Opinião do leitor: “De um funcionário molenga”, contraponto à coluna de Felipe Sandrin publicada em 11 de agosto

Em contraponto à coluna “Funcionalismo público e sindicatos: minimizar e extinguir”, assinada por Felipe Sandrin e publicada na edição 622 do SERRANOSSA (11 de agosto), os agentes penitenciários Cristiano Cogo Bertolo e Alexandre Luis Souza expuseram seus argumentos. Confira na íntegra:

“DE UM FUNCIONÁRIO MOLENGA!

Somos funcionários públicos lotados no Presídio Estadual de Bento Gonçalves, e acompanhamos a crônica a respeito dos funcionários públicos, sabemos que não irão publicar este meu e-mail, porque conhecemos apenas um jornalista que fazia isto, este jornalista era o Paulo Santana, que mesmo criticado publicava as respostas de seus leitores.
Graças à Constituição Federal de 1988 todas as pessoas têm a livre manifestação do pensamento, assegurado o direito de resposta. Não estou aqui para desafiar ou “brigar”, ou mesmo exigir alguma retratação, quero que olhem por uma outra ótica o lado dos funcionários públicos, pois somos taxados de preguiçosos, MOLENGAS, corruptos entre outras coisas. Esquecem estas pessoas que temos família, amigos e que nossos filhos também leram esta matéria e sofrem muito com isto, até mesmo são motivo de chacotas na escola.
Queremos dizer também que não há investimento no setor público há muito tempo, desta forma o serviço torna-se precário e, assim, se legitimam as críticas e até mesmo a privatização de alguns setores, ou seja, sucateia tudo para justificar o desmonte.
Não somos contra as mudanças, pois elas devem ocorrer, mas colocar a culpa somente em nós é uma injustiça!
Sabemos também que existem muitos problemas dentro do setor público, que a corrupção está corroendo a economia do País, mas não podemos esquecer que aquela empresa do setor privado que entra em licitação para vender algum serviço ou material para o Estado e coloca os preços 10 vezes mais que o valor de mercado também é corrupta.
Vale lembrar que a operação lava jato é impulsionada por funcionários públicos que investigam toda esta corrupção e que no caso do Presidente Temer não evoluiu por culpa de nossa Câmara Federal, que por meio de liberações de milhões em emendas parlamentares atendendo outros interesses travam o processo. 
Pois bem: falta café, a gente compra. Falta açúcar, a gente compra. Falta água, a gente compra. Falta material de papelaria, luva, material de higiene, a gente compra.
A gente se une e não deixa a peteca e NEM O SERVIÇO cair. Faz tantas e tantas coisas!!! Até levar ventilador de casa para não permanecer em uma situação insalubre! 
Como servidor público NUNCA roubei nada. Ganhei o que trabalhei e muitas vezes trabalhei muito mais do que ganhei… Muitas vezes ajudei levando meu equipamento na realização de alguma tarefa por falta de verbas, portanto dar a César o que é de César!
Muito duro ver a campanha na mídia desmoralizando o serviço público, quem ganha com esse desmonte não sei, mas quem perde certamente é o contribuinte com o recolhimento de impostos. 
Minha contribuição previdenciária não é o INSS. Sendo assim, não somos a causa da previdência supostamente estar no negativo. Não tenho direito ao FGTS, aos 40% da multa rescisória, – que agora após a reforma passou para 20% –, aviso prévio e ao seguro desemprego, em caso de demissão. E servidor público pode, sim, ser demitido. Alguns até com bastante facilidade. (motivo da estabilidade é para que o funcionário faça seu trabalho com independência sem qualquer pressão política que pode existir – imagine um delegado de polícia sem estabilidade investigando uma pessoa influente ou seu superior).
Pago 14% da integralidade dos meus vencimentos para me aposentar e receber em troca apenas 80% da média das contribuições (e não “aposentadoria integral”, como muita gente pensa). Quanto ao Imposto de Renda, este é subtraído da fonte, a cada mês. Já fiz (e faço) serviço extraordinário, sem nada receber em troca. Se o Governo está em crise, seguramente, a culpa não é minha. Vale lembrar que não há perdão no desconto do Imposto de Renda em minha folha, existe perdão nos milhões que são anistiados em multas em favor de empresas privadas.
Lembrando: sou SERVIDOR PÚBLICO CONCURSADO há anos e tenho MUITO orgulho disso. Nenhum político concedeu-me este cargo. Foi adquirido com lisura, sem conchavo ou trapaça! Estudei muito para ser aprovado.
Nunca roubei nada. Recebo por aquilo que trabalho, e, muitas vezes, trabalho muito mais do que recebo. Trabalho pela melhoria do serviço público, sempre com responsabilidade, eficiência, ética e moral.
Apesar de existir uma minoria privilegiada, como há em qualquer setor, seja no público ou no privado, espanta-me deparar com campanhas de desmoralização do servidor público, vindo daqueles que pregam um estado mínimo e ineficiente.
Não são os salários dos servidores públicos concursados (e compulsoriamente contribuintes) que colapsam a Previdência, muito menos é o servidor público quem solapa as finanças do Estado.
A “quebra” da previdência e das finanças públicas é resultado de muita corrupção, mal planejamento e ineficiência de gestão.
O problema não está no funcionalismo público, mas sim nas decisões inconsequentes que o Congresso tem tomado, aprovando PECs e Reformas irresponsáveis, as quais furtam direitos sociais conquistados pelo povo através de muita luta e debate.
A multiplicação de “CARGOS DE CONFIANÇA”, ocupados SEM concurso, por indivíduos sem conhecimento da área e sem mérito, que servem apenas a interesses eleitoreiros e jamais ao interesse público, é um bom exemplo. Estão maquiando com mentiras a verdade, colocando a população contra o servidor.
Por fim, graças aos servidores MOLENGAS que ainda o básico está sendo feito, graças aos servidores MOLENGAS na última rebelião os presos não saíram pela porta da frente do Presídio. Aqui no presídio somos leitores assíduos deste jornal e ainda distribuímos para o público que frequenta o presídio nas sextas-feiras. Por respeito à diversidade de pensamentos e opiniões entre esses leitores que resolvemos redigir este artigo.”

Um cordial abraço,

Agente Penitenciário Cristiano Cogo Bertolo
Agente Penitenciário Alexandre Luis Souza

Enviar pelo WhatsApp:
Você pode gostar também