MMA: vencedor dentro e fora do octógono
Cinco lutas no MMA e cinco vitórias. A última delas, ocorrida no sábado, dia 17, quando bateu Willian “Coiote” por pontos. A luta foi considerada a melhor do Mega Fight 7.0. Aos 17 anos, já era campeão Gaúcho, Brasileiro, da Copa do Brasil e vice-campeão Mundial de Muay Thai. Esse é o currículo do lutador Felipe Lavandowski. Mas a história do jovem bento-gonçalvense de 22 anos é bem mais ampla do que conta seu cartel de lutas.
Apelidado de “Grilo” pelos companheiros da Garra Team em função do baixo peso e da agilidade, o bento-gonçalvense pode se considerar um vencedor não apenas nos tatames, octógonos ou ringues, mas também na vida. Depois de 18 meses internado em uma fazenda para recuperação de dependentes químicos, em Triunfo, ele retornou para Bento Gonçalves no início do ano decidido a mudar e tem encontrado nas artes marciais a força para manter-se livre das drogas.
O início
Grilo começou a lutar jiu-jítsu com oito anos, mas foi treinando Muay Thai, aos 14, que começou a se destacar. “Desde pequeno tinha o sonho de ser lutador ou militar. Então meus pais me colocaram na academia”, lembra. Aos 15, fez sua primeira luta profissional de Muay Thai e venceu um oponente dez anos mais velho. “Não lembro o nome dele. Só sei que estava muito nervoso. Acabei vencendo por pontos. Depois, quando ele pediu revanche, me preparei melhor e o nocauteei no primeiro round”, completa.
Foi aos 15 anos também que o lutador conheceu seu adversário mais forte: a droga. Ainda no colégio, experimentou a maconha por intermédio de colegas. “Queria me enturmar, mas acabei encontrando os parceiros errados”, descreve. Com o tempo, passou a usar cocaína e aos 18 anos caiu no crack. A ascensão no mundo das artes marciais deu lugar aos problemas pessoais.
Depois que sua família descobriu o vício, Grilo começou a frequentar grupos de apoio, mas mesmo assim não conseguia ficar longe das drogas por mais de alguns meses. Foi então que, aos 20, internou-se em uma fazenda de reabilitação, em Triunfo. Lá, mudou de vida. Longe das companhias ruins, ele aprendeu a controlar a dependência química. “Lá nos baseamos muito nos 12 passos dos Alcoólicos Anônimos e no tripé formado por trabalho, oração e disciplina”, conta.
Velho sonho, nova esperança
Depois de um ano e meio de tratamento, Lavandowski voltou para Bento Gonçalves em janeiro deste ano. De lá para cá, retornou aos treinos no Garra Team e venceu as duas lutas de MMA que disputou. Além disso, as artes marciais também lhe renderam outros frutos. Há oito meses, ele namora a porto-alegrense Inagiara Oliveira, lutadora de Muay Thai, que no Mega Fight 7.0 venceu Carolina Karasek por pontos.
Com a volta a Bento Gonçalves, Grilo retomou também seu velho sonho de ser lutador profissional. Enquanto trabalha de motoboy na empresa de seu pai, Moacir Lavandowski, e treina diariamente, ele pensa no dia em que terá patrocínios suficientes para viver de MMA. “Quero comer o que um lutador come. Quero acordar de manhã e pensar apenas em qual será meu treinamento hoje. Viver disso é meu maior sonho”, descreve.
A vitória no último Mega Fight fez Grilo ser reconhecido nas ruas. A reação das pessoas ainda causa surpresa ao lutador. “Outro dia, por exemplo, estava saindo do banco e um cara que nem conhecia parou o carro para me parabenizar pela luta. Isso é muito legal. Não esperava”, relata. O reconhecimento também chegou dentro de casa, com os elogios do irmão Lucas, de nove anos. “Para ele, eu sou um super-herói”, completa o sorridente lutador.
Coca-cola
O combate de Felipe Grilo contra Willian Coiote foi marcado essencialmente pelo boxe. Nenhum dos lutadores propôs-se a levar a luta para o chão ou mesmo arriscar chutes. Durante 15 minutos, eles trocaram socos incessantemente. Isso rendeu, além da vitória, 15 pontos no rosto do bento-gonçalvense. O outro lutador precisou de nove. Mas antes mesmo do anúncio do vencedor, ambos se abraçaram e firmaram a aposta: “quem for declarado vencedor, paga a coca-cola”, combinaram. “É o esporte. Dentro do octógono você tem que tirar o couro do adversário. Depois, volta a ser amigo”, diverte-se.
O estilo agressivo é uma marca de Grilo no octógono. E a inspiração está em seu mestre, Eduardo Virissimo. “O Duda sempre me diz que temos que ser espartanos, andar para frente e sempre começar batendo. Eu faço isso e está dando certo”, avalia. Os conselhos de Virissimo durante a luta nem sempre são seguidos, mas o lutador lembra que a importância do mestre em sua vida ultrapassa o limite das artes marciais. “Ele hoje para mim é um segundo pai e a academia é minha segunda casa”, completa.
Reportagem: Alexandre Brusa
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