Movimento estudantil: porta de entrada na política

Em época de eleições, muitos reclamam da falta de renovação na política. Para que isso ocorra, é necessário que os jovens participem mais de atividades na área. Para o cientista político Rodrigo Giacomet, que palestrou sobre o tema recentemente em Bento Gonçalves, é na juventude que o interesse pelas questões sociais desperta e esse processo transforma o adolescente, quando adulto, em um cidadão mais consciente. “O jovem percebe que além do próprio trabalho, há também questões coletivas. A democracia torna o cidadão mais esclarecido”, comenta.

Tradição familiar, desenvoltura e o dom da liderança estão entre os principais fatores que motivam o ingresso do jovem na vida política. “Geralmente é na escola que essa aptidão surge. Se analisarmos a trajetória dos políticos, dificilmente não haverá a participação em movimentos escolares, como os grêmios estudantis”, destaca.  A maneira com que o jovem se expressa é muito diferente. “Ele emite opinião de uma forma mais natural. A democracia é jovem”, complementa. 

Nesse contexto, prossegue, a escola pode auxiliar a fomentar o gosto pela política na medida em que simplifica a linguagem ao tratar de questões relacionadas ao tema. “A linguagem política ainda é muito rebuscada”, observa. Apesar disso, Giacomet descarta que haja afastamento dos jovens das questões ligadas à política. “Há interesse, sim. Na média, é uma parcela pequena da população que se interessa pelo tema, seja em qualquer faixa etária”, pontua.

Voto antes dos 18

Dos 16 aos 18 anos o voto é facultativo. Em Bento Gonçalves, esse público corresponde a 1,49% (1.211) dos 80.892 eleitores. Na visão de Giacomet, nessa fase da vida o jovem já está apto a tomar decisões políticas. “Nessa idade ele já convive em sociedade e já tem poder de expressar a sua opinião. Antes disso, seria muito cedo”, comenta.

Político desde cedo

Filipe Toledo de Souza tem 30 anos de idade e uma história de interesse pela política que começou ainda na escola. Ele conta que sempre gostou e foi engajado em organizar festas, gincanas e torneios esportivos, o que fez com que a ideia de participar de um Grêmio Estudantil fosse natural. Aos 16 anos de idade, ele assumiu a presidência do Grêmio Estudantil Medianeira (GEM), do Colégio Nossa Senhora Medianeira de Bento Gonçalves.

Um ano depois, foi convidado a integrar a chapa de renovação e oposição da União dos Estudantes Secundaristas de Bento Gonçalves (Uesb), como vice-presidente. “Foi quando pude perceber como era participar de uma campanha em busca de votos em todas as escolas do município. Na época, só podiam votar delegados eleitos pelos Grêmios das escolas, ou seja, tínhamos de construir uma campanha baseada em pessoas que muitas vezes nem sabiam que tinham sido indicadas”, relembra. Daquela época ficaram ensinamentos sobre como organizar material de campanha, agenda de compromissos e articular discursos, uma prévia da vida política adulta.

Para Filipe, o GEM foi a primeira escola, mas a intenção de concorrer a cargos públicos surgiu com mais força ao ingressar na Faculdade de Viticultura e Enologia do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS). “Fui fundador e primeiro presidente do Diretório Acadêmico dos Tecnólogos em Viticultura e Enologia, o Dateve, fundado em 2002”, conta. Dois anos depois, por indicação de amigos, colegas e partidários, ele decidiu concorrer ao cargo de vereador em Bento Gonçalves. “Fui o candidato mais novo em 2004 e o segundo mais novo em 2008”, recorda. Além dos cargos políticos e de coordenador de campanhas, Filipe é o atual presidente da Associação dos Jovens Empresários e Empreendedores de Bento Gonçalves (Ajebento) e presidente em exercício da Federação das Associações de Jovens Empreendedores do Rio Grande do Sul 2012 (Fajers).

Filipe pertence a uma geração que acompanhou a política nacional latente. “A minha geração viu os caras pintadas, o impeachment e o voto direto e depois achou que não precisaria de mais nada. Ledo engano, pois foi depois disso que surgiram outros tópicos para luta e engajamento, como o ensino público de qualidade, o financiamento estudantil e as cotas”, argumenta.  Para ele, a omissão é um dos principais problemas “Esses novos paradigmas precisariam de mais atenção do estudante, mas não são bem trabalhados, pois a maioria acaba ficando omissa e indo pregar moral nas redes sociais sem saber qual o conteúdo daquilo que quer ou protesta”, lamenta.

A extinção de muitos Grêmios Estudantis, que acabaram desestimulados pelas diretorias das escolas e colégios, é um fato que Filipe lamenta. “As diretorias não queriam rebeldia sem causa e muito menos que os estudantes tivessem vez e voz para os problemas e causas de suas escolas. O fechamento dos Grêmios acabou deixando-os inertes e à própria sorte”, analisa. A boa notícia é que, aos poucos, essa tradição vem ganhando novamente espaço. “O Sindilojas Jovem vem fazendo um trabalho diferenciado na busca dessa nova geração de militantes estudantis, estimulando-os a discutir e a pensar soluções para os problemas ao seu redor”, comemora, referindo-se ao projeto da União dos Grêmios Estudantis de Bento Gonçalves (Uges/BG), cujo objetivo é facilitar o desenvolvimento de propostas voltadas à afirmação e o resgate do movimento.

Reportagem: Carina Furlanetto e Greice Scotton

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