Caiu o número de suicídios em Bento Gonçalves no ano passado, em comparação com os dois anos anteriores, de acordo com um levantamento efetuado pelo setor de Vigilância Epidemiológica da secretaria municipal da Saúde. Em 2012, foram registradas seis mortes autoprovocadas, contra 12 em 2011 e 15 em 2010. O número está bem próximo do mínimo já registrado desde que o levantamento é feito em Bento, nos últimos 21 anos: em 1995, foram quatro mortes.
“É uma boa surpresa”, afirma o coordenador da Vigilância Epidemiológica, José Antônio da Rosa. Conforme o coordenador, no entanto, não há explicação definitiva para a redução dos índices. “Pode ser uma variação normal. Os números podem variar bruscamente” explica José. Enquanto o menor número de suicídios já registrado em Bento Gonçalves em um ano foi quatro, em 1995, o maior foi em 2000, quando houve 17 casos.
O suicídio ficou em terceiro lugar no número de mortes por causas externas em Bento Gonçalves em 2012. Segundo a Vigilância Epidemiológica, o maior número ocorre em virtude de acidentes de trânsito: 38% dos casos. Em segundo lugar, vêm os homicídios, que correspondem a 21% das mortes por causas externas, e em seguida os suicídios, com 17,5% dos casos.
Municípios desenvolvidos têm maior número de casos
A média de suicídios por número de habitantes em Bento Gonçalves costuma ser superior à média do Rio Grande do Sul. Em 2010, o índice foi de 13,9 mortes autoprovocadas para cada 100 mil habitantes na cidade, contra 9,7 no Estado. Em 2011, foram 11,1 em Bento e 9,5 em nível estadual. Ainda não há dados sobre essa taxa para 2012 em todo o Rio Grande do Sul, mas em Bento esse número, por conta da redução nas mortes, foi de 5,5.
A explicação para a taxa maior em Bento, segundo o coordenador da Vigilância Epidemiológica, José Antônio da Rosa, é o fato de que há uma média maior de suicídios em regiões mais desenvolvidas e cidades mais populosas do que em municípios menores. As cidades pequenas, portanto, contribuem para a redução da taxa em nível estadual.
Em 2011, Bento Gonçalves ficou em segundo lugar no número total de suicídios entre os municípios gaúchos com mais de 100 mil habitantes. Santa Cruz do Sul foi a cidade que registrou o maior número, com 28 casos. “Com os dados de 2012 vamos passar para o final desta lista”, afirma José.
Dez tentativas para cada morte
O número médio de suicídios em Bento Gonçalves é de cerca de 15 casos por ano, conforme o levantamento feito no município. Essa estatística, no entanto, esconde um dado importante: para cada morte consumada desde que os números começaram a ser compilados, há aproximadamente dez tentativas, segundo o coordenador da Vigilância Epidemiológica, José Antônio da Rosa. “O suicídio é só a ponta do iceberg. Também temos a preocupação com quem tenta causar a própria morte”, atesta o coordenador. A maior parte das tentativas ocorre entre as mulheres: a frequência é três vezes maior que entre os homens. O número de mortes consumadas, no entanto, é cinco vezes maior entre as pessoas do sexo masculino.
Segundo José, a secretaria municipal de Saúde faz um trabalho de acompanhamento aos que tentam o suicídio. Há suporte psicológico imediatamente após a tentativa e posteriormente, conforme as circunstâncias. O Pronto Atendimento Médico do município também recebe pessoas que não chegaram a tentar o suicídio e que buscam ajuda. A ideia é evitar a ocorrência. “O Pronto Atendimento é a porta de entrada dos serviços de saúde. A pessoa pode buscar atendimento, pelo menos para uma primeira abordagem, uma conversa, por exemplo. Se houver necessidade, a pessoa pode ser medicada. Depois disso, o paciente será encaminhado ao setor de Saúde Mental do município”, explica o coordenador.
Atendimento
Caxias do Sul conta com um serviço que também atende moradores de Bento Gonçalves. O Centro de Valorização da Vida (CVV) possui voluntários que atendem telefonemas de pessoas que querem conversar sobre problemas pessoais e desabafar. A conversa, sempre sigilosa e sem julgamentos, pode contribuir para que a pessoa pense melhor e desista do suicídio. O número do telefone do CVV é (54) 3019 1141. O atendimento acontece diariamente das 7h30 às 18h.
Reportagem: Eduardo Kopp
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