Nova maneira de utilização de ventilação não invasiva é posta em prática em Caxias do Sul

No início da pandemia, em 2020, a partir da observação de um projeto desenvolvido no norte do Brasil, o Hospital Virvi Ramos, de Caxias do Sul, começou a trabalhar na ideia de disponibilizar aos pacientes em tratamento da COVID-19 uma nova maneira de utilização de ventilação não invasiva com pressão negativa, que elimina vírus, bactérias, fungos e outros patógenos presentes no ambiente.

Denominada de ‘tenda’, o equipamento foi desenvolvido com o intuito de possibilitar que alguns pacientes melhorem seus parâmetros de ventilação sem a necessidade de intubação e consequentemente, auxilia na diminuição do risco de contaminação por aerodispersóides dos profissionais de saúde.

A Diretora Executiva do Hospital Virvi Ramos, Cleciane Doncatto Simsen, destaca como surgiu a ideia: “Inicialmente observamos no mercado alguns produtos sendo confeccionados para se utilizar nesse fim. Decidimos replicar aqui o projeto e fizemos um teste piloto com exaustor, mas quando passamos a contar com o apoio dos parceiros especialistas, vimos que não era suficiente para fazer a pressão negativa necessária. ”

Foram diversos meses de testes até que o aparelho ficasse totalmente pronto para ser utilizado no ambiente hospitalar, como explica o Consultor Técnico, Adelfo Pinto Neto, que colaborou voluntariamente com o projeto: “Em junho de 2020 fui convidado a contribuir voluntariamente com o projeto. Com auxílio do engenheiro Alan Castellani Pimentel, por meses realizamos diversos testes e fomos agregando diversos setores e profissionais especializados, até que este ano, conseguimos chegar aos parâmetros necessários de vazão para manter a tenda em pressão negativa.”


Foto: Divulgação/Virvi Ramos
 

O Grupo Uniftec, através do Centro Universitário Uniftec, foi outro parceiro voluntário fundamental no projeto, pois emitiu um parecer técnico efetuando medições, com uso de instrumentos específicos, referentes ao funcionamento do dispositivo analisado (tenda), a fim de quantificar grandezas como pressão interna, vazão de ar, características dimensionais e outras informações pertinentes para que a equipe do Hospital Virvi Ramos pudesse avaliar e decidir sobre a aplicação da tenda.

A equipe principal do Uniftec foi liderada pelo engenheiro eletricista Geison Luís Rasia (CREA nº 103948) e composta pelos engenheiros mecânicos André Lunardi Steiner (CREA nº RS123349) e Eduardo Caldas da Rocha (CREA nº 144496), que, junto com outros professores do grupo e com o Consultor Técnico indicado pelo hospital, Adelfo Pinto Neto, e o médico intensivista, Dr. Roger Weingartner, propuseram as melhorias deste equipamento, como explica Rasia: “O Hospital e a equipe que atuava no projeto nos procuraram, pois careciam de maiores avaliações técnicas e qualidade de funcionamento. Tudo isso tendo em vista que o propósito é garantir a saúde do paciente infectado e da equipe médica que atua nos cuidados do doente. Então, avaliamos questões importantes de funcionamento e após o consenso de médicos, engenheiros e do especialista em ventilação, o hospital implementou a tenda e avaliou o funcionamento in loco, sob supervisão constante dos profissionais da área da saúde.”

Bons resultados iniciais

Após meses de testagem, as tendas (foram confeccionadas três para utilização no Hospital Virvi Ramos) já estão sendo utilizadas e com excelentes resultados, como explica a Coordenadora da Unidade de Terapia Intensiva do Virvi Ramos Eveline Gremelmaier: “A tenda nos permitiu utilizar a ventilação não invasiva em alguns pacientes, principalmente obesos, que possibilitou que eles evitassem a intubação, que é a ventilação invasiva.”

É o caso do Soldador Francisco Mendes Rosa, 34 anos, que contraiu a COVID-19 e se recuperou bem ao utilizar a tenda: “Eu sou obeso e hipertenso. Quando internei, estava com a saturação muito ruim. Era praticamente certo que eu seria intubado quando fui pra UTI. Então, a médica que me atendeu, disse que tinha a possibilidade de usar essa tenda. Eu aceitei e foi ótimo. Usei por três dias consecutivos e foi o suficiente pra eu sair da UTI e me recuperar sem precisar da intubação.”

Rosa destaca sua percepção ao utilizar o equipamento e a contribuição na evolução do seu quadro clínico: “Usei a tenda na sexta, no sábado e no domingo. Na segunda-feira já tive alta da UTI. Usei por períodos curtos e longos, porque você para de usar para se alimentar. Minha saturação melhorou muito e consequentemente me sentia mais disposto depois de usar. Torço para que essa tenda possa ajudar muitos outros pacientes.”

Eveline reforça que a utilização das tendas, além da redução da possibilidade de intubação, diminui a contaminação, no ambiente: “A ventilação não invasiva deve ser evitada em locais sem pressão negativa. Então, o uso da tenda nos permitiu utilizar esse método, muito indicado também para casos de doenças pulmonares, obesos ou pacientes com edema pulmonar de origem cardiogênica, como forma de evitar a intubação. Em casos de Covid, não estávamos utilizando a ventilação não invasiva antes da tenda devido à dispersão de aerossóis no ambiente, em função do alto risco de contágio dos profissionais envolvidos no atendimento. ”