Opinião: Educar em meio à pandemia 


 

Ao longo da história, vírus e bactérias dizimaram vidas, produziram sofrimento e deixaram rastros do caos. Doenças como peste bubônica, varíola, sarampo, tifo, cólera, diferentes gripes e tantas outras vitimaram e acabaram por produzir a necessidade de encontrar soluções, descobertas e avanços que resultaram em muitos dos conhecimentos científicos que temos até atualmente.

Hoje, em meio à pandemia causada pelo Sars-CoV-2, quero destacar dois pontos. O primeiro, que tem gerado concordância entre muitos historiadores, é a de que a pandemia em 2020 é o marco que põe fim ao século XX e inaugura o século XXI em definitivo na História. Em segundo, que a COVID-19 acelerou a história, em especial, a história da educação. 

Na tradição pedagógica ocidental, desde os gregos antigos, diferentes concepções de educação foram elaboradas, bem como distintos modos de constituir a escolarização. O ser humano como sujeito histórico e social é educado e se educa nas relações e no encontro com o mundo que o cerca, por meio das práticas socioculturais que experiencia em sua existência. A educação envolve os processos formativos ao longo da vida, que constituem e alicerçam a humanização, a socialização e a instrução. 

No fazer pedagógico, há mais de duas décadas se propõe o uso de ferramentas tecnológicas para a mediação de atividades, para a ampliação de estratégias e intervenções pedagógicas. A pandemia, para a preservação de vidas, impôs o isolamento e o fechamento de escolas. A instituição escolar, centenária, exaltada ou vilipendiada, espaço formal para educar, foi fechada. Professores, gestores e todos os envolvidos com a área da educação têm debatido, nem sempre com consensos, sobre caminhos e possibilidades adequadas para manter vínculos, construir aprendizagens, viabilizando múltiplas adaptações para que crianças e jovens continuem estudando. A mobilização das tecnologias se tornou inevitável. Muitos professores, usando seus equipamentos pessoais, pesquisando e aprendendo uns com os outros, acelerados pela história, na urgência do tempo, aprenderam e passaram a produzir planejamentos diferenciados oferecidos de modo remoto para que as famílias acompanhassem os estudantes. 

Cada escola, rede ou instituição encontrou soluções, alternativas e mediou estratégias com uso de ferramentas e recursos diferenciados. Nem sempre com sucesso, mas com alguns avanços e pequenas conquistas. Dúvidas, angústias e incertezas têm marcado os dias, os meses. A desigualdade social, gritante no país desde muito tempo, se acentuou. Nem todos têm tido a oportunidade de continuar aprendendo em meio à pandemia. 

É tempo de reflexão e de planejamento, é tempo de antever que a educação escolar e os professores são investimentos importantes. Se a educação é um direito humano, é um bem público como há tanto tempo temos afirmado, o momento nos convida a pensar sobre as prioridades que temos enquanto sociedade. O compromisso de educar o humano para uma formação integral, preparando-o para os complexos e os plurais desafios do tempo em que vivemos, da ciência e da tecnologia, requer investimento e oportunidades. Mobilizando a curiosidade, respeitando as diferenças como constitutivas do humano na dicotomia de sermos iguais em nossa humanidade e diferentes em nossa individualidade, a educação passa pelos sentidos, pelas emoções, pelo cognitivo e pelo compromisso ético com a vida de todos em plenitude. Que sejamos capazes de nos educar e nos renovar enquanto sociedade com as dores deixadas pela pandemia. 

 

Convite para Diálogos em Educação: Escola e Coronavírus, canal do YouTube do Programa de Pós-Graduação em Educação da UCS, discutindo temas contemporâneos relacionados à escola e à pandemia. Acesse o link https://www.youtube.com/channel/ UCAeho4L4NdQelVjW9wshUZw