“Não aumentou o otimismo, mas diminuiu o desespero”, comenta presidente do CIC

Às vésperas do Dia da Indústria, lembrado no último dia 25, o setor produtivo foi surpreendido por mais um episódio que revela os reflexos da instabilidade política no desempenho econômico do país – justamente no momento em que ensaiava os primeiros movimentos rumo à retomada do ciclo de crescimento. A alternativa, conforme o presidente do Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves, Laudir Miguel Piccoli, é apostar no trabalho e na responsabilidade.

Apesar de o cenário atual ter freado alguns investimentos, o balanço do primeiro trimestre de 2017 é positivo. Em Bento Gonçalves foram abertas 13 indústrias (incluindo de prestação de serviços), contra sete no mesmo período do ano anterior. Além disso, o saldo de empregos foi positivo nos três primeiros meses deste ano se comparado aos três últimos meses de 2016. “Não aumentou o otimismo, mas diminuiu o desespero”, avalia.

Na visão de Piccoli, o país atravessa neste momento uma crise de credibilidade, não apenas financeira, mas também moral. Ele critica uma postura comum do brasileiro de sempre esperar que a solução seja dada por terceiros, o que ele chama de cultura do assistencialismo. “É preciso ter responsabilidade e parar de achar que são só os políticos que têm que resolver os problemas”, pontua.

Embora seja difícil de fazer previsões sobre o futuro, sobretudo em função dos recentes acontecimentos envolvendo o governo do presidente Michel Temer, a perspectiva é de que haverá crescimento. Um dos fatores positivos que podem ser levados em conta, segundo ele, é a tendência de diminuir a taxa Selic, o que pode reverter o freio no consumo. Segundo ele, a instabilidade política atrasou o processo de retomada e, com isso, a economia seguirá estagnada por um tempo maior que o previsto, mas a melhora acontecerá – embora ainda não seja possível de mensurar. “As crises são cíclicas”, pondera, alertando que os empresários precisam ficar atentos ao momento certo para fazer os investimentos. 

Moveleiro em alerta

O desempenho nacional e estadual do setor moveleiro, um dos mais fortes segmentos da economia local, acabaram sendo um balde de água fria no otimismo dos primeiros meses do ano. Após sequência de crescimento, o setor de exportações de móveis nacional teve queda de 9,2% em abril, com US$ 51,6 milhões contra os US$ 56,9 milhões alcançados em março deste ano. No Rio Grande do Sul, a redução foi ainda mais expressiva, cerca de 20,1%. Dos US$ 16,7 milhões atingidos anteriormente passou para US$ 13,3 milhões em abril. O Estado ocupa o segundo lugar no ranking nacional dos que mais exportam, com 25,9%. Santa Catarina lidera com 34,8%, em terceiro está o Paraná, 16,3%, seguido por São Paulo, 14,5%, e Minas Gerais, 4%.

Mesmo assim, os resultados do quadrimestre são um pouco melhores do que os alcançados no ano passado. De janeiro a abril de 2017, as exportações obtiveram US$ 192,6 milhões, alta de 7,1%. A expectativa da Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs) é de que – no decorrer do ano – haja melhora, tanto nos números mensais quanto no acumulado.

 

Números que animam

– Bento Goncalves abriu 13 indústrias no primeiro trimestre de 2017 (incluindo de prestação de serviços), contra sete abertas no mesmo período de 2016.

 – O saldo entre admissões e demissões fechou no positivo no primeiro trimestre de 2017, se comparado com o último de 2016.

 – Os números de exportações da indústria gaúcha são os melhores em muito tempo: a exportação neste ano foi a maior para um primeiro trimestre de ano desde 2013 – 3,3 bilhões de dólares.

 – A indústria gaúcha, de maneira geral, tem mostrado um desempenho superior ao do ano passado – cresceu 1,9% no comparativo entre os primeiros trimestres de 2017 com 2016 –, e o PIB dá sinais de crescimento: subiu 1,1% no primeiro trimestre do ano em relação ao último trimestre do ano passado.

 

Foto: Exata Comunicação/Divulgação