Oito cuidados para a fase de desmame do bebê
Interromper a amamentação, no caso do bebê, deveria ser um processo simples que acompanha o desenvolvimento da criança, como largar as fraldas. Mas às vezes não é bem assim: a mãe fica triste porque o filho pede algo que ela tem, mas não pode ou não quer mais dar, e o bebê acaba sofrendo porque, na verdade, o leite representa para ele muito mais que um alimento. É uma troca importante com a mãe, carregada de fatores emocionais. Por isso o desmame rápido pode ser um trauma para a criança.
Para minimizar os riscos de o fim da amamentação ser sinônimo de algo negativo e permanente na vida do pequeno, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e especialistas da área ensinam a trocar aos poucos o leite materno por outros alimentos. “Também é importante seguir as orientações médicas para não prejudicar a nutrição do bebê”, afirma a pediatra Camila Reibscheid.
Quando está sendo amamentado, o bebê reconhece o corpo da mãe, do qual já era íntimo bem antes do nascimento. Ele está familiarizado com seu cheiro, sua temperatura e os sons, como os da digestão e dos batimentos cardíacos. Maria Inês de Souza Gandra, psicóloga e mestre em ciências da saúde, explica que nos primeiros meses de vida da criança o peito significa um porto seguro. Diante de qualquer desconforto que o pequeno venha sentir, o contato com o corpo da mamãe é capaz de representar acolhimento. Por tudo isso, o Ministério da Saúde recomenda amamentação exclusiva até o sexto mês e que a criança continue mamando até os dois anos.
Um vínculo muito forte
Mas chega uma hora em que é preciso parar, seja depois dos dois anos, ou no caso de mães que voltam a trabalhar, têm algum problema de saúde, engravidam novamente… É importante que a mamãe entenda que a amamentação representa tranquilidade e segurança para a criança. Por isso, na época do desmame ela precisa estar muito presente, mantendo o vínculo e passando confiança ao seu filho porque o que ele realmente quer é proteção, diz a pediatra Lélia Cardamone Gouvêa, do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Na situação ideal, a idade de dois anos não é escolhida de forma aleatória para o desmame. Nessa fase, a criança passa a conhecer os alimentos e a descobrir novos sabores, o que diminui as mamadas sem qualquer sofrimento.
É também em torno dessa idade que ela começa a despertar o interesse pelo mundo à sua volta e passa a não sentir conforto somente com o peito da mamãe. Aos poucos, ela o substitui pelo bichinho de pelúcia, por atividades como brincadeiras com algum familiar, carinhos da mamãe e do papai ou qualquer coisa que a distraia, explica Maria Inês.
Algumas crianças passam naturalmente a não aceitar mais o leite materno (o que facilita no processo do desmame). “Nessa fase elas são curiosas e por isso aceitam bem o que lhes é oferecido. Começam a conhecer as texturas, os odores e as cores. Elas estão descobrindo o mundo e progredindo”, diz Lélia. Isso torna tudo mais simples.
Para ser menos doloroso
Quando o desmame acontece antes dos dois anos, o cuidado deve ser maior. Muitas vezes a criança ainda não está preparada e pode encarar o final dessa fase como uma rejeição. “Até o oitavo mês, o bebê entende que ele e a mãe são uma só pessoa”, explica Lélia. Por isso uma separação feita na época e de forma errada pode gerar traumas. Um dos segredos é redobrar os carinhos.
A criança se sente importante no momento em que está sendo amamentada. Assim o instante da mamada pode ser substituído por alguma outra atividade em que a mãe dedique atenção personalizada. Pode ser cantar uma música, contar uma historinha. O papel do pai é fundamental para o filho nesse processo. Ele será uma espécie de ponte entre o bebê e o mundo e representará o que existe além do mundinho da relação mãe e filho.
Desmame tardio
Algumas mães amamentam mesmo após os dois anos de idade. Maria Zenaide Batista Silva, coordenadora de programação de tevê, amamentou seu primeiro filho Rafael, hoje com 10 anos, até quase os três anos e só parou porque engravidou novamente. “O Rafael se lembra com carinho dos momentos em que era amamentado”, conta Maria Zenaide. A pediatra Lélia Cardamone Gouvêa não vê problema em caso de desmame tardio. Só é ruim se a mãe não souber impor limites e substitui alguma refeição pelo leite materno.
“Depois dos dois anos, o leite materno deixa de ter importância nutricional e o ato tem apenas um significado sentimental. Mas a mãe precisa ter consciência de que deve permitir que o filho se desenvolva como uma pessoa independente dela”, diz a psicóloga Maria Inês.Para saber quando começar o desmame e quais são os cuidados necessários, anote as recomendações a seguir.
Para interromper a amamentação
1. Nunca inicie o processo em momentos conturbados para o bebê. Situações como os primeiros dias na escolinha, a volta da mamãe ao trabalho, a separação dos pais ou enfermidade o deixa vulnerável e a amamentação tem uma função de equilíbrio emocional;
2. Não desmame de uma hora para a outra. Comece tirando uma mamada menos importante, como as do meio do dia. Atenção: se a mulher engravidar novamente, recomenda-se iniciar o desmame de forma lenta. Logo a criança perderá o interesse, pois o gosto do leite tende a mudar;
3. Nas horas habituais das mamadas, não ofereça o peito até que a criança peça. Tente entretê-la com alguma atividade ou ofereça outra opção de alimento. Esta técnica permite uma redução gradual no número de mamadas;
4. Procure diminuir a duração das mamadas. E depois de terminá-la, dê a seu filho um brinquedo ou sugira alguma atividade que ele particularmente goste;
5. Troque o lugar onde normalmente costuma amamentá-lo e varie sempre;
6. A mamada antes de dormir ou no meio da noite no geral são as mais difíceis e as últimas a serem tiradas. Se a criança já tiver mais de um ano, toda vez que ela pedir para mamar de madrugada, repita que a noite foi feita para dormir. Caso a criança durma perto da mãe, o primeiro passo é afastá-la. O papel do pai é fundamental. É ele quem deve atender aos chamados do filho no meio da noite, ser paciente e resistente.
Saiba mais
Idade ideal
A indicação da OMS é amamentação exclusiva até os seis meses de vida. A partir daí, os pais podem começar a introdução de outros alimentos no cardápio junto ao aleitamento materno, que continua até os dois anos. Segundo a pediatra Lúcia da Silva, da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, é até possível que o bebê prefira desmamar antes do segundo aniversário. “É comum que, a partir de um ano de idade, o bebê já vá largando o peito conforme consome uma variedade maior de alimentos”, afirma. “Mas é preciso consultar o pediatra para ter certeza de que o leite materno não fará falta”, alerta.
Posso passar substâncias de gosto ruim no peito?
Não, espalhar alimentos amargos ou azedos no peito para o seu filho rejeitar mamar é um péssimo hábito, segundo as especialistas. Imagine só o trauma de o bebê, que está acostumado ao momento prazeroso que é a amamentação, ter que experimentar um gosto horrível? “Mesmo que a mãe não tenha tempo de alimentar o bebê porque trabalha, ainda recomendamos que ela amamente ao chegar em casa à noite”, afirma a pediatra Camila.
Planeje a volta ao trabalho
Esse é um problema de muitas mulheres: voltar da licença-maternidade e não conseguir dar todas as mamadas de que o bebê precisa diariamente. Nesse caso, é só se programar para tirar o leite e fazer um estoque em casa. Segundo o Ministério da Saúde, o leite materno dura 24 horas na geladeira e até 15 dias no freezer. Ele deve ser descongelado dentro da geladeira e aquecido em banho-maria no fogo antes de ser servido ao bebê. Para ele se acostumar a ser alimentado por outra pessoa que não seja a mãe, as especialistas recomendam começar gradativamente essa troca alguns dias antes do retorno ao trabalho.
Mamadeira ou copinho?
A mamadeira já foi a preferida, mas isso é passado entre os médicos. O ideal é usar um copinho ou uma colher. Pode parecer estranho, mas dá certo. Até mesmo bebês prematuros são alimentados dessa forma. Se o seu filho não se adaptar logo de início, você pode usar um canudo. A mamadeira tem várias desvantagens: a criança acostuma demais com ela e irá sofrer para desapegar. O bico é anti-higiênico por ser difícil de limpar. Sem contar que a mamadeira pode prejudicar a formação de toda a estrutura da boca do bebê e ainda trazer outros problemas de saúde, como otite (o bebê precisa estar deitado para usá-la e o leite pode entrar no conduto auditivo, já que há uma passagem entre nariz, ouvido e garganta).
É verdade que o desmame prejudica o vínculo entre a mãe e o bebê?
Em parte é verdade, porque a amamentação permite um contato olho a olho muito forte. Mas a pediatra Camila conta que é possível continuar com esse vínculo. “Na verdade, a mãe cria uma ligação tão poderosa durante a fase exclusiva de amamentação que não se perde depois, basta mantê-la”, explica. Como? Com conversas, carinho, músicas, colo, brincadeiras e outros hábitos diários.
Introdução de outros alimentos
Para a criança amamentada de acordo com a recomendação da OMS, a orientação costuma ser a seguinte: a partir dos seis meses, os pais podem começar a dar sucos e frutas em papa. Nos sete meses o bebê pode começar a comer papinha salgada e, com um ano, são permitidos alimentos em geral. “Recomendo, porém, evitar dar muito sal e açúcar para preservar o desenvolvimento e a saúde do bebê”, diz Lúcia da Silva.
Tipo de leite
“Quando a criança deixa de vez o leite materno, o leite que precisa ser introduzido é sempre o de fórmulas infantis, nunca o leite de vaca”, orienta Camila Reibscheid. As fórmulas lácteas são enriquecidas com nutrientes importantes ao bebê e que costumam ser escassos no leite de vaca, caso do ferro. O pediatra poderá indicar qual fórmula é melhor de acordo com as condições do seu filho.
Consumo menorde leite de fórmula
Se você ficar preocupada porque o seu bebê está tomando uma quantidade menor de leite de fórmula do que quando era amamentado, saiba que isso é perfeitamente normal. “A tendência é que, gradativamente, os alimentos em geral substituam a necessidade nutritiva do bebê e o leite vire só mais um item do cardápio em vez de seguir como elemento principal”, afirma a pediatra Lúcia. Seu bebê mamava mais antes porque comia menos outras opções de alimentos. Na dúvida, mantenha em dia as consultas com o pediatra para checar o peso e o estado de saúde do seu filho.
Por Letícia Gonçalves
Fonte: Portal Minha Vida
(www.minhavida.com.br)
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