O que explica a alta nas vendas do vinho nacional?

O aumento da venda de vinhos nacionais este ano trouxe uma dose de ânimo à cadeia produtiva da uva e do vinho que há tempos vinha amargando queda na comercialização. Diversos fatores contribuíram para este aumento de competitividade que não está apenas ligado à pandemia do Coronavírus, mas a uma série de outras condições que se somam nos últimos 20 anos. Melhora expressiva da qualidade, diversidade de estilos com o surgimento de novas regiões produtoras, melhor distribuição e acessibilidade, preço justo, avanços no enoturismo, mudança nos hábitos e, principalmente, o câmbio favorável, colaboraram para este incremento de 37,22% nas vendas de vinhos finos e espumantes, de janeiro a agosto em relação ao mesmo período do ano passado. 

Assim, de gole em gole, o setor vitivinícola nacional vem conquistando mais espaço na mesa do brasileiro. Em 2019, por exemplo, segundo dados da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), o Brasil conseguiu romper a barreira dos 2 litros per capita – hoje em 2,13L -, um sonho de muitas safras e que ganha novas perspectivas. “O que o setor vitivinícola brasileiro semeou desde o início da imigração italiana está sendo colhido. Mas o grande avanço veio nos últimos 20 anos com a profissionalização do setor, que transformou a vitivinicultura brasileira. Esperamos poder seguir brindando”, destaca o presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Deunir Argenta.

Quanto à qualidade, a evolução é incontestável, atestada pelas 4.535 premiações conquistadas de 1995 a 2019 em concursos internacionais. Segundo dados da Associação Brasileira de Enologia (ABE), os espumantes lideram as premiações, mas os vinhos tranquilos vêm ampliando seu espaço. Das 259 premiações conquistadas em 14 países no ano passado, por exemplo, 94 foram para vinhos tranquilos, ou seja, quase 40% do total. “O Brasil tem grandes rótulos de espumantes e de vinhos tranquilos, mas tem também uma diversidade que permite atender diferentes estilos e momentos com excelente relação custo-benefício”, avalia o presidente da ABE, enólogo Daniel Salvador. Atualmente, o Brasil possui 26 regiões produtoras de vinhos em 10 estados brasileiros (BA, ES, GO, MT, MG, PR, PE, RS, SC e SP), o que tem ofertado uma gama de vinhos com terroirs diversos.

A pandemia também impactou o consumo de vinho no Brasil. Em razão do fechamento de bares e restaurantes, o consumo da bebida em casa aumentou, levando as pessoas a visitarem lojas virtuais de vinícolas, comprando vinhos direto da fonte ou então em supermercados, que por serem essenciais nunca fecharam. Ganhando o status de ‘bebida da pandemia’, o vinho brasileiro mostrou estar melhor distribuído, com acessibilidade diante da aceleração do e-commerce e com preço competitivo. A queda da Substituição Tributária (ST) em estados como o RS, SP, SC, PR e BA somam-se a uma série de conquistas que favorecem o vinho nacional. Neste sentido, agora a Uvibra trabalha em conjunto com o Governo do Rio Grande do Sul para que Rio de Janeiro e Minas Gerais sigam o mesmo exemplo.

Para o setor, é evidente que a variação cambial foi determinante para o aumento da competitividade do vinho nacional. “Com o aumento do dólar os importados ficaram mais caros, levando o consumidor a optar pelos nacionais e, assim, fazer grandes descobertas diante da confirmação da qualidade, da melhor distribuição e da acessibilidade favorecida, principalmente, pela aceleração do e-commerce”, analisa Argenta.

Com a retomada segura do turismo, o enoturismo, grande responsável pelo sustento das pequenas vinícolas familiares que são maioria no setor, é mais um dos fortes aliados. Apostando em experiências sensoriais capazes de criar memórias para uma vida inteira, as vinícolas não medem esforços para criar novos atrativos em torno da cultura do vinho. E é justamente isso que vem fidelizando os apreciadores que, além de um bom vinho, buscam vivências únicas. Além disso, o locavorismo (preferência por comprar e consumir o que é local) é uma tendência que ganhou ainda mais adeptos durante a pandemia.

Fonte: Uvibra