Moradora de Bento dá exemplo de força e motivação ao descobrir doença rara

Keila Locatelli Lanzarin, de 34 anos, foi recentemente diagnosticada com mastite granulomatosa e já tem acumulado importantes aprendizados sobre a vida: “tua única opção é aceitar e não desistir de ti mesma”

Em março deste ano, o aparecimento de um nódulo no seio direito despertou um misto de sentimentos na assistente comercial e empresária Keila Locatelli Lanzarin. O medo, acompanhado de muitas dúvidas e incertezas, levou a moradora de Bento a pensar se tratar de um câncer de mama. Mesmo exames tendo descartado a doença, o diagnóstico não deixou de ser assustador: mastite granulomatosa, uma doença crônica rara e autoimune, de origem desconhecida. A partir dela, é formado um processo inflamatório em torno do tecido glandular. Acredita-se que as células de defesa do organismo reajam contra as células mamárias, ocasionando a inflamação crônica. “Ela aparece com um nódulo agressivo (bastante dolorido), grande e palpável, porém é uma condição benigna. O que mais me assustou ao receber o diagnóstico foi saber que a doença é rara, que existem poucos casos e, consequentemente, poucos estudos”, conta Keila.

Com informações limitadas sobre a doença, encontrar um tratamento que seja eficaz para cada caso se torna um grande desafio. A partir disso, foi necessária uma série de adaptações até que o organismo de Keila aceitasse algum dos poucos tratamentos disponíveis. “Iniciamos com antibiótico e anti-inflamatório até o resultado da biopsia. Após o resultado, iniciamos com doses altas de corticoide”, recorda. Em seguida, a equipe médica que está a amparando optou por baixar a dose do medicamento aos poucos, o que não trouxe resultados animadores. “Eu recaí. Tive dias de dores terríveis, febre e enjoos por causa das dores. Tentamos um medicamento quimioterápico via oral, também sem sucesso. Nesse período tive secreção e precisei puncionar por duas vezes. Mesmo assim, não tive resultado positivo. Então partimos para um procedimento cirúrgico para drenagem e colocação de dreno para retirada desta secreção”, continua.

Hoje, após várias tentativas frustradas, Keila voltou a receber doses altas de corticoide, as quais trouxeram resultados mais positivos. Além disso, iniciou atendimento com um médico reumatologista, a fim de auxiliar em outros tratamentos complementares.

Convivendo com a dor

A medicação é o primeiro passo na rotina diária de Keila. Nos últimos dias, ela ainda tem se recuperado do processo recente de drenagem, o que tem limitado algumas atividades, como exercícios que exigem força. Em dias usuais, a moradora de Bento tenta seguir a rotina dentro de seu “novo normal”. “Os dias de mais dores são mais chatos, porque tarefas simples como dirigir, por exemplo, ficam difíceis. Mas minha médica sempre me disse o quanto é importante que eu tenha uma rotina ‘normal’”, comenta.

Junto à dor, às medicações e às visitas recorrentes ao hospital e consultório, soma-se o sentimento de vulnerabilidade. Em um desabafo recente nas redes sociais, Keila comemorou a vitória de, pela primeira vez em 16 dias, ter ânimo para sair de casa. Apesar das dificuldades diárias, a empresária afirma que algumas coisas mudaram positivamente em sua vida após o diagnóstico. “A gente vê a vida com outros olhos, pois no momento que tu tem a noção de que essa doença vai estar contigo por toda vida, teu propósito muda. Muda porque tua única opção no momento é aceitar e não desistir de ti mesma”, afirma.

Aprendizados valiosos

Diante de sua incurável condição de saúde, Keila conta que tem buscado, diariamente, uma forma menos dolorosa e mais leve de viver a vida. “Leio o pouco que tem sobre a doença e procuro alternativas além da medicação, como a alimentação. Sou estudante de Nutrição e troco figurinhas com uma amiga que é nutricionista. Temos a certeza que a alimentação irá me ajudar muito”, ressalta.

E a rede de apoio à Keila não para de crescer. Além da equipe médica, dos amigos e da família, diversas pessoas têm tirado um tempinho no seu dia para mandar uma mensagem positiva. “Meu filho é meu mais poderoso remédio. E meu marido me dá suporte em cada momento. Meus amigos também, os mais próximos e os mais distantes. Um simples ‘fica bem’, ‘estou orando por ti’, faz uma diferença inexplicável”, revela. “Toda doença, seja ela rara ou não, grave ou não, precisa ser tratada com empatia. Pois a dor nos dilacera e o apoio dá uma força gigantesca”, continua.

Mesmo diante das lágrimas, que ajudam a colocar para fora todo o medo e angústia que às vezes ressurgem, Keila se agarra à sua rede de apoio para ter a certeza que irá ficar tudo bem. “A maior lição que aprendi com tudo isso é que precisamos olhar para nós mesmos com mais amor e que nunca sabemos qual é o tamanho da dor do próximo. Muitas vezes não consigo explicar qual é o tamanho da minha dor, então como vou entender a dor do outro?”, reflete.

Para o futuro, Keila afirma que continuará cuidando de si com muito carinho, para que consiga também continuar cuidando, amando e zelando por seu filho. “Vou estar sempre em busca de tratamentos alternativos para que eu não fique limitada a essa dor e acabe perdendo coisas boas de serem vividas. Mas também tenho a consciência de que, às vezes, precisamos dar uma pausa para voltarmos com energia renovada. Nosso corpo fala, precisamos aprender ouvi-lo”, conclui.