Opinião: As empresas irão sobreviver em 2021?

Adeus ano novo, infeliz conta velha. Pode até soar heresia parafrasear o título do best seller do escritor Marcelo Rubens Paiva, mas justifico, caro leitor: para os empresários e empreendedores, é um alerta mais do que necessário.

 O PIB nacional, em decorrência do coronavírus, recuou 9,7% no segundo trimeste de 2020, submetendo o comércio e o setor de serviços, seja de pequeno até o de grande porte, a uma – senão várias – provas de fogo.  O ano que passou nos ensinou uma dura lição: a pandemia causada pelo coronavírus, esse evento extraordinário, de amplitude global, imprevisível e inevitável, repercutiu seriamente em todos os setores da economia, impactando na subsistência das pessoas, assim como na maioria das empresas, pois aquelas que não foram classificadas como “serviços essenciais”, foram literalmente obrigadas, pelos governantes, a manterem suas portas fechadas, numa tentativa de corroborar com o esforço da comunidade para deter o avanço pandemia e, de quebra, preservar vidas.  

Contudo, essa forçada limitação das atividades econômicas por meses a fio, inevitavelmente tem cobrado seu preço, pois grande parte das empresas assistiu, com horror, ao despencar de seu faturamento mensal, ao ponto de comprometer sua existência, pois nesse ínterim, contas, impostos, folha de pagamento e demais obrigações, não pararam de chegar! Muitas delas se viram obrigadas a adotar medidas variadas, até drásticas, enquanto estavam proibidas de funcionar, chegando ao ponto de demitir seus funcionários, contribuindo negativamente para o assustador e mais recente levantamento do IBGE, que apontou, em novembro último, 14,1 milhões de pessoas desempregadas. 

Nesse cenário pandêmico, somado às medidas dos governantes acerca do isolamento social, muitas empresas, sufocadas, deixaram de pagar suas obrigações mensais, enquanto outras, com melhor visão de mercado, buscaram o franco diálogo com seus credores, desde bancos e financeiras, até fornecedores. 

E é aqui que reside o primeiro alerta, pois questiono até que ponto essas renegociações e flexibilizações foram “vantajosas”, pois as mesmas certamente cobrarão seu preço, visto que muitos empresários cederam ao desespero e assinaram contratos de todo tipo, sem nenhuma orientação adequada, postergando o pagamento de suas dívidas, sem saber se terão condições de honrar tais compromissos. 

Apesar da economia ter apresentado um cenário de recuperação no seu desempenho no decorrer do segundo semestre do ano passado, 2021 é um ano permeado de incertezas, pois embora tenham surgido vacinas para combater o acelerado alastramento da covid-19, a retomada das atividades econômicas caminha de mãos dadas com a necessidade de adoção de protocolos rígidos de segurança, visto que o “novo normal” vem exigindo novos hábitos de todos. Logo, se torna pertinente perguntar se as empresas terão fluxo de caixa para sobreviver a 2021. Como honrar suas pendencias financeiras diante de tantas incertezas?

Para começar a contornar qualquer cenário de crise, primeiro há de se ter disciplina, foco e organização. E além da contumaz resiliência do empresário brasileiro, deve haver uma mudança de visão e condução dos negócios, começando o entendimento que a pessoa jurídica jamais deve se confundir com a pessoa física. O próximo passo é um controle ferrenho sobre o caixa da empresa: nenhum centavo deverá ser desperdiçado além das despesas obrigatórias. Na sequência, o desenrolar de um cenário de crise deve ser feito com ajuda de profissionais habilitados para tanto, pois dessa forma, diagnosticar todos os pontos vulneráveis da firma, certamente será traçada a melhor estratégia para encarar as dívidas, desde as trabalhistas, passando por pendências fiscais, bancárias e credores em geral. O caminho da conciliação e da mediação, por exemplo, é uma das saídas mais adequadas para o cenário atual, no sentido de minimizar demandas processuais, que poderiam ser resolvidas com uma boa conversa. Dessa forma, se evitam dissabores, ou a adoção de procedimentos judiciais que nem sempre são os mais adequados para uma empresa em crise.

Não há como nadar contra a maré, pois aquela empresa que não se moderniza e não se atenta aos processos de modernização, ficará para trás e certamente fechará suas portas, pois o mundo atual exige rápida adaptação aos meios tecnológicos e principalmente a demanda gerada pelos consumidores, motivo pelo qual a otimização da carteira de clientes de cada empresa deve estar sempre em voga, oferecendo novos produtos ou serviços atrativos, eis que uma boa diversificação das receitas, certamente contribuirá para um fluxo de caixa mais robusto. Logo, apesar das incertezas que 2021 traz, estou otimista e entendo que as empresas irão sobreviver a mais essa turbulência, desde que entendam que a retomada das atividades econômicas deve seguir de mãos dadas com boas políticas de organização, adequando-se a uma visão mais global de mercado.


 

Conrado Dall´Igna, Advogado (OAB/RS 62.630) | Especialista em Direito Civil e Processo Civil, Recuperação de Empresas e Administração Judicial. Contato: conrado@cdi.adv.br