O filme da vida dos serranos

Mais do que satisfação, a notícia de que a região receberia as gravações de um longa-metragem conduzidas por Selton Mello foi recebida com frisson desde que foi confirmada, em agosto do ano passado. A equipe de produção está atuando na região há cerca de um mês e a atmosfera de instalações cinematográficas com a presença de atores renomados, nacional e internacionalmente, tem tomado conta das cidades da região – principalmente para quem tem participado diretamente dos trabalhos. 

Diversas seleções foram realizadas em busca de figurantes e atores locais para “O filme da minha vida”. Além de quem atua, muitos profissionais da região foram necessários para trabalhar atrás das telas, desde a produção, até oferecendo suas casas, estabelecimentos e serviços para a obra. 

Este foi o segundo filme para o qual o garibaldense Domingos Bongiorno, de 60 anos de idade, disponibilizou sua residência. A casa de madeira na linha Araripe, interior de Garibaldi, recebeu as filmagens ao longo de um dia e envolveu a família do agricultor, que mora no local. “É um orgulho ajudar na divulgação da cidade”, comemora Bongiorno. De acordo com a família, mais de cem pessoas passaram pela casa das 6h às 18h. Mesmo do lado de fora, eles puderam acompanhar o processo, que demandou a retirada de seus móveis e objetos de alguns cômodos e dos animais que criavam do lado externo. “Por causa do barulho”, explica o agricultor. 

As filmagens, literalmente, pararam o trânsito do Centro de Garibaldi no último domingo, dia 10. As ruas Buarque de Macedo, Júlio de Castilhos e Dr. Carlos Barbosa foram fechadas para a ambientação da década de 60, que contou com figurinos e veículos de época para viver a cidade fictícia de Frontera. Para isso, a produção teve o apoio de colecionadores locais de carros antigos, como Lucas Guarnieri. Ao longo de quatro dias ele alugou seus dois Fords (1959 e 1972) e acompanhou seu uso, além de atuar guiando os automóveis. “Assistindo a um filme a gente não imagina a dimensão da estrutura que está por trás. Está sendo uma experiência incrível”, garante o jovem. 

Ter seu estabelecimento usado entre os cenários, não apenas em um domingo, mas no Dia das Mães, não foi problema para a comerciante Anette Deconti Pivatto. “Precisei deixar o espaço limpo na vitrine ainda no dia anterior para a montagem”, conta. “Eles repetem a mesma cena várias vezes, incluindo os carros e figurantes, até ficar perfeito”, completa Anette. Na cena, a loja de calçados vira a vitrine onde o protagonista encontra um diário, essencial para a trama. A proprietária pôde acompanhar de perto Selton Mello orientando Johnny Massaro – e os fãs e curiosos que também queriam espiar a cena, junto às faixas que delimitavam o espaço. Enquanto trabalha, a produção solicita apoio dos vizinhos para evitar barulhos e fotografias.


Perto do ídolo

A vontade de ter contato com o global motivou a participação de muita gente no filme. Funcionária de uma agência bancária em Bento Gonçalves, Bruna Pegoraro atuou como figurante no último final de semana. “Tinha curiosidade sobre como isso funcionava e sim, existe a claquete, câmeras e um diretor. A equipe e o Selton foram muito legais e atenciosos”, elogia Bruna, que também participou do quadro “Dança da Galera”, em 2013.  Ela explica que as cenas envolvendo muitas pessoas na figuração foram rodadas, principalmente, nos finais de semana e à noite, para não interferir na rotina de trabalho dos participantes. “A roupa e penteado que são usados no dia da gravação são definidos anteriormente. Na hora, é só fazer e as peças que vou usar estão em um cabide com meu nome”, conta a jovem. 

Experiência

Também figurante do filme, a garibaldense Greice Emer quer levar a experiência para o currículo. “Só em ter contato com gente que tem um grande conhecimento sobre arte, produção, fotografia, figurino e maquiagem já foi um aprendizado. É um mundo à parte do nosso, é mágico”, afirma a jovem de 24 anos, que já integra uma companhia teatral em sua cidade e se declara apaixonada pelo mundo artístico.

Ao contrário de muitos participantes locais, para a produtora Deise Chagas, moradora de Bento, o trabalho é mais um entre vários já contabilizados no currículo – entre eles, as obras já conhecidas na região, como “Consertam-se gaitas”, “Villa Fitarelli” e “À sombra das videiras”. Trabalhar ao lado de globais também não é novidade para ela, que esteve na produção do filme “Diminuta”, gravado em Flores da Cunha em setembro do ano passado, com Reynaldo Gianecchini e Deborah Evelyn no elenco. “Trabalho nisso há cinco anos e vejo mudanças no setor desde então. A Serra se vende por si só pelos cenários, mas ainda é preciso mais gente para mão de obra”, acrescenta. Deise afirma que sua atuação em “O filme da minha vida” segue até a chamada “desprodução”, que é a dissolução do trabalho, em junho de 2016. 

Receptividade

A boa aceitação dos moradores da Serra para com a produção não passou despercebida pela Bananeira Filmes, responsável pela obra. Em um bate-papo realizado na Câmara de Indústria e Comércio (CIC) de Garibaldi na última semana, a equipe agradeceu a compreensão dos moradores sobre as alterações em sua cidade, como a interrupção do fluxo nas ruas e a pintura do meio-fio, por exemplo.

“Nós somos como um circo, causamos impacto por onde passamos. Estamos trabalhando, e muito, então esperamos que isso possa inspirar algumas pessoas para que tenham o desejo de levar isso para sua vida”, afirma a produtora Vania Catani.  

Durante e depois da passagem de uma produção cinematográfica, a expectativa é pela movimentação econômica em diversos setores nas cidades que a recebem. “É geração de mais trabalho, mais emprego, tem pessoas usando hotéis, comprando, comendo em restaurantes”, cita o produtor Leonardo Edde. 

A secretária municipal de Turismo e Cultura de Garibaldi, Ivane Fávero, que tem acompanhado de perto o trabalho da produtora – e inclusive atua como figurante no filme –, aposta que a obra marcará a história da região. “É um impacto muito positivo para a cidade. Já estamos trabalhando o roteiro turístico com os locais que aparecem no filme e queremos deixar a placa de Remanso (cidade fictícia da trama) em um dos lados da estação férrea”, adianta a secretária.

Para Selton Mello, o que difere o cinema da televisão e do teatro é sua permanência. “Enquanto os outros são efêmeros, o cinema é eterno, fica para sempre. A gente não vai mais estar aqui, outras gerações virão e daqui a cem anos o filme pode estar em algum veículo que a gente ainda nem sabe que vai existir”, avalia o diretor, que acredita que o filme tem todos os ingredientes para ser o filme da vida dele. “Tem sido, até agora”.

Reportagem: Priscila Pilletti


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