O ocaso do governo Roberto Lunelli

Roberto Lunelli está prestes a deixar a prefeitura de Bento Gonçalves. Após quase quatro anos, o prefeito, que passará o cargo no dia 1º de janeiro para Guilherme Pasin, lida agora com o ocaso da sua administração. Poderia ter sido um final mais feliz, mas a crise financeira que a prefeitura enfrenta legará más lembranças ao imaginário bento-gonçalvense. E assim, os últimos dias do governo PT em Bento são de explicações e tentativas de não se deixar esquecer os acertos. A sensação, no entanto, é de que não se passará um bastão. Se passará um problema.

Lunelli admite o desgaste, mas gosta de destacar uma série de obras de seu período e garante: fez um bom governo, contou com uma equipe “do bem” e mudou a cidade para melhor. Em uma conversa de cerca de uma hora com o SERRANOSSA, Lunelli falou sobre os erros e acertos de sua gestão à frente da prefeitura. Disse não se arrepender das decisões que tomou, inclusive as polêmicas, mas ressaltou que teria “confiado menos em certas pessoas”, em referência ao ex-secretário municipal de Finanças Olívio Barcelos de Menezes, caso pudesse voltar atrás. Confira os destaques.

Na visão de Lunelli

Legado

“Sempre trabalhei com a possibilidade de ficar oito anos como prefeito de Bento Gonçalves. Nos primeiros quatro anos, o foco seria trabalhar o ser humano. Fizemos isso com a reforma das praças e a construção de postos de saúde e creches. Nos outros quatro anos, trabalharíamos a parte física do município, a infraestrutura. O Hospital do Trabalhador vai ficar para a história de Bento Gonçalves. Tirando esses três últimos meses, muita coisa foi feita, em todas as áreas. De diferente, teria apenas confiado menos em pessoas que não mereciam a minha confiança.”

Animais de concreto

“Os animais de concreto foram comprados com recursos do Fundo Municipal do Meio Ambiente. Quando começaram a falar contra, eles já estavam comprados, já estavam pagos. O maior problema (número de protestos) foi na praça Vico Barbieri. No bairro Fátima as pessoas gostaram. Isso fez parte de um projeto de levar as pessoas de volta para as praças. Reformamos, iluminamos melhor, colocamos internet grátis. E as pessoas voltaram para as praças. Os adultos reclamam dos animais de concreto, mas as crianças todas gostam.”

Patrono da Feira do Livro

“O Gabriel O Pensador foi convidado para ser patrono da Feira do Livro. Como com todos os outros patronos, o custo seria transporte, hospedagem e alimentação. A compra dos livros foi um outro projeto, da secretaria municipal de Educação, para distribuir às crianças. Juntaríamos os dois e levaríamos o artista para perto dos leitores. Uma coisa é comprar um livro e dar para uma criança ler. Outra coisa é comprar o livro e levar o autor para dar palestra, falar com a criança, passar a mão na cabeça e fazer ela ler.”

Crise

“Já temos o valor que foi roubado da prefeitura. São mais ou menos R$ 360 mil. Sabemos de onde saiu, quem pagou, quem recebeu, tudo. Desse dinheiro vai ser feito o pedido de devolução aos cofres públicos. Isso é uma coisa. A outra é a insolvência financeira, que são os R$ 35 milhões que foram falados. Hoje este número está em menos de R$ 8 milhões. O que aconteceu é que fomos gastando um dinheiro que não tínhamos e não sabíamos. Não temos uma projeção de quanto ficará em restos a pagar para o próximo governo. Se eu tivesse sido eleito, a crise estouraria do mesmo jeito. Não tem como esconder atraso de pagamento de folha ou atrasos com fornecedores.”

Suspeitas

“Dizem que eu roubei R$ 35 milhões. Dizem que tenho casa em Balneário Camboriú, apartamento em Brasília, fazenda em Goiás. É mentira. Não roubei nada. Meu patrimônio não mudou desde que fui eleito. A única coisa que mudou foi o salário, que antes era de professor e hoje é de prefeito. Troquei de carro, passei de um carro ano 2003 para um ano 2010, e comprei duas TVs de 32 polegadas. Fora isso, nada mudou.”

Derrota na eleição

“Quando demitimos a Luana (Luana Della Valle Marcon, suspeita de ser responsável pelos supostos desvios de recursos da prefeitura), faltando um mês para a eleição, começaram a utilizar muito isso, falar de roubos. Isso pegou muito. Também praticaram o ‘voto útil’ para apoiar o candidato que venceu. Mas a diferença de votos foi bem pequena, temos muita gente nos apoiando.”

Futuro político

“Não pensei, nem por um segundo, no que vou fazer quanto ao meu futuro político. Nestes últimos meses, tenho me dedicado a essa questão da crise e vou continuar até o último dia. Vou decidir isso depois. Vou continuar morando em Bento Gonçalves. Acho que ficou um desgaste para o PT por causa da crise e vamos ter que lidar com isso, trabalhar para mostrar toda a verdade.”

 

Reportagem: Eduardo Kopp


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