Móveis: aposta no segundo semestre

Não parece ser com temor que os setores moveleiros de Bento Gonçalves e do Rio Grande do Sul avaliam a possibilidade de que outros polos produtores do Brasil ganhem novos mercados no cenário nacional nos próximos anos. Pelo contrário: o eventual avanço de regiões como a de Arapongas, no Paraná, tende a destacar ainda mais a proposta a qual muitas empresas locais se dedicaram nos últimos anos: investir em produtos diferenciados para permitir um maior valor agregado aos materiais comercializados.

Às vésperas de mais uma edição da Casa Brasil – que inicia no próximo dia 13 e na qual a inovação é justamente a principal aposta – lideranças das entidades representativas do ramo na cidade e no Estado reconhecem que enfrentam um período de cautela, mas não projetam dificuldades que possam impedir o município de avançar ainda mais. Pelo menos, não diferentes das atuais, como a questão de logística para distribuição do estoque, um obstáculo encarado mês a mês. 

Como escudo para blindar as constantes investidas de outras zonas industriais e minimizar entraves que encarecem e retardam a chegada da produção ao centro do país, está, principalmente, a estratégia de ter os móveis seriados como base e os planejados como a principal arma de expansão. “Com os convencionais, está realmente muito difícil competir hoje. Além de a distribuição nos custar mais caro, ainda temos que gastar mais para trazer a mesma matéria-prima que os outros utilizam. Tudo fica mais oneroso para nós“, ressalta o presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs), Ivo Cansan.

Conhecimento

O patamar a que muitas empresas chegaram atualmente, entretanto, não é algo que ocorreu de uma hora para outra. De acordo com Cansan, apesar de a guinada mais significativa ter acontecido de 2005 em diante, o resultado verificado agora é fruto de uma avaliação e adequação do sistema que iniciou há mais tempo. “Esse é um processo que começou há mais de 20, talvez 30 anos, e que nos fez chegar onde chegamos. Hoje, o que temos de mais essencial é o conhecimento. A tecnologia também é importante, mas, no contexto atual, ela se torna rapidamente acessível para todo mundo”, explica Cansan.

E é a aplicação desse conhecimento, segundo o presidente da Movergs, que tem feito as empresas gaúchas e, em especial as de Bento, aderirem a um novo comportamento no mercado. “Nós saímos de baixo e chegamos ao topo da cadeia. Mas ali, na classe A, temos um número mais restrito de consumidores, porque há muitas marcas. Agora, podemos voltar e atender a classe B, por exemplo, e também a C, com um produto diferenciado, com um acabamento melhor. Não temos que começar do zero, porque já sabemos como fazer e muito bem”, completa.

Qualificação

Para a presidente do Sindmóveis, Cátia Scarton, são principalmente as ações de qualificação, tanto em profissionais quanto em tecnologia, que ajudam a sustentar o lugar conquistado por Bento Gonçalves. Mas a diversificação da produção, na visão da empresária, é o que alicerça a continuidade do trabalho. “É muito melhor para o setor que tenhamos essa diversidade, é uma forma de enfrentar momentos de dificuldade”, avalia.

O foco deve se manter voltado fortemente para o mercado interno, por mais que a busca por novos clientes na América Latina e na África também tenha peso. “O nosso polo vê o mercado externo como complementar. É claro que ele é muito importante, mas, de uma forma geral, ainda não é prioritário”, destaca. Em 2012, por exemplo, os negócios com outros países representaram 5% do total do faturamento.

O polo bento-gonçalvense fechou o primeiro semestre com crescimento de 4,3% em relação ao mesmo período do ano passado no que tange ao faturamento. Até o final de 2013, a estimativa do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis), é de alta de 10% – índice que em 2012 atingiu 7,5%.

Cátia também reconhece, no que se refere à logística, algumas vantagens competitivas para os concorrentes paranaenses – e catarinenses, que têm os portos a seu favor –, além de elencar o custo da mão de obra local como mais elevado em relação a outras regiões. Mesmo assim, ela afirma que Bento não tem o que temer na disputa, desde que mantenha o nível alcançado nos últimos anos. “Isso sempre exige investimentos e um perfil do empresariado como o que temos aqui, que não espera os problemas”, conclui.

Bento x Arapongas

Na comparação com Arapongas, os dados de faturamento de 2012 ainda deixam Bento na dianteira, com um total de R$ 2,4 bilhões, frente a R$ 1,4 bilhão da concorrente paranaense. No campo das exportações, contudo, a perda é do lado de cá – são U$ 107 milhões contra U$ 63,03 milhões.

Exportações em queda

O polo moveleiro de Bento Gonçalves enfrentou uma queda de 10,3% nas exportações, na comparação com o mesmo período do ano passado. O primeiro trimestre teve redução de 13,4% na comercialização para outros países – no segundo trimestre, a baixa foi um pouco menor, fechando em 7,7%. Para a presidente do Sindmóveis, um dos principais motivos para o índice negativo é perda de competitividade da indústria, gerada principalmente pelo aumento dos custos, dificuldades logísticas e alta carga tributária.

Reportagem: Jorge Bronzato Jr.


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