“O negro tem que andar ao lado e não atrás”
Na semana em que foi comemorado o Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, o artista bento-gonçalvense Moacir Corrêa participou de atividades em várias escolas da cidade, conversando com jovens estudantes sobre a cultura afro e contextualizando historicamente a importância do negro na sociedade. Nos educandários, segundo Correa, a discussão do tema fluiu de uma forma tranquila, muito mais como uma troca de experiências entre gerações do que uma abordagem sobre diferenças étnicas que, muitas vezes, originam preconceitos. “É um momento crucial na vida deles, em que eles começam a entender muitas coisas. Apesar de alguns ainda vivenciarem o preconceito dentro da própria família, percebo que a gurizada não tem essa malícia. E o que eles ouvem e falam aqui, também podem levar de volta para casa”, afirma.
Para demonstrar a força do que ele diz ter conquistado com a “ousadia” que os negros, na sua visão, ainda devem manter para lutar pela igualdade que lhes é direito, Corrêa relembra os tempos em que vivia na antiga Vila Operária (hoje, Conceição), logo após os 10 anos de idade. “Meu próprio pai, naquela época, entendia que eu e meus irmãos, que éramos 14, tínhamos que nos conformar em ter sub-empregos, em ficar no que seria ‘o nosso lugar’. Eu me excluí, caí fora porque não aceitava essa condição apenas por ser negro. E o meu aperfeiçoamento pessoal só veio quando eu fiz essa ruptura com essa cultura de submissão. O negro tem que andar ao lado e não atrás”, destaca.
Mas, mesmo com a certeza de que poderia conquistar seu espaço pelo próprio esforço, ele rememora épocas mais complicadas, principalmente quando decidiu se dedicar aos estudos artísticos. “Claro que enfrentei bastante preconceito, principalmente no começo. Estamos falando da década de 1970, 1980, em que tudo ainda era muito dividido em Bento. O teatro me abriu caminhos, me tornei conhecido pelo que sou e faço, mas antes disso eu era visto apenas como um negro metido. Só que eu não desisti e busquei meu espaço com o que todos nós, de qualquer cor de pele, temos: cérebro”, completa Corrêa, que com 53 anos de idade já acumula quase 40 no universo do teatro e da dança.
Sobre o atual cenário em Bento, o artista lamenta que algumas situações ainda se perpetuem, mas reforça que é justamente o não conformismo que pode mudar essa condição. “As coisas poderiam ser ainda melhores, mas a verdade é que, de um modo ou de outro, todos temos preconceitos. Isso, infelizmente, é do ser humano, que sempre tenta subjugar os outros. Mas nós estamos nesse mundo para somar informações e há coisas que eu não aceito, como essa tentativa de nivelar as diferentes culturas. Eu sou um ser cultural e pensante, independente de minha cor, da qual tenho muito orgulho”, diz Corrêa.
Reportagem: Jorge Bronzato Jr.
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