Mulher vira policial e prende homem que tirou a vida de seu pai 25 anos após crime
Ela se tornou policial para, um dia, buscar justiça em nome do pai
A escrivã Gislayne Silva de Deus, de 36 anos, que teve o pai morto, participou, na últina quarta-feira, 25/09, de uma operação da Polícia Civil de Roraima que resultou na prisão do acusado pelo assassinato, 25 anos após o crime. Segundo Gislayne, o desfecho representa o fim de uma longa jornada para a família. As informações são do site g1.
Ela, a mais velha dos cinco filhos de Givaldo José Vicente de Deus, tinha apenas nove anos quando o pai foi morto, aos 35 anos, vítima de um tiro à queima-roupa disparado por Raimundo Alves Gomes, que cobrava uma dívida de R$ 150, em 1999.
Condenado a 12 anos de prisão pelo homicídio, Raimundo estava foragido desde 2016, quando foi expedido o primeiro mandado de prisão contra ele.
“Com a prisão dele, lavei minha alma e a de toda minha família. Foi o encerramento de um ciclo. Hoje temos paz e o sentimento de que a justiça foi feita”, isse Gislayne, emocionada.
Na quinta-feira, 26/09, Raimundo Gomes foi submetido a uma audiência de custódia, que confirmou a sua prisão. Ele foi encaminhado para o sistema prisional de Roraima. A defesa informou que, por enquanto, não irá se pronunciar sobre o caso.
O caso
A prisão de Raimundo Alves Gomes, efetuada por policiais da Delegacia Geral de Homicídios, ocorreu na noite da última quarta-feira, 25/09, em uma área de chácaras no bairro Nova Cidade, zona oeste de Boa Vista (RR). Um vídeo registrou o momento em que Gislayne ficou frente a frente com o homem acusado de matar seu pai.
O crime aconteceu em 16 de fevereiro de 1999, no bairro Asa Branca, também na zona oeste de Boa Vista, durante uma discussão por uma dívida de R$ 150 que a vítima, Givaldo José Vicente de Deus, tinha com Raimundo. Após o disparo fatal, ele ainda levou a vítima ao hospital, mas fugiu em seguida. Gislayne e suas quatro irmãs ficaram órfãs — a mais nova tinha apenas dois anos e cresceu sem lembranças do pai.
Raimundo foi julgado e condenado 14 anos após o crime, em 2013, pelo Tribunal do Júri do Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR), recebendo uma sentença de 12 anos de prisão pelo homicídio. O caso transitou em julgado no mesmo ano.
Segundo o advogado Bruno Caciano, presidente da Associação Nacional da Advocacia Criminal (Anacrim) em Roraima, o crime de homicídio prescreve após 20 anos, a partir da sentença condenatória, caso a pena seja superior a 12 anos. Como a pena de Raimundo foi de 12 anos, o prazo de prescrição seria de 16 anos a contar da conclusão do julgamento, ou seja, até 2029 — faltando ainda cinco anos para a prescrição do crime.
Filha se tornou policial
Aos 18 anos, em 2007, Gislayne iniciou o curso de Direito em uma faculdade particular e, sete anos depois, formou-se advogada. Embora não tivesse planos de seguir carreira policial, acabou prestando concurso e foi aprovada.
Em 2022, ingressou na polícia penal de Roraima, onde trabalhou na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo e no Departamento do Sistema Prisional (Desipe), inclusive durante sua gravidez. Gislayne revelou que, enquanto trabalhava em unidades prisionais, frequentemente imaginava o momento em que veria o assassino de seu pai finalmente preso.
“Quando eu era policial penal, eu imaginava sempre ele chegando lá para cumprir a pena dele”, afirmou.
Um ano depois, Gislayne foi aprovada no concurso público da Polícia Civil e, em 19 de julho de 2024, assumiu o cargo de escrivã. Ao ingressar na corporação, fez um pedido específico: ser designada para a Delegacia Geral de Homicídios (DGH), acreditando que, a partir dessa unidade, poderia localizar e prender o assassino de seu pai.
Na DGH, ela reuniu informações sobre o paradeiro de Raimundo e encontrou o último mandado de prisão, expedido em 2019 pela Justiça de Roraima.
Persistência
Para Gislayne, a condenação só foi possível graças à persistência da família, que nunca abandonou a busca por justiça. Em 2022, um tio dela chegou a avistar Raimundo Alves Gomes em Boa Vista, mas, como ela ainda não fazia parte da Polícia Civil na época, as tentativas de localizá-lo não tiveram sucesso.
“Essa nossa participação de buscar, ir atrás, não deixar ele ficar impune já tem um bom tempo. Se nós não estivéssemos lá não teria tido júri e o promotor teria pedido absolvição. Então, a condenação foi em razão da gente não deixar realmente passar impune”, declarou a escrivã.
Agora, ela sente que, finalmente, a justiça foi feita. “Isso não vai trazer nosso pai de volta, mas ele (o assassino) vai cumprir a pena que deveria ter cumprido há muitos anos”, finalizou.
Fontes: GZH e g1