Novo técnico do Esportivo, Badico pede união de forças para recolocar o clube na elite
O bageense que passou por mais de 15 clubes do Rio Grande do Sul como jogador e técnico engrossará seu vasto currículo, a partir da Divisão de Acesso 2016, com a primeira experiência no Esportivo. Poucos desbravaram tanto quanto Badico todos os pagos do futebol gaúcho, e foi esse know how que convenceu a direção do alviazul a apostar no ex-atacante para uma nova tentativa de retornar à primeira divisão. Do centroavante nato, artilheiro do Gauchão de 1998 pelo Inter de Santa Maria, o treinador de 47 anos levou para a casamata o estilo “mobilizador”, que ele compara ao do colega Argel, atualmente no Internacional. A principal referência, no entanto, é Tite, com quem a única semelhança, até aqui, pode ser um início de trajetória distante dos holofotes, nas divisões inferiores do estado. Para começar a galgar degraus como o comandante corintiano, Badico enfatiza convicção no trabalho e a necessidade de mobilização dos bento-gonçalvenses. Nesta entrevista ao SERRANOSSA, ele explana as suas ideias de futebol e convoca a cidade para a tarefa de recolocar o alviazul entre os grandes.
SERRANOSSA: Quem é Rinaldo Lopes Costa, o Badico?
Badico: Um cara que tem muita determinação e que se dedicou ao esporte durante a vida toda. Sou batalhador, chefe de família, com dois filhos, casado há 25 anos. Um jogador que teve a condição de atuar por 23 clubes, no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas, São Paulo, Rio Grande do Norte, Colômbia… Conquistei vários títulos e fui goleador do Campeonato Gaúcho. Me preparei bastante para o momento que vivo hoje, como técnico de futebol, e estou muito feliz por chegar a uma cidade como Bento Gonçalves e ter a honra de treinar o Esportivo, que, para mim, é um clube com uma grande tradição e história no futebol gaúcho.
SN: Em uma entrevista à imprensa de Pelotas, recentemente, você comparou o seu estilo ao do Argel. Quais são as suas principais referências na profissão?
Badico: Acho que uma referência não só minha, mas de todos os técnicos de futebol, hoje, é o Tite. Eu considero ele extremamente tático. Para mim, é o grande treinador do Brasil e, com certeza, da América do Sul, um cara que está à frente do seu tempo. Mas eu também tenho muito da questão da mobilização, que está no meu DNA, e acredito que meu estilo é muito semelhante ao do Argel, no que se refere a ir dentro do jogador, tirar algo a mais do atleta. O Tite tem esse perfil, mas é mais contido. Eu tenho acompanhado bastante a carreira dele, leio muita coisa. O Renato Augusto (meia do Corinthians), por exemplo, era um jogador que estava há muito tempo sem render em alto nível, e o Tite conseguiu tirar o melhor dele. Ele tem uma linguagem mais sofisticada, é um cara mais estudioso sobre o que fala, um profissional que se preparou… Eu me espelho muito no Tite e tenho esse perfil do Argel quanto à mobilização. O Argel é um cara guerreiro, determinado, valente e não teve medo de enfrentar este último desafio. Saiu do Figueirense para pegar o Internacional cheio de problemas e conseguiu fazer uma campanha com 92% de aproveitamento no Beira-Rio.
SN: Entre contratados e promovidos da categoria Juvenil, o Esportivo anunciou 12 jogadores até o momento, a maior parte oriunda de indicações suas. Qual será o perfil desta equipe na Divisão de Acesso?
Badico: Em primeiro lugar, desde que foi definido pela direção do Esportivo que eu seria o treinador, o clube expôs o que queria e o que era necessário nesse momento, como a questão financeira e de ter uma equipe que motivasse o torcedor, porque o ano passado foi ruim, a campanha foi fraca. Nós começamos a trabalhar com valores, eu passei nomes e coloquei o que seria necessário. Eu realmente tive uma participação muito profunda na montagem do elenco. Como nós temos uma competição muito difícil pela frente, não poderíamos fazer apostas, e seria muito tempo perdido trabalhar com jogadores que não conheço. Montei uma equipe com conhecedores da competição. Os perfis dos times que eu dirijo têm a garra e a pegada do futebol gaúcho, mas eu gosto de equipes técnicas, que jogam. Em uma segunda divisão, principalmente nesta que vamos participar, há times do mesmo nível do Esportivo, como São Luiz, Pelotas, Caxias, Brasil de Farroupilha; será uma competição equilibrada e tecnicamente muito forte, porque há clubes de tradição e alguns com uma qualidade técnica muito boa. Além de marcar, tirar espaço, pressionar e não deixar o adversário jogar, nós precisamos ter um time que, com a bola, jogue.
SN: E a postura tática? A formação desse grupo está baseada em uma maneira de jogo que você pretende adotar?
Badico: Eu respeito todos os adversários, pois acho que isso é importante, mas precisamos ter convicção naquilo que a gente faz e confiar no elenco e capacidade técnica. Eu digo sempre, nos clubes que eu dirijo: nós vamos enfrentar o time B, certo? Eles jogam assim, e nós vamos marcar dessa maneira, para neutralizá-los, mas também vamos fazer o adversário se adaptar àquilo que a gente quer. Acredito que precisamos ter essa convicção de definir taticamente a equipe, ter um modelo. Eu sempre procuro isso e o modelo é baseado nas características dos jogadores que a gente traz para o grupo. Eu tenho um modelo, mas isso é uma coisa nossa, depois a imprensa vai ver. A direção sabe de que maneira nós vamos trabalhar e é importante começarmos com essa convicção.
SN: A qualidade prevalece ou você acredita que haja outros fatores preponderantes?
Badico: Eu penso que prevalece. Tem que ter a pegada, o perfil da competição, mas não se ganha no futebol se não houver qualidade.
SN: Você conhece como poucos as peculiaridades do futebol gaúcho. Quais são as principais lições que o treinador Badico guardou das passagens por mais de 15 clubes do estado como atleta?
Badico: Primeira coisa: eu aprendi que, para ter sucesso, você tem que trabalhar mais do que todo mundo. Eu sempre falo para os atletas que ninguém pode trabalhar mais do que a gente. O nosso trabalho tem que ser muito mais forte do que o dos outros. Outra coisa é a dedicação. Tenho transmitido para os jogadores a importância de passar por um lugar e deixar as portas abertas, de respeitar a instituição, o dia a dia e as peculiaridades de cada cidade, porque é uma porta que se abre. Eu nunca trabalhei na Serra e estou muito feliz, porque considero essa uma grande oportunidade. Vamos trabalhar em uma região próspera, o pessoal é trabalhador, há pessoas muito corretas. A gente precisa ter humildade, coerência, convicção e persistência. Terei a primeira experiência em um clube no qual não fui jogador, apenas joguei contra. Eu procuro sempre fazer amizades, abrir caminhos e ganhar meu espaço com trabalho. Quero transmitir a minha energia e motivação de vencer, juntamente com a comunidade e vocês da imprensa, porque o Esportivo é Bento, e nós vamos vestir a camisa de uma cidade. É uma porta que se abriu para mim e tenham certeza de que, com a participação de todos, vamos fazer um trabalho à altura da grandeza do Esportivo.
SN: Para manter as contas em dia, o Esportivo reduziu a folha para 2016, apostou em uma comissão técnica caseira, com exceção do treinador, e em jogadores pouco conhecidos da cidade. Por que o torcedor deve confiar no acesso?
Badico: O acesso é o objetivo de todo mundo, pois nenhum clube entra na competição sem pensar na conquista maior. Agora, a responsabilidade de chegar lá tem que ser dividida entre todos. Depende do apoio do torcedor, da comunidade, da imprensa… ninguém consegue nada sozinho. Não serão somente a comissão técnica, a direção e o grupo de jogadores que alcançarão esse objetivo. Eu acho que existe uma desconfiança, principalmente por parte da imprensa, que esperava uma coisa maior, mas o futebol, hoje, requer renovação. Temos o exemplo do Deivid, que nunca treinou uma equipe e vai assumir o Cruzeiro, um grande clube do futebol brasileiro. É uma questão de oportunidade, de abrir espaço para pessoas novas. Porém, sobre buscar o acesso, a responsabilidade é de todos, e nós estamos imbuídos nesse processo. Vamos trabalhar para que todos posssam ser inseridos juntos, porque trata-se de um clube que representa uma comunidade. Para alcançar esse objetivo, vamos precisar que as pessoas nos abracem e venham conosco.