Opinião: a dinâmica social e econômica de uma pandemia


 

Quando se projetou 2020, ainda em meados de novembro de 2019, nem o mais pessimista dos especialistas previu uma situação como a que estamos passando. As projeções davam conta de um ano de recuperação, com possibilidade de crescimento no PIB em torno de 2%. Não seria a oitava maravilha do mundo, mas algo melhor do que tivemos nos últimos anos. 

Mas essa “coisa” chamada pandemia transformou o nosso mundo, fez ele dar uma volta de 360 graus e ainda estamos um bocado tontos com esse processo. A lucidez em março nos obrigou a ficarmos isolados, em casa, sem reuniões presenciais de trabalho, de família, de amigos. Não tivemos apenas mudanças e consequências na economia, mas, principalmente, na vida em sociedade que até então conhecíamos. Gestos simples, como um abraço, foram abolidos do nosso convívio. Mudamos a forma de nos comunicarmos, estamos mais virtualmente relacionados e isso impacta diretamente nos aspectos econômicos. Sem sair de casa, precisamos de muito menos para viver: menos vestuário, menos transporte, menos lazer. Ainda que nossos salários também se tenham modificado, nosso consumo durante esse período tem sido por e-commerce, mais uma transformação, tanto para os consumidores quanto para as empresas. Muitas tiveram que aderir a esse sistema para garantir uma sobrevivência mínima e muitos consumidores, relutantes em aderir a esse tipo de serviço até então, se renderam: por absoluta necessidade. 

O pior mês, em termos de resultados econômicos, foi abril. Os 20 dias parados entre a metade de março e início de abril mostraram o tamanho do problema, principalmente para o setor industrial e todo o comércio e serviços não essenciais. A liberação em meados de abril para o funcionamento das indústrias, ainda que com redução de capacidade de produção em 50%, trouxe esperança para diminuir os impactos negativos nos negócios. Mas no mundo do trabalho, os ajustes necessários para a sobrevivência das empresas continuavam em ritmo acelerado, ou seja, muitas demissões. Ocorre que todos nós, agentes econômicos, baseamos nosso comportamento econômico em expectativas. Se elas são positivas, voltamos a consumir, as empresas retomam a produção e assim por diante. O contrário é verdadeiro. Enquanto os processos de demissões continuassem fortes, as expectativas dos trabalhadores seriam baixas ou negativas. Logo, o consumo não respondia à retomada da economia porque as incertezas em relação ao trabalho e renda eram grandes, portanto, a regra era segurar o dinheiro e esperar para ver. Outro conceito de economia: comportamento de manada, quando não sabemos qual é a melhor escolha a fazer, opta-se por seguir a maioria. 

Pois bem, o tempo foi passando, nossas relações sociais cada vez mais virtuais: home office, reunião on-line, festas on-line, aulas on-line, casamentos por drive-in, festas por drive-in, quanta imaginação e quanta capacidade de adaptação o ser humano tem! No entanto, o sistema de bandeiras do governo estadual nos deu uma certa flexibilidade, quando em bandeira laranja, claro, e aos poucos vamos retomando pequenos hábitos, como ir ao supermercado, ao médico e até voltar para a academia. Mas nos perguntamos o que ficará de lição e que hábitos transformados nessa pandemia restarão. Penso que entendemos que podemos viver com menos, que podemos ser mais criteriosos em algumas decisões e que também aprendemos a ser mais compreensivos com o outro. Não sei quando poderemos ou retomaremos o abraço, mas concordo que faz muita falta, nos tornamos também mais amorosos e mais sensíveis (assim espero). Economicamente falando, o mundo virtual conquistou mais consumidores e isso não deve retroceder, o que significa dizer que continuaremos a fazer muita coisa on-line (compras, reuniões, etc.), modificando até mesmo o sistema de educação: a forma como fazemos as aulas não serão mais as mesmas.