‘Modus Operandi’ de criminosos dificulta trabalho da Polícia Civil

Em Bento Gonçalves já foram registradas três ocorrências do tipo neste ano, contra oito em todo o ano passado, mas nenhuma investigação está em curso no município

Foto: Polícia Civil

Uma grande operação da Polícia Civil contra abigeato no último dia 07/04 nos Campos de Cima da Serra chamou a atenção dos gaúchos. Seis pessoas foram presas, suspeitas de, pelo menos, sete furtos de grandes proporções, que totalizaram 198 cabeças de gado. Os mandados de busca e apreensão foram cumpridos em nove locais, entre propriedades rurais, residências e estabelecimento comercial nos municípios de Bom Jesus, São Francisco de Paula e Caxias do Sul. Segundo o delegado de Bom Jesus, Ancelmo Carvalho Camargo, os criminosos agem em diversos municípios da região, subtraindo verdadeiras tropas de gado. No curso das investigações, foram apreendidas e recuperadas 64 cabeças de gado.

Entretanto, são raros os casos de prisões dos responsáveis por furtos de animais em propriedades rurais. A maioria desses crimes fica sem resolução, como é o caso dos oito registros feitos em Bento Gonçalves em 2021. Para nenhum deles foi aberto inquérito policial, segundo informa o delegado titular da 1ª Delegacia de Polícia (1ª DP) do município, Renato Nobre Bias. Somente neste ano, já são três ocorrências registradas em Bento, todas sem resolução.

Conforme Bias, o grande desafio da investigação dos crimes de abigeato diz respeito ao horário e ao local em que eles ocorrem: normalmente durante a noite ou madrugada e em áreas rurais, sem câmeras de monitoramento e sem testemunhas. “Esses crimes costumam ser praticados por pessoas que conhecem a vida de campo, que conhecem gado e que são desse ramo. Normalmente utilizam caminhões e pegam estradas alternativas para não serem pegos”, comenta o delegado. Além disso, esses criminosos acabam adulterando a documentação necessária para transporte de animais – a Guia de Trânsito Animal (GTA) – dificultando a identificação do crime também para autoridades policiais rodoviárias.

O último crime de abigeato cometido em Bento do qual o SERRANOSSA teve informações – antes da Polícia Civil local proibir a imprensa de ter acesso às ocorrências – foi praticado no dia 06/03 na Linha Palmeiro. Na ocasião, o comunicante de 38 anos informou à Brigada Militar que chegou a visualizar os criminosos próximos ao chiqueiro dos porcos em sua propriedade. Os dois homens teriam fugido em direção ao mato ao perceber a aproximação do proprietário, mas conseguiram furtar um porco do local. Outro, de aproximadamente 80kg, teria morrido durante a ação dos criminosos.

Em todo o Rio Grande do Sul, de acordo com dados da secretaria de Segurança Pública, houve redução dos crimes de abigeato nos primeiros meses do ano. Em janeiro, a redução foi de cerca de 7%, caindo de 334 para 325. Em fevereiro, a diminuição foi maior, de quase 10%, saindo de 316 em 2021 para 285 neste ano.

Mesmo assim, as autoridades policiais ressaltam o alerta aos proprietários de animais. Conforme o delegado Renato Nobre Bias, há procedimentos modernos e eficazes como a chipagem dos animais, possibilitando identificar sua movimentação. Entretanto, ainda é considerado um procedimento oneroso financeiramente. “Tem também a opção do chip de identificação, que é mais barato. É aconselhável que todos identifiquem [seus animais], porque passando o leitor digital é possível identificar todas as informações do animal. Ajudaria caso os animais fossem localizados posteriormente, por exemplo”, explica.

Atualmente, após a alteração do código penal em 2016, a pena para crimes de abigeato é de 2 a 5 anos. “Mas não tivemos prisões no ano passado devido ao ‘Modus Operandi’ deles. É uma tarefa bem dificultosa”, afirma.