O turismo para quem é daqui

Quem já não ouviu – ou até disse – que em Bento Gonçalves há poucas opções de lazer? Muitos têm o hábito de não valorizar o que é daqui, mas você já parou para pensar que talvez seja apenas porque você não conhece tudo o que a cidade tem a oferecer? As avaliações dos turistas em sites de viagem são, em sua maioria, positivas e recomendam a visita. Não é difícil compreender a razão: depois de conhecer alguns principais atrativos, é praticamente impossível não se apaixonar por Bento Gonçalves.

Se nos compararmos com cidades mais populosas, é claro que ficaremos em desvantagem, especialmente no que diz respeito a opções que não girem em torno da temática da cultura italiana. Mas, como explica o secretário de Turismo, Gilberto Durante, essa identidade é justamente o nosso diferencial e está presente, em maior ou menor grau, em todos os roteiros. “O Brasil está descobrindo o outro lado da Serra. Os turistas encontram aqui um novo produto, com motivação para ficar mais tempo. Temos tranquilamente atrativos para que permaneçam sete dias na cidade, algo que não existia no passado”, comemora. 

O turismo movimenta 52 setores econômicos diretamente. As ações em Bento Gonçalves são voltadas para três públicos distintos: turistas hospedados aqui, visitantes de apenas um dia e a comunidade local. Os visitantes gaúchos são maioria – especialmente aos finais de semana –, seguidos por paulistas, catarinenses, paranaenses, fluminenses e mineiros. Bento Gonçalves é preferida por famílias em viagens de lazer e também pelo público corporativo (eventos e negócios), ao contrário da Região das Hortênsias, que recebe mais grupos de excursão. A ocupação hoteleira média gira em torno de 53% a 55%, índice considerado satisfatório por Durante, mas que pode ser melhorado.

A questão turística, conforme o secretário, começou a ser trabalhada no município há cerca de 35 anos, mas ganhou força nos últimos dez. Entre os segmentos turísticos, o enoturismo é o carro-chefe, seguido por negócios e eventos. Há ainda turismo cultural, o rural e o de aventura. Um dos maiores desafios na visão de Durante, diz respeito ao segundo lugar da lista. A modernização do Parque de Eventos e o crescimento consolidado da capacidade hoteleira, passando dos atuais 2.800 leitos para cinco mil, podem fazer com que Bento Gonçalves aumente o porte das feiras que sedia.

Em relação ao turismo de lazer, a tarefa é aumentar a oferta de entretenimento para os públicos infantil e adolescente sem, é claro, perder a nossa essência. O suco de uva, bastante apreciado pelas crianças, pode facilmente virar tema de alguma atração e entreter os pequenos enquanto os pais degustam os vinhos. Entre as opções já disponíveis podemos destacar a Casa da Ovelha, nos Caminhos de Pedra – amamentar os filhotes é diversão garantida para toda a família –, e, para os mais corajosos, o Parque de Aventuras Gasper.

Enogastronomia conquista moradores

Para quem é daqui, o turismo acaba muitas vezes resumido à enogastronômia. Jantares durante a semana ou almoços aos finais de semana em estabelecimentos conceituados do ramo já fazem parte da rotina de muitas famílias. Segundo Durante, um dos pontos positivos é que, além da gastronomia, a comunidade usufrui dos eventos quando é chamada. Um dos exemplos é o filó realizado no Villa Michelon. Em algumas edições o público local ultrapassa 70%. Outra atração turística que vem conquistando os bento-gonçalvenses é o Wine Garden – espécie de piquenique, com serviço de alimentação e bebidas ao ar livre –, promovido pela Vinícola Miolo, no Vale dos Vinhedos. A atração estava na programação da nossa press trip, mas foi cancelada em virtude do mau tempo.

A descentralização de alguns eventos esportivos e culturais, como passeios ciclísticos, corridas e encontros de carros antigos, também faz com que a comunidade, aos poucos, descubra o interior.  Talvez seja preciso ainda mais um empurrãozinho, com ações de endomarketing que despertem nos bento-gonçalvenses a vontade de explorar as nossas belezas. Algumas capacitações a públicos específicos já foram feitas, contudo poderiam ser ampliadas.

Carências

Concordo com o secretário quando ele diz que o público local com menor poder aquisitivo fica em desvantagem. Para quem não tem carro, é mais difícil deslocar-se entre os atrativos – especialmente os localizados nos distritos, longe do centro da cidade. O preço salgado de algumas atrações é outro ponto negativo. Se quando estamos em uma viagem de férias não nos importamos em nos presentear com alguma visita ou refeição mais cara, a situação muda de figura ao pensar nas opções do dia a dia, especialmente em época de crise.

A boa notícia é que, aos poucos, os empreendimentos estão começando a se voltar à comunidade na baixa estação. É o caso do passeio de Maria Fumaça, que em fevereiro oferece desconto aos moradores das três cidades por onde o trem passa (Bento Gonçalves, Garibaldi e Carlos Barbosa). Alguns hotéis também fazem ações pontuais, com pacotes promocionais em datas de pouco movimento turístico, a exemplo do Dia dos Namorados ou Dia dos Pais. “Na baixa temporada, é quando tem que ser criativo”, afirma Durante, destacando que os períodos de fluxo turístico mais intenso são o inverno e os feriadões. Na vindima, a ocupação hoteleira também vem crescendo, e ultrapassa 60%.

O papel do trade turístico é provocar os empreendimentos e empreendedores. A secretaria municipal de Turismo (Semtur) até promove algumas ações para integrar a comunidade em datas pontuais – na Semana de Bento, é ofertado à comunidade um city tour gratuito –, mas toma cuidado para não roubar o trabalho das agências receptivas. Durante enumera uma série de opções gratuitas ofertadas em diferentes épocas do ano – sessões de cinema ao ar livre, cursos de degustação e atrações artísticas e culturais –, que têm como foco o público local. Entretanto, ele acredita que a participação ainda é pequena.

Acredito que o nosso senso crítico elevado, aliado ao desconhecimento, seja o principal fator que afasta os moradores das atrações. Já disse na reportagem que deu início a esta série que, apesar de nascer e ser criada aqui, só passei a amar Bento Gonçalves depois que conheci suas belezas e histórias com um empurrãozinho da profissão. Que tal neste final de semana desbravar um pouco do nosso interior? O turismo faz bem!

A série completa

07/08 – Comer, beber e recordar

14/08 – Gosto de saudade

21/08 – Do lazer ao progresso

28/08 – Paixão por história(s)

04/09 – Turismo para quem é daqui

* O SERRANOSSA foi um dos veículos convidados para a Press Trip de Inverno, promovida pela secretaria municipal de Turismo, em parceria com o Bento Convention Bureau e o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares da Região Uva e Vinho (SHBRS), com suporte do Laghetto Viverone Bento e operacionalização da Conceitocom Brasil.

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