“O voto obrigatório legitima a democracia”

Eu não gosto de política. Vou anular meu voto. Voto não deveria ser obrigatório. Certamente você já deve ter ouvido uma dessas três afirmações. Quanto mais se aproxima o dia das eleições, mais essas frases ecoam entre a população, seja nas ruas, em rodas de amigos ou em redes sociais. Mas por que será que tanta gente demonstra esse distanciamento das questões políticas? 

Para analisar a relação dos brasileiros com a política, o SERRANOSSA conversou com o cientista político Rodrigo Giacomet, que palestrou em Bento Gonçalves na última semana. Ele define a política como um mecanismo utilizado para garantir o bem-estar social. “A política faz diferença na nossa vida quando a olhamos de maneira coletiva. De todo nosso trabalho, 36% é destinado exclusivamente para os impostos. Esse dinheiro é usado para o bem-estar coletivo e quem gere esse recurso é a política”, explica. Giacomet diz ainda que o percentual que os brasileiros pagam de imposto é o mesmo pago pelos alemães. “Entretanto há uma grande diferença na maneira como esse recurso é investido se comparados os dois países”, observa. Confira a entrevista.

Jornal SERRANOSSA: É comum ouvir a expressão “eu não gosto de política”. A que isso se deve?

Rodrigo Giacomet: A ideia de que brasileiro não gosta de política é um mito. É natural ter uma parcela da população que conhece a política e não gosta. Mas também há uma parcela que não gosta de política, pois não a conhece por falta de escolaridade. Quanto maior a escolaridade, maior a participação política.

 
SERRANOSSA: De onde vem a ideia de que todo político não presta? O que precisaria ser mudado para reverter essa ideia?

Giacomet: Essa é uma ideia normal, ainda mais quando existe corrupção. Casos de corrupção na política ganham espaço, pois a política é o lugar onde ela não deveria existir. Isso gera descrédito. Mas a corrupção tende a diminuir com o aperfeiçoamento de mecanismos de controle, como a tecnologia, por exemplo, e dos órgãos fiscalizadores. O cidadão também passa a fazer uma cobrança maior. Chegará um momento em que corromper-se custará muito caro, pois o risco de ser descoberto será maior. O futuro é positivo.

 
SERRANOSSA: As ideologias partidárias continuam presentes ou se perderam?

Giacomet: Independente do partido e de sua ideologia, as gestões acabam sendo parecidas, por haver regras do que se pode fazer com o dinheiro público. Entretanto, a ideologia partidária está presente nas microdecisões que fazem parte da política e que afetam a nossa vida.

 
SERRANOSSA: Muitos reclamam da obrigatoriedade do voto. Ela é importante?

Giacomet: O voto obrigatório é um dos pressupostos da democracia. As estatísticas apontam que, em média, 10% do eleitorado não comparece no dia da votação. Há um rol de candidatos para se escolher apenas um. Se nenhum agrada, é porque está na hora de o cidadão fazer algo para mudar. Facultar o voto só faria com que a casta de votantes fosse muito pequena. Em regiões muito pobres, haveria muita compra de votos. Em síntese, seria mais fácil manobrar a política se o voto não fosse obrigatório.

 
SERRANOSSA: A relação que os moradores da região têm com a política possui alguma particularidade?

Giacomet: A Serra Gaúcha tem uma vantagem em relação às demais regiões. É o fato de as pessoas gostarem de se associar. É uma questão cultural, que vem dos antepassados e que fez muita diferença no desenvolvimento da região. É o chamado capital social, que demonstra a confiança que um povo tem em si mesmo.

 

Quem é Rodrigo Giacomet

O cientista político Rodrigo Giacomet esteve em Bento Gonçalves no dia 3 de julho a convite do Sindilojas e da União dos Grêmios Estudantis de Bento (Uges). Em evento realizado no auditório do Sesc, ele palestrou para estudantes engajados no movimento estudantil sobre a participação dos jovens na política e no desenvolvimento da sociedade.

Giacomet é natural de Caxias do Sul. Graduado pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), foi consultor político e coordenador da Assessoria Parlamentar da Fecomércio-RS. Foi integrante do Programa de Mestrado em Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS, professor universitário e coordenador do curso de Ciência Política da Faculdade América Latina, em Caxias e atuou em Brasília. Atualmente, possui uma empresa de consultoria.

Reportagem: Carina Furlanetto

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