“Minha disposição para trabalhar é trabalhar”

Quem vê Zeferina Maria Fronza pode ter dificuldade em acreditar que ela esteja prestes a completar 72 anos. A disposição para o trabalho, o jeito leve de levar a vida e a aparência bem cuidada (o segredo é não abrir mão do creme antirrugas diariamente, rotina que segue há mais de três décadas) parecem rejuvenescê-la. “Todo mundo diz que não aparento a idade que tenho”, conta. Mesmo aposentada há 12 anos, ela segue na ativa no setor de limpeza da Farina, empresa do ramo metalúrgico onde ingressou em outubro de 1984. “Minha disposição para trabalhar é trabalhar. Se eu tenho pouco serviço, me faz mal. Não gosto de ficar parada. Tem que ser um serviço mais agitado, manter a cabeça ocupada. Não gosto de ficar esperando a hora passar”, confessa. 

Natural da linha Burati, ela veio para a cidade quando casou, há 51 anos – já é viúva há nove. Ela ingressou na Farina quando tinha 39 anos, foi seu primeiro emprego com carteira assinada. Antes disso, fez faxina em casas por duas décadas e também teve uma curta passagem pela linha de produção de uma empresa do ramo alimentício. Ficou sabendo da vaga por indicação de uma vizinha e está ali até hoje. Quase sempre trabalhou no mesmo setor – com exceção de um período de um ano e oito meses na macharia (setor responsável pela confecção de moldes de areia). “Quando eu trabalhei lá, as gurias adoravam porque eu animava todo mundo. Eu sempre inventava uma piada e então as horas passavam ligeiro”, lembra. 

A jornada de Zeferina inicia às 5h30 e se estende até as 15h18, com intervalo de uma hora para o almoço. Nesse período, além de comer no refeitório da empresa, ainda consegue ir até sua casa (fica a menos de dois minutos do serviço) para deixar pronta a comida para a filha e a neta que moram com ela. “É um horário que eu gosto de fazer. É melhor porque eu vou para casa cedo de tarde. De manhã não me importo de levantar cedo. No verão essa hora é mais fresquinho e quando está aquele calorão já estou em casa”, explica. 

Enquanto a empresa permitir e o corpo tiver condições de seguir ativo, ela não pretende parar. “Até que tenho saúde pretendo ficar”. Aos 60 anos, Zeferina aposentou-se por idade, mas, com o consentimento da empresa, optou por continuar no emprego. Ao longo desses anos, acompanhou as transformações da empresa e também as mudanças ocasionadas pela crise econômica. Hoje, em seu setor, são apenas duas pessoas. “Não tenho queixa de ninguém. Sempre me dei bem com todos os colegas aqui dentro. Nunca tive atrito com ninguém, nunca fui chamada no RH. Não gosto de discutir. Quando éramos 11 no setor, se tinha duas discutindo eu me mandava”, relata.

O ritmo frenético de afazeres é mantido também nas tarefas domésticas. Ela descansa somente no final da tarde, quando gosta de relaxar assistindo novelas na companhia da neta, que aproveita para lhe mostrar novidades pela tela do smartphone. Para não ficar ociosa aos finais de semana – ela não gosta de acordar e não ter nada para fazer – Zeferina deixa para lavar a calçada aos sábados, mesmo sabendo que a tarefa poderia ser executada ainda na sexta-feira junto ao restante da faxina mais pesada. 

Seu descanso normalmente inicia no sábado à tarde, quando gosta de assistir televisão, sair para comer com as amigas ou até mesmo passear para fazer compras com a cunhada, seja em Bento ou nas cidades vizinhas. Ao sair de casa, ela não dispensa um batom, um lápis de olho e procura manter o cabelo bem penteado. “Eu já fui muito vaidosa. Uma vez para sair de casa eu tinha que me olhar várias vezes no espelho. Agora eu larguei um pouquinho, mas não tanto. Gosto de sair bem arrumada”, comenta. 

Zeferina não gosta de tomar remédios. O único de que eventualmente precisa fazer uso é algum analgésico para as dores de cabeça, que ocorrem quando exagera no jantar no dia anterior. Se depender da sua saúde, espera ter ainda muitos anos de trabalho pela frente. “Eu não quero parar. Eu vejo que quem fica só em casa está velho, doente. Quem ficou em casa depois que aposentou está meio caquético. Eles ficam parados, não se mexem, dói aqui, dói lá”, finaliza. 

Esta é a 34ª reportagem da Série “Vida de…”, uma das ações de comemoração aos 10 anos do SERRANOSSA e que tem como objetivo contar histórias de pessoas comuns, mostrando suas alegrias, dificuldades, desafios e superações e, através de seus relatos, incentivar o respeito. 

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