Oferta de empregos cai 44,2% em Bento
Quem está em busca de recolocação no mercado de trabalho tem enfrentado mais dificuldades em Bento Gonçalves. As vagas ofertadas pela agência local da Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social/Sistema Nacional de Emprego (FGTAS/Sine) diminuíram 44,2% nos primeiros dez meses de 2015, em relação ao mesmo período do ano anterior. O coordenador da unidade, Alexandre Maso, detalha que, em 2014, de janeiro a outubro, foram captadas 2.471 oportunidades, enquanto, neste ano, foram apenas 1.378. “As empresas estão demitindo mais e reduziram praticamente pela metade as novas contratações”, observa.
Com a crise, a postura dos trabalhadores também mudou. Muitos, que antes esperavam o término do seguro-desemprego para procurar uma nova vaga, buscam a recolocação antes do vencimento do benefício. Os que conseguem o emprego não desistem da vaga, mesmo que a função, inicialmente, não agrade. Pessoas que detinham cargos com maior remuneração, em funções de gerência, por exemplo, e que normalmente procuravam vagas em agências particulares, estão aceitando até mesmo postos nas linhas de produção, com salários bem menores.
A falta de vagas disponíveis gera preocupação entre os candidatos que procuram a agência da FGTAS/Sine. Na manhã de quarta-feira, dia 11, o casal Fernanda Silva, de 19 anos, e Lucas Ezequiel Ribeiro Gonçalves, de 20, ambos desempregados, deixou o local sem realizar nenhum encaminhamento. Não havia nenhuma vaga compatível com o perfil deles. “Quero arrumar emprego com carteira assinada de novo, pode ser em qualquer firma, desde que tenha serviço”, desabafa Gonçalves, que, há seis meses, realiza trabalhos eventuais na área de construção, recebendo um determinado valor por dia. Fernanda, desempregada há poucos meses, também já deixou seu currículo em vários locais; entretanto, ainda não obteve retorno. “Eles dizem que não estão contratando no momento”, relata.
Seguro-desemprego
Os dados do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, compilados pelo Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul (UCS), mostram que, até setembro, foram fechados 863 postos de trabalho em Bento Gonçalves. Nos últimos 12 meses, foram 1.643, um decréscimo de 3,81%.
O setor que mais desempregou foi o da indústria de transformação, com 1.701 vínculos encerrados. Com as demissões, cresceu a procura pelo seguro-desemprego. De janeiro a outubro de 2015, houve aumento de 4,5% nos encaminhamentos. Embora o número não seja considerado expressivo, é preciso levar em conta as mudanças nas regras de encaminhamento do benefício – o que, naturalmente, reduziria o número de pedidos.
Processos trabalhistas aumentam com a crise
Em meio à crise, de acordo com o advogado Alex Jacson Carvalho, da Gabardo Advocacia, de Bento Gonçalves, houve aumento do volume de processos trabalhistas. “As empresas estão demitindo bastante. Percebemos um aumento significativo no número de consultas, gerado diretamente em função destas demissões e de pessoas com muito receio de serem dispensadas”, destaca.
Ao mesmo tempo em que muitos trabalhadores acabam não ingressando com as ações por medo de não conseguir a recolocação no mercado de trabalho – as ofertas de emprego também estão mais escassas em função da crise –, Carvalho ressalta que é possível perceber o aumento de questões pontuais, relacionadas a empresas que demitem um grande número de funcionários. Algumas encerram as atividades e não têm condições de arcar com os compromissos trabalhistas, o que gera um número grande de processos. Segundo Carvalho, os setores mais afetados com a crise no município foram o metalúrgico e o mobiliário.
Conforme o advogado, apesarda maior procura, ainda existe uma morosidade em relação ao andamento das ações trabalhistas. Considerando as primeiras fases na Justiça do Trabalho, em Bento Gonçalves, e o trâmite de recurso no Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4), em Porto Alegre, a demora é de dois a três anos. Após o término da ação, o funcionário ainda tem que entrar com pedido de execução, para, efetivamente, receber os valores. Entre os processos, o que prevalece, ainda, é o reconhecimento de vínculo (para pessoas que não tinham anotação na Carteira de Trabalho) e as verbas rescisórias propriamente ditas, como férias, horas extras, FGTS, adicionais de insalubridade ou periculosidade.
A recomendação é de que os trabalhadores busquem orientação especializada, seja nos sindicatos de cada categoria ou mesmo com advogados de confiança. “Entendemos que o momento é delicado no cenário econômico e que as empresas realmente estão passando por dificuldades. Mas, ao mesmo tempo, os direitos trabalhistas não podem deixar de ser respeitados”, finaliza.
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