Moradora de Bento relata momentos de angústia e dor intensa durante o tratamento da COVID-19
A pandemia do novo Coronavírus é notícia diariamente em todo o mundo. Mesmo assim, ainda não se sabe muito sobre a doença. Algumas pessoas passam pela infecção sem apresentar qualquer sintoma. Outras, como é o caso da moradora de Bento Gonçalves Vera Lúcia da Rocha, de 48 anos, relatam desconforto e dores intensas.
Funcionária da empresa JBS, de Garibaldi, Vera contou ao SERRANOSSA que começou a se sentir mal na metade do mês de abril, mas que os sintomas não aparentavam ser da COVID-19. “Eu tive os primeiros sintomas ainda no trabalho, mas era ânsia de vômito, dor no estômago e diarreia. Depois comecei a sentir dor nas costas e no corpo e dificuldade para urinar. Achei que fosse uma infecção urinária”, relata.
A partir do dia 25/04, sábado, a preocupação da família aumentou, já que as dores começaram a se tornar ainda mais intensas. “No domingo tive um pouco de febre e a dor não passava. Pedi para o meu filho me levar no postinho do bairro Licorsul, onde eu moro. Quando cheguei lá, a enfermeira desconfiou na hora que era Coronavírus. Meus sinais estavam todos muito baixos. Então ela chamou imediatamente o médico e eles me encaminharam para a tenda da UPA 24h”, recorda.
O filho de Vera foi orientado a ir para casa, a fim de evitar a contaminação. “Lá na UPA eu fiquei esperando por muito tempo no frio. O médico que me atendeu me deu um remédio para infecção na bexiga, me mandou aplicar duas injeções e ir para casa com um atestado de 7 dias. Mas quando fui tentar pegar o medicamento eu desmaiei. A enfermeira que me atendeu viu minha situação e me encaminhou de novo para a tenda. Quando viram que eu tinha pressão alta e asma, me encaminharam para a internação”, relata Vera.
O primeiro teste da COVID-19 deu negativo, mas os sintomas não aliviaram. “De madrugada eu passei mal, mas os médicos e enfermeiros estavam todos atendendo outra paciente que também estava muito mal. Passei sozinha por um momento bem difícil de dor. Começou a me dar falta de ar também, que até então não tinha me dado. Fiquei do dia 27/04 ao dia 29/04 na UPA, depois me transferiram para o Hospital Tacchini”, comenta Vera.
No hospital, ela ficou isolada na ala de enfermagem do dia 29/04 ao dia 04/05. “A médica vinha uma vez por dia. Me disseram que eu estava com uma grave infecção nos rins, mas afirmaram que os resultados do exame do Coronavírus não estavam prontos. Então eu cheguei a acreditar que era mesmo apenas uma infecção nos rins”, conta. Segundo a paciente, as equipes de enfermeiros e médicos estavam sempre correndo contra o tempo para atender a todos. Entretanto, devido à demanda, algumas vezes a paciente se viu sozinha por horas, com dores e dúvidas em relação ao seu real quadro de saúde. “As enfermeiras vinham no meu quarto vestindo todos os equipamentos de proteção. Quando saíam, tiravam tudo e jogavam no lixo do meu quarto. Tudo isso me fez suspeitar que sim, que eu estava com Coronavírus. Nesses momentos, eu procurei socorro em Deus. Eu tinha minha família e amigas que mandavam mensagens, me dando força”, recorda.
Devido à dor intensa, em alguns momentos Vera não conseguia responder sua família para relatar seu estado de saúde. No hospital, os familiares também não conseguiam obter mais informações. “Até o momento da minha alta, eu não tive confirmação de que estava com o Coronavírus. Até que uma enfermeira veio me falar que eu tinha testado positivo e que deveria continuar meu tratamento em casa. Me passaram várias coisas pela cabeça. A preocupação não foi comigo. Fiquei pensando no meu filho, nos meus colegas de trabalho. E se eu tivesse contaminado essas pessoas? Avisei imediatamente minha família e a empresa”, desabafa Vera.
O atestado de Vera encerra nesta terça-feira, 12/05, mas ela continua apresentando alguns sintomas leves, como tosse e fraqueza. “Amanhã vou na UPA contar como passei esses dias em casa. Estou fraca física e emocionalmente. A gente fica muito abalada pela falta de informação e por não saber exatamente o que tem. Queria deixar um apelo às pessoas, porque estão falando por aí que isso é uma gripezinha. Peço que as pessoas tenham consciência que isso não é uma gripezinha. É muito triste, muito dolorido. E ainda tu passa pelo sofrimento de estar isolado, sem saber se vai voltar para casa ou não”, lamenta.
Fotos: Arquivo Pessoal