O que pensa o futuro prefeito

Ele foi eleito com uma margem apertadíssima, como há muito não se via em Bento Gonçalves. Venceu o atual prefeito com diferença de 383 votos em uma apuração tensa e definida apenas nas últimas urnas e será um dos prefeitos mais jovens do Rio Grande do Sul a partir de janeiro de 2013. Guilherme Pasin (PP), advogado e gestor público, 29 anos, dá agora os primeiros passos para um desafio enorme: governar Bento Gonçalves. 

Pasin recebeu o SERRANOSSA para uma entrevista na terça-feira, dois dias após saber que será prefeito. Depois de uma maratona de compromissos, o momento agora, para ele, é de recarregar as baterias e começar a planejar o governo. Os projetos são vários, e a vontade de realizá-los parece ser grande. “Eu me preparei muito para isso”, garante o futuro prefeito. Confira o que pensa Guilherme Pasin sobre a política e o futuro de Bento Gonçalves:

Jornal SERRANOSSA: Como foi acompanhar uma apuração tão apertada, com mudanças constantes na liderança?

Guilherme Pasin: Durante a apuração, eu estava supertranquilo. Cheguei a ficar tenso em alguns momentos ao ver a feição do pessoal da coordenação de campanha que estava comigo. Mas eu estava muito tranquilo pelo que a gente fez no decorrer da campanha. Caminhamos muito nos bairros, falamos com muita gente, fizemos muitas reuniões. Foram três meses intensos em busca de votos. 

SERRANOSSA: Durante a apuração, em que momento a vitória virou certeza?

Pasin: Foi apenas em uma das últimas atualizações do TSE, quando houve um salto de 88% para 99,5% de urnas apuradas no domingo. Durante a apuração, nós não tínhamos noção, porque a abertura da urna é aleatória, a gente não sabe de onde vem. Mas, desde a quinta-feira anterior ao pleito, sentimos que a situação estava muito boa. Na quinta-feira, eu senti uma coisa muito diferente. Senti aquele voto silencioso, aquele sorriso no rosto, aquele abraço mais apertado, o carinho que o pessoal demonstrava. Lógico que em todos os momentos da campanha nós fomos muito bem recebidos, mas na quinta-feira foi uma coisa diferente: a gente começou a receber aquele sorriso de confiança. Foi muito bonito.

SERRANOSSA: O senhor já conversou com o prefeito Roberto Lunelli sobre o processo de transição?

Pasin: Ainda não. Vamos esperar assentar a poeira e deixar passar esta semana, aí a gente vai agendar uma audiência com o prefeito para tratar do gabinete de transição. Agora é mais importante deixar acalmar esse clima de eleição. Tenho convicção de que o atual governo será muito aberto, muito respeitoso, e vai nos dar muita tranquilidade nesse processo. Acredito que o objetivo deles não é diferente do nosso, que é fazer um bom trabalho para a comunidade.

SERRANOSSA: Há receio de encontrar alguma coisa mal-resolvida, algum problema na prefeitura?

Pasin: Não temos receio disso. Não estamos entrando com essa expectativa de encontrar ou procurar problemas dessa gestão. A gente sabe, por meio da imprensa, que existem alguns assuntos que estão sendo tratados pelo Ministério Público, pelo Tribunal de Contas e por outros órgãos do Poder Judiciário. Está sendo tratado por eles, isso não compete a nós. Não vamos entrar com clima de revanchismo, não vamos fazer caça às bruxas, esse não é o objetivo. Nosso objetivo é virar a página, deixar para trás distensões partidárias, brigas políticas, e começar a pensar no futuro de Bento.

SERRANOSSA: Ainda dá tempo de participar da formatação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)?

Pasin: Não queremos interferir. Lembro que em 2008 o antigo governo recebeu muito bem, abriu muitas portas para a transição. No entanto, houve uma interferência muito forte nesse processo. Confio muito na isenção do atual prefeito. Ele é o prefeito do nosso município, será prefeito até o dia 31 de dezembro, e até lá ele precisa agir com toda a responsabilidade. Acreditamos que ele vá fazer um planejamento orçamentário para o próximo ano de acordo com o que precisa ser feito. E nós utilizaremos esses recursos da melhor forma, reduzindo as despesas correntes e priorizando a aplicação deles para o que for necessário.


SERRANOSSA:
PMDB e PP acabaram elegendo cinco vereadores. Como o senhor irá garantir a maioria nas votações na Câmara?

Pasin: Nós temos plena convicção de que os poderes são independentes e é assim que a gente vai tratar. Confiamos e acreditamos que eles vão fazer o trabalho deles em prol do município. Seremos parceiros, porque acredito que todos tenham interesse em mostrar trabalho.

SERRANOSSA: Há espaço para outros partidos no governo?

Pasin: Desde o início da eleição, eu e o Gabardo deixamos muito claro: não permitimos que nenhum dos nossos partidos tratasse de divisão de cargos ou rateio do governo.  Nós precisávamos vencer as eleições e não é agora, no afogadilho, de uma hora para outra, que a gente vai tratar disso. Nosso governo terá um caráter eminentemente técnico. Tentaremos conciliar o lado político, naturalmente, mas o critério técnico é o que pesa mais. O povo nos deu este voto de confiança em cima de uma proposta de governo técnico.

SERRANOSSA: O senhor já sabe com quantas secretarias vai governar? Haverá criação de novas pastas ou redução nesse número?

Pasin: Não temos o organograma da prefeitura ainda. Durante a transição iremos sentar e definir. Vamos ter acesso à previsão orçamentária e somente a partir disso conversaremos. Nosso grande desafio é reduzir as despesas correntes do município e fazer com que sobrem mais recursos de nosso caixa para investimentos. 

SERRANOSSA: O que o senhor fará no seu primeiro dia de governo?

Pasin: O primeiro dia de governo se dá ainda na instalação do gabinete de transição. É aí que ocorre o planejamento. Estou marcando viagem para Brasília, para audiências com a senadora Ana Amélia Lemos (PP), com o ministro das Cidades, Aguinaldo Velloso Borges Ribeiro, e com o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Mendes Ribeiro Filho. Vamos iniciar o nosso trabalho, não podemos ficar esperando acontecer. Nós vamos cumprir nossos compromissos, nosso plano de governo vai ser respeitado.

SERRANOSSA: O senhor irá manter projetos da atual administração? 

Pasin: É responsabilidade nossa, como gestores públicos, dar continuidade e concluir as obras que foram iniciadas. Vamos dar continuidade aos projetos que foram iniciados e, se necessário, ampliá-los, mas vamos ter um critério muito correto, agudo, na avaliação de todos os projetos  que estão sendo desenvolvidos. As obras vão ser concluídas, não tenha dúvida: todo real investido, se não tiver continuidade, é dinheiro mal gasto.

SERRANOSSA: Seu governo levará adiante o projeto da Unidade de pronto-atendimento (UPA) que a administração atual batizou de Hospital do Trabalhador?

Pasin: Essa UPA regional atenderá 21 municípios e trará para Bento Gonçalves a responsabilidade de atendimento de mais de 200 mil habitantes da região, com uma contrapartida irrisória do governo federal. Quem vai ter que arcar com a maioria dos custos vai ser o povo de Bento. E aí vão começar a explodir problemas nos postos de saúde dos bairros. Precisamos de uma audiência junto ao Ministério da Saúde para ver como essa questão vai ser realizada. Entendemos que a UPA precisa ser do tipo 2, municipal, e não regional. Não nos negamos a atender a região, mas a prioridade vai ter que ser Bento Gonçalves. Precisamos ir junto ao governo federal para fazer a migração da UPA 3 para UPA 2, mesmo que precisemos fazer um aditivo contratual. Precisamos fazer com que essa UPA atenda o povo de Bento Gonçalves. Se for pensar em uma questão regional, temos que mudar o vértice: pensar numa estrutura mantida por um consórcio regional, onde todos os municípios arquem com recursos proporcionalmente ao seu número de habitantes. É uma boa saída.

SERRANOSSA: O senhor restabelecerá os repasses à Fundação Consepro? 

Pasin: Entendemos que esta mudança nos repasses foi pouco discutida com as partes interessadas. É de nosso conhecimento que as forças policiais não concordaram. Acredito muito na fórmula do Consepro e vamos tratar disso com o poder do convencimento.

SERRANOSSA: Durante a campanha, o senhor prometeu um sistema de transporte público com tarifas mais justas. Como isso vai ser alcançado?

Pasin: Isso é possível, mas o Poder Público precisa fazer sua parte. A tarifa vai ser mais justa se a viagem for mais rápida, se houver condições de trafegabilidade, redução de custos. O município pode fazer isso, e eles (o empresariado) estão dispostos. Temos que pensar soluções para o nosso trânsito: a sincronização de sinaleiras dá um impacto muito grande, a construção de edifícios-garagem no Centro, a redução, em médio prazo, dos espaços de estacionamento nas ruas, a fiscalização maior no horário da coleta de lixo no Centro e do abastecimento do comércio, a discussão do fluxo de caminhões. Precisamos agir. E a partir disso conseguiremos ganhos expressivos.

SERRANOSSA: Essas são soluções mais simples, dentre outras propostas de sua campanha, como viadutos, túneis e avenida perimetral. Qual é a viabilidade dessas outras ideias?

Pasin: Total. Nós vamos fazer. Na década de 70 a população era menor que a metade de hoje. O nosso orçamento era apenas um quarto do que temos hoje. E foram feitos cinco viadutos. Tivemos diversas grandes obras. O grande problema é que nos últimos tempos nós perdemos a cultura de grandes obras. Precisamos voltar a isso, e só vamos conseguir se tivermos a priorização do dinheiro do contribuinte. O dinheiro tem que ser investido naquilo que realmente impacta. Existem recursos, existem formas de fazer. Não se muda o trânsito da cidade colocando rotatórias e trocando a orientação do fluxo de veículos. É preciso planejar Bento. Temos que abrir ruas, construir viadutos, fazer ligação interbairros. Também temos que continuar incentivando a descentralização de serviços para os bairros. Precisamos fazer com que não seja obrigatória a vinda da população para o centro.

SERRANOSSA: Como será a implantação das escolas de turno integral em seu governo?

Pasin: O contraturno é necessário. Precisamos implantar de forma urgente. Temos que fazer com que as crianças fiquem dentro de uma estrutura pública no turno contrário ao das aulas. Estamos no meio de um clima muito favorável para que as crianças saiam dos trilhos: são drogas, más influências, álcool… Não podemos deixar que isso aconteça. Se esperarmos para fazer em todas as escolas ao mesmo tempo, não vamos ter estrutura e nem organização para isso. Mas temos que dar o primeiro passo.

A eleição

Guilherme Pasin foi eleito prefeito de Bento Gonçalves com 29.395 votos, equivalente a 44,8% dos votos válidos. Em segundo lugar, com 383 votos a menos, ficou o atual prefeito, Roberto Lunelli (PT), que atingiu 44,21% da preferência do eleitorado. “Ao projeto vencedor, nosso parabéns e o desejo de que todas as obras por nós iniciadas sejam concluídas. Nossa missão na política não é pessoal, é coletiva!”, declarou Lunelli, em nota. Juarez Piva (PDT) obteve 8,48% dos votos, Adroaldo Dal Mass (DEM) ficou com 2,25% e Elmar Cainelli (PSC) teve 0,26%.

Veja a cobertura da eleição aqui

Reportagem: Eduardo Kopp

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