O especialista dos especialistas
Engraçado como todos nós estamos nos tornando especialistas. Pessoas que nunca estudaram economia bradam com exatidão os passos que o governo deveria ou não tomar. Tais especialistas convergem, então, para o mesmo jogo de sempre: o jogo dos benefícios e seus beneficiários.
Falam em tocar na previdência e quem se aposentará nos próximos anos treme; falam em diminuir salário dos concursados e surgem milhares de textos sobre como o governo quer destruir o Brasil. Não darei minha opinião se estão ou não errados, mas me surpreende pessoas que viram o país se deteriorar na última década agora falarem como se quisessem salvar a pátria.
Tentei me aprofundar nos planos do novo governo e, sinceramente, achei muito complexo tudo que foi apresentado, hora parece salvação e no parágrafo seguinte uma dança de correntes criada em uma complexidade justamente para cravar ainda mais os dentes governamentais.
Acreditar sempre é banhar-se em uma inocência constrangedora, erguer a voz dizendo que Lula é inocente é uma atitude tão débil que merece nada menos do que a preocupação que se tem com loucos e suas imprevisibilidades. Mas há quem acredite. Acreditam em Lula, acreditam que o novo governo quer nos salvar, que medidas estão sendo tomadas somente para o bem ou o mal. Isso tudo porque deixou de importar a verdade e passou a sobrar ódio e oposições. O ódio transbordou, atacar se tornou o mantra daqueles que se julgam bons.
O maior perigo do homem está em quando ele para de ver seus crimes. Quando julgamos tudo somente a partir de nós, criamos um monstro cego e sedento por novas vigas que sustentem sua frágil e bondosa aparência. Mal ouvimos sobre algo e imediatamente calculamos como isso afetará nosso “órgão” mais sensível: o bolso.
Cuspimos sobre o interesse alheio, nos ocupamos assim de tal forma que não nos sobra espaço para ver que somos movidos pela mesma palavra: interesse. E se é de nossa natureza o querer, se está acima do consciente nossas necessidades, tudo o que pode nos tornar melhor não é sermos especialistas por uma semana em determinado assunto, mas, sim, percebermos justamente o que está a nos mover em cada opinião que emitimos.
Olhar para dentro é um caminho difícil e torturante, mas eis o único jeito de encontrarmos alguma lucidez em tempos nos quais a cegueira se tornou a tal ponto praticável que também agora se faz surda.
Lemos vinte linhas e achamos saber tudo, ouvimos a opinião de pessoas que nem sabemos por que admiramos e concluímos com exatidão, nos fechando para as demais opiniões. Você já parou para pensar, por exemplo, que alguém que você odeia pode estar certo? Não?! Pois lembre-se que existem três verdades: a sua, a minha e a verdade.
Em tempos difíceis, todos ficam muito próximos a serem vilões ou heróis, inclusive nós. E antes de ter certeza sobre ter escolhido o lado certo, pergunte a si quantas vezes você errou apenas nesta semana. E se todos se julgam heróis, onde afinal estão os vilões?