nenhum de saúde. E muitos malefícios se considerarmos questões psicológicas, educacionais e de desenvolvimento”, sustenta.

Em um estudo da Brown University, publicado em novembro do ano passado, foi analisado o desenvolvimento cognitivo do público infantil durante a pandemia. O relatório apontou que houve uma queda de 23% nas pontuações que medem os quocientes de inteligência das crianças desde o início da pandemia. O estudo também encontrou quedas semelhantes no mesmo período em relação ao desenvolvimento da capacidade de comunicação das crianças, tanto verbalmente quanto por meio de sugestões faciais sutis.

“Antes de ser médica, eu sou mãe. Cansada. Exausta com esta hipocrisia esquizofrênica da nossa sociedade. Carnaval sem máscara, festas em casas noturnas na cidade toda a semana, também sem máscaras. Estou tentando resgatar os direitos individuais dos meus filhos, que até o momento são os maiores prejudicados, assim como das demais crianças do planeta”, desabafa Tamara.

Para o médico Jaime Arrarte, as máscaras devem ser utilizadas em situações específicas, como em crianças com sintomas gripais, “cuja a melhor orientação seria que ficassem em casa até melhorarem, estratégia que já era utilizada na era pré-pandemia da COVID-19”, finaliza.

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