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Não culpe Agosto

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Amarro as pontas de lembranças que moram nos meses de agosto que até hoje vivi. “Não gosto desse mês”, dizem muitos. Difícil achar um mês tão odiado. Bem, de fato agosto já nasceu com o sobrepeso do ego, o mês leva esse nome em homenagem ao imperador César Augusto, feita pelo próprio a si mesmo. Foi em agosto que a Primeira Guerra Mundial começou e que, na segunda, Hiroshima e Nagasaki quase viraram pó.

Agosto também nos lembra da palavra desgosto, o mês do cachorro louco, período em que, devido a condições climáticas, as cadelas entram em maior proporção no cio. Em Portugal, agosto é o mês que registra menos casamentos – provavelmente porque antigamente este era o mês onde mais navios saiam em expedição.

Talvez se minha linha do tempo fosse desenhada com base em superstições, eu também odiaria o mês que está se encerrando. Porém, sou dono de minhas próprias anotações e, ao que percebo, agosto sempre me surge como uma das épocas em que torno palpável o que até então eram apenas metas. Se durante sete meses planejo e idealizo, em agosto vejo surgir meus castelos. Claro, devo ter perdido pessoas neste mês, recordo de amores que fracassaram, de ansiedades que nada renderam, mas nada que desfaça a impressão positiva do oitavo mês do ano sobre mim.

Uma das frases de minhas canções – “Era agosto, eu lembro, nossos sonhos estão por aí” – é aparentemente triste, carregada de despedida e lembrança. Mas o que são despedidas senão recomeços? Dizer adeus a alguém é também a oportunidade para se conhecer um novo alguém. Se em agosto de 1945 cerca de 200.000 pessoas foram mortas pelas bombas atômicas, foi neste mesmo mês, em 1912, que nasceu Raoul Wallenberg, responsável por salvar mais de 100.000 judeus durante a Segunda Grande Guerra.

Você pode lamentar agosto, pode fazer isso com qualquer estação do ano, pode criar um número maldito e ter convicção sobre qual é seu número da sorte, pode se prender a superstições para desenhar sua vida, mas sem os dias, meses, anos que você diz serem os piores para você, sem esses tempos malditos, você não poderia conquistar nada.

Viver é estar em contraste, todos os dias um novo dia nasce e um velho dia morre, basta que você esteja acordado e verá a escuridão do horizonte dar lugar à claridade. Dia e noite se pertencem tanto como agosto e janeiro se completam.

Personificamos os tempos difíceis para fingirmos controlar as épocas de nossas vidas. Como se fôssemos avançadas estações meteorológicas prontas a avisar com antecedência sobre as tempestades que chegam sobre nossas vidas.

Há vida e morte em todas as estações, todos os meses e anos. Há motivos para comemorar e vontade de desistirmos em cada uma das 24 horas de nossas vidas. No fim, seja dançando com os problemas ou cantando na paz dos melhores dias, o que mais importa é termos a sensação de que construímos nossa própria jornada. É a essa sensação de sermos donos de nosso tempo que devemos brindar. Aliás, por falar nisso, foi em uma noite de agosto, em 1693, que Dom Perignon conseguiu colocar estrelas em um copo, o champagne havia sido criado. Quem diria não é mesmo? Sempre que celebramos com um brinde, celebraremos também o mês de agosto.

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