Na contramão das clandestinas, festas regularizadas investem em medidas de sanitização

Desde o início da pandemia, cerca de 150 denúncias de festas clandestinas ou em desacordo com as medidas sanitárias foram averiguadas pela Brigada Militar (BM) de Bento Gonçalves. Mais de mil pessoas foram abordadas, e centenas de aglomerações foram dispersadas. No total, nove festas clandestinas precisaram de intervenção da BM, com identificação e responsabilização dos organizadores. Mas em outubro do ano passado, mudanças nos protocolos das bandeiras laranja e amarela do modelo de Distanciamento Controlado do Estado do RS liberaram a realização de eventos sociais, mediante o cumprimento de medidas de prevenção ao Coronavírus. 

Diante da mudança, diversos produtores de eventos que estavam há meses parados decidiram correr atrás das adequações necessárias para voltar a promover festas na cidade. Entre eles, estão os profissionais da Produtora Kool e da FH Produções. 


Foto: Produtora Kool

A Fundaparque (Parque de Eventos) foi o local escolhido pela Produtora Kool para garantir o distanciamento dos frequentadores. A produtora afirma que todos os eventos realizados até então seguiram os protocolos estipulados nos decretos, incluindo o uso obrigatório de máscara, distanciamento das mesas e higienização do local. “Os eventos são realizados seguindo todos os protocolos de segurança dos decretos 55.713 e 55.240; e das Portarias 319 e 617, da Secretaria Estadual da Saúde. Além de todo o check-list dos protocolos, procuramos aprimorar algumas coisas na estrutura e higienização, oferecendo ao evento um espaço ainda mais amplo do que o exigido para trazer ainda mais segurança e confiança entre os frequentadores”, afirma. “Mesmo dispondo de cerca de 1.800m², recebemos apenas 250 frequentadores”, complementa.


Foto: Produtora Kool

Ainda conforme a produtora, na entrada todos os frequentadores tiveram a temperatura aferida, passaram por higienização das mãos e pés – com tapetes sanitizantes – e receberam informações e instruções acerca do protocolo de segurança. “É nesse momento que todos percebem a importância de seus atos. O que nos deixa felizes é perceber não apenas uma aceitação muito grande, como também receber feedback de elogios e admiração dos frequentadores sobre a responsabilidade da produtora em todos os detalhes”, comenta.


Foto: Produtora Kool
 

No último fim de semana, o Espaço para Eventos Giuseppe Toniolo recebeu o Flying High Sunset, um evento de música eletrônica promovido pela FH Produções. Nova no mercado, a produtora aguardava há cerca de um ano a possibilidade de realização do evento. “O projeto de fazer um sunset evoluiu de acordo com a demanda de normas exigidas pela fiscalização. Assim, aos poucos, foi ganhando forma e se adequando à segurança necessária para que todos os convidados pudessem se divertir”, relata o produtor Henrique Refosco. 


Foto: FH Produções

No espaço capaz de receber quase mil pessoas em tempos normais, a produtora limitou a venda de ingressos para 150 convidados. “Foram tomadas medidas como aferição de temperatura no check-in, uso de máscaras, álcool em gel em locais estratégicos, mesas distanciadas com um número determinado, uso de tapetes sanitizantes nas entradas e chão demarcados para sinalizar a distância necessária em locais com filas, entre outros”, relata. O uso de máscara, conforme o produtor, era obrigatório para circulação nos ambientes e apenas liberado quando as pessoas estivessem em suas mesas. 


Foto: FH Produções

Garantia de renda

Para a equipe da Produtora Kool, que atua há alguns anos no mercado, a pandemia trouxe sérios prejuízos financeiros aos profissionais ligados às festas. “Muitos de nós estão há mais de 20 anos no mercado de eventos e o ano passado foi um verdadeiro ‘pesadelo sem fim’. A renda familiar se reduzindo a zero, empresas demitindo colaboradores, algumas empresas ainda insistindo e criando dívidas enormes para manter seu quadro funcional”, relata. Em apenas um evento, conforme a produtora, são necessários DJs, cantores, garçons, seguranças, bartenders (profissionais que servem e preparam bebidas), equipe de sonorização, luzes, equipes de limpeza e organização. “Sabemos o quanto esse setor ficou necessitado e esquecido, então esperamos ansiosos e pacientemente a hora de voltar a exercer nosso real ofício”, declara. “Percebemos que muitos profissionais voltaram a sorrir ‘mesmo que de máscara’, acreditando que tudo pode voltar ao normal, ou pelo menos um ‘novo normal’, no qual todos possam exercer suas funções novamente, e que a alegria e diversão dos eventos possa voltar”, complementa.

Questionada sobre as críticas da realização de eventos sociais em meio à pandemia, a Produtora Kool acredita que o receio e o julgamento das pessoas são naturais, tendo em vista alguns “eventos totalmente despreparados e sem compromisso e respeito à pandemia”. “Vemos todos os finais de semana festas clandestinas serem realizadas. A solução talvez não seja proibir eventos, mas sim regulamentar como vem sendo feito conosco, não transformando em um problema e sim em solução viável a toda população que procura por diversão, mas de forma segura”, opina. 

Na opinião do produtor e DJ Henrique Refosco, diante da primeira experiência da FH Produções em meio à pandemia, é possível sim realizar um evento seguro para todos. “Tendo um número mais reduzido de pessoas, com um trabalho bem elaborado, pode-se realizar um evento controlado, com horário reduzido e ainda assim conseguir dar um pouco daquela sensação que as pessoas sentem tanta falta nos eventos”, afirma.


Foto: FH Produções

Fiscalização segue intensa mesmo em festas regularizadas

As forças de segurança de Bento Gonçalves – Brigada Militar (BM), Guarda Civil Municipal (GCM), Departamento Municipal de Trânsito (DMT) e equipes da prefeitura – têm realizado ações conjuntas de fiscalização de eventos sociais. Com denúncias frequentes sobre festas clandestinas, as rondas têm se intensificado nos últimos meses. “As festas ‘clandestinas’ ocorrem, sobretudo, no interior no município, onde os participantes ignoram o poder de transmissão do vírus e provocam aglomerações sem uso de máscaras e sem priorizar as medidas básicas de higiene”, comenta o comandante do 3º Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas (3º BPAT), tenente-coronel Paulo César de Carvalho. 
Desde o início da pandemia em Bento Gonçalves, conforme dados da BM, já foram promovidas 34 operações integradas com os órgãos municipais, sendo averiguadas cerca de 150 denúncias da comunidade, realizadas mais de mil abordagens e confeccionados 16 termos circunstanciados por reincidência no descumprimento das medidas. Além disso, mais de 140 locais de aglomerações foram dispersados e nove festas clandestinas precisaram de intervenção da Brigada Militar, nas quais os responsáveis foram identificados e responsabilizados.


Foto: Brigada Militar
 

Conforme a secretaria de Segurança, as punições são direcionadas aos organizadores desses eventos clandestinos, ou em desacordo com os protocolos estabelecidos, e aos proprietários dos locais onde ocorrem. “Essa punição é a lavratura do auto de infração sanitária, na qual respondem por Processo Administrativo Sanitário, que pode ser julgado com diversas penalidades: advertência, multa, interdição do local, entre outras, conforme a Lei 6437 de 1977”, informa a pasta. “As vistorias são realizadas em decorrência de denúncias recebidas. Frequentemente é constatado que não há o cumprimento total dos protocolos”, complementa. 

Ainda conforme a pasta, cerca de cinco produtores de eventos foram até o setor de fiscalização prestar informações sobre as festas, “os quais foram devidamente orientados quanto ao cumprimento das medidas exigidas pelo Decreto Estadual 55.240/2020”.