Ministério da Educação anuncia suspensão do Novo Ensino Médio

De acordo com o ministro da Educação, Camilo Santana, as escolas que começaram a implementar o novo formato de ensino vão continuar com o processo

Foto: Rovena Brasil/Agência Brasil

O ministro da Educação, Camilo Santana, anunciou, na terça-feira, 04/04, que o Ministério da Educação (MEC) vai suspender o cronograma de implementação do Novo Ensino Médio.

O anúncio feito por Santana ocorreu durante uma entrevista em Brasília. O ministro também afirmou que vai assinar, nesta semana, uma portaria prevendo a suspensão.

“Hoje estou assinando uma portaria – já na segunda-feira [03/04] eu tinha anunciado na imprensa em entrevista que dei – que nós vamos suspender a portaria 521, que aplica o cronograma de aplicação do Novo Ensino Médio”, afirmou o ministro.

A portaria 521 de 13 de julho de 2021 que será suspensa, foi publicada durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e estabelece prazos para que políticas nacionais e avaliações, como o Enem e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), sejam modificadas pelas diretrizes do Novo Ensino Médio.

Justificativa

De acordo com Santana, a decisão de suspender o Novo Ensino Médio é, principalmente, por conta do Enem.

“Porque o Novo Ensino Médio previa que em 2024 nós tivéssemos um novo Enem. Como há ainda esse novo processo de discussão, nós vamos suspender essa portaria para que, a partir dessa finalização dessa discussão, a gente possa tomar as decisões em relação ao Ensino Médio”, completou Camilo Santana.

O ministro ressaltou ainda que a medida anunciada na terça-feira não interfere no Enem deste ano. Além disso, ele também esclareceu que as escolas que já começaram a implementar o Novo Ensino Médio vão continuar com o processo.

“Nós vamos apenas suspender as questões que vão definir um novo Enem em 2024 por 60 dias. E vamos ampliar a discussão. O ideal é que, num processo democrático, a gente possa escutar a todos. Principalmente quem está lá na ponta, que são os alunos, os professores e aqueles que executam a política, que são os estados”, declarou o ministro.

Opiniões divididas

Proposto pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), o Novo Ensino Médio foi aprovado pelo Congresso em 2017. É um novo modelo obrigatório a ser seguido no Ensino Médio por todas as escolas do país, sejam elas públicas ou privadas.

O empresário e apresentador de TV Luciano Huck criticou, na segunda-feira, 03/04, a ideia de revogação do Novo Ensino Médio.

“O Novo Ensino Médio deveria estar acima de diferenças ideológicas. Mesmo com difícil implementação, não faz sentido retroceder à estaca zero. O esforço para oferecer uma escola mais atrativa para os alunos e conectada com as suas expectativas de vida e carreira deve ser permanente”, escreveu Huck.

Já o influenciador digital Felipe Neto diz que a reforma deve ser totalmente revista pelo Ministério da Educação (MEC).

“O Novo Ensino Médio não deve ser suspenso, deve ser revogado. O projeto, que é uma desgraça, não foi criado para agradar aos educadores ou aos alunos”, escreveu nas redes sociais.

O Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (CPERS), sindicato que defende os professores, bem como grande parte dos estudantes do país, também são contra o Novo Ensino Médio e, portanto, defendem a revogação.

As mudanças

Em Bento Gonçalves, as escolas da rede estadual de ensino já estão tendo as aplicações do Novo Ensino Médio, segundo o Coordenador da 16ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Alexandre Misturini.

“A partir deste ano, os alunos possuem a possibilidade de escolher as eletivas que farão, complemento no seu currículo. São oito eletivas, duas para cada área do conhecimento. Estas serão um completivo na formação do educando. Os conceitos trabalhados conversam com a atualidade”, explica.

A reforma do Ensino Médio é um a mudança no formato do Ensino Médio, ou seja, do 1º, 2º e 3º ano, aprovada em 2017.

Com a mudança, cerca de 60% da carga horária passa a ser de conteúdos obrigatórios comum a todos, como Português, Matemática e Química, enquanto o restante, 40%, é a parte flexível, com disciplinas optativas segundo o interesse do aluno ou uma formação técnica.

A previsão era de que a mudança deveria ser implementada nas escolas a partir de 2022. Significa que, neste ano, há turmas já inseridas no Novo Ensino Médio. Alguns Estados, como São Paulo, iniciaram a oferta de percursos optativos ainda em 2021.