Moradores do São Bento se mobilizam contra alterações no Plano Diretor

O projeto que trata sobre a revisão do Plano Diretor tramita na Câmara de Vereadores desde outubro. As mudanças propostas, entretanto, estão dividindo opiniões. Na semana passada, a Associação dos Engenheiros e Arquitetos da Região dos Vinhedos (AEARV) entregou um documento com considerações a respeito da matéria. Nesta semana, a Associação dos Moradores do Bairro São Bento iniciou uma mobilização contra a permissão de prédios de 16 andares em alguns pontos da cidade e de construção de até 12 metros no Corredor Gastronômico (avenida Planalto e Herny Hugo Dreher). Além da distribuição de panfletos, o grupo também colocou faixas nas residências do bairro.

De acordo com o representante da associação, Márco Chiaramonte, o objetivo das ações é sensibilizar os vereadores e os moradores de outras localidades, que também serão afetados pelas alterações propostas e que não se manifestaram, na visão dele, não por desinteresse, mas pela maneira quase secreta como a revisão foi conduzida. Ele também reclama que a comunidade não foi ouvida. 

Segundo ele, a participação ocorreu em 2015, durante audiência quando o plano ainda era embrionário, mas houve várias modificações desde então. Ele cita que o abaixo-assinado usado para embasar a permissão de construção de prédios de até 16 andares na rua Parnaíba não foi muito confiável e que analisando as atas das reuniões do Conselho Municipal de Planejamento (Complan) não foi encontrada menção à delimitação de 12 metros para o Corredor Gastronômico – embora a mudança apareça na versão final do documento encaminhada ao Legislativo. 

Segundo ele, não são apenas os moradores que serão afetados, mas também quem utiliza o espaço do bairro para a prática de lazer, uma vez que as construções atrapalhariam até mesmo a circulação do ar. “Se fala em qualidade espacial, qualidade de vida, privilegiar pessoas e fazem tudo ao contrário”, desabafa. De acordo com ele, a ambição por prédios na cidade inteira vai se consumar caso a legislação seja aprovada sem mudanças. “Tudo aquilo que acontece em Brasília, entre políticos e empreiteiros. Será que vamos ter que ver esse filme aqui em Bento?”, questiona. Outro ponto de crítica é que as vias arteriais elencadas pelo Plano de Mobilidade, aprovado em 2015, não condizem com o novo Plano Diretor. 

O material gráfico elaborado pela associação classifica as mudanças como “a certidão de óbito da cidade”. “A construção desenfreada de prédios não contribui para o bem-estar da população, já que trocaremos a tranquilidade de um bairro residencial para viver entre barulhos de automóveis e engarrafamentos”, diz o texto no verso do panfleto, que culpa a especulação imobiliária. “Poucos ganham milhões e o restante da população paga a conta com trânsito infernal, falta de estacionamento, falta de iluminação natural, já que um prédio fará sombra no outro, alagamentos e retirada de árvores que acarretarão em ilhas de calor. O aumento na altura e na quantidade de prédios, em uma cidade já deficitária em redes de esgoto, ruas estreitas, falta de calçadas e grandes declives naturais se mostra uma total incoerência”, segue o texto. 

Audiência Pública

Ainda não há data para que a matéria seja apreciada pelos parlamentares. Na próxima quinta-feira, dia 23, a Câmara realiza uma audiência pública sobre o tema, a partir das 16h no plenário da Casa.