Opinião: o futuro da sociedade ou a sociedade do futuro


 

Abordar o futuro sempre desperta curiosidade, pois o ser humano desejaria saber o que lhe reserva o amanhã, eliminando a incerteza, a dúvida e, para alguns, a própria angústia. Desde tempos remotos, o recurso a toda sorte de fontes, aí incluídas até entranhas de animais para tentar descobrir o que esperar no futuro, é empregado pela humanidade. Entretanto, sempre terminou por ensejar especulação dando margem, até mesmo, à falta de escrúpulos e exploração de crédulos. 

No início, quando do surgimento do ser humano, sua organização é rotulada de “sociedade 1.0”, conhecida como a sociedade dos caçadores/coletores, quando a sobrevivência é assegurada pela coleta de frutos silvestres e caça de animais. Cerca de 13.000 anos AC o ser humano começa o cultivo do solo e a sociedade agrária resultante é chamada de “sociedade 2.0”. Abastecida pela invenção da máquina a vapor no século 18, inicia-se na Inglaterra o que fica conhecido como a primeira revolução industrial, dando início, então, à sociedade industrial, também considerada como “sociedade 3.0”. É seguida pela segunda revolução industrial, quando envolve a indústria pesada e espalha-se por outros países da Europa, os Estados Unidos e o Japão. Ao final do século 20, o surgimento da computação e da internet caracteriza a terceira revolução industrial e a resultante sociedade da informação, denominada “sociedade 4.0”. Agora, no início do século 21, a transformação digital em curso devida à inteligência artificial, robótica, internet das coisas e blockchain, dentre outras inovações tecnológicas e disponibilidade maciça de dados (big data), demarca a quarta revolução industrial, sinalizando a sociedade do futuro como “sociedade 5.0”, a sociedade a ser criada.

A incorporação das inovações tecnológicas da quarta revolução industrial nas indústrias e na vida social enseja a aspiração por uma sociedade em que vários desafios sociais possam ser equacionados de modo mais efetivo. Nessa sociedade 5.0 novos valores e serviços serão criados para tornar a vida das pessoas mais confortável e sustentável, caracterizando-se como uma sociedade superinteligente e que tem no Japão a liderança do processo para sua concretização. De fato, a Federação Empresarial do Japão (Keidanren) propõe uma sociedade que compartilhe sabedoria e fortaleça a cooperação entre indústria, academia e governo para criar uma nova sociedade centrada no ser humano, seu protagonista, em que a tecnologia é apenas ator secundário. 

Em novembro de 2018, a Keidanren editou uma publicação intitulada Society 5.0 – Co-creating the Future, em que apresenta seu plano. Os valores que deverão ser cultuados nessa sociedade são os integrantes da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, proposta pelas Nações Unidas em 2015. Trata-se de 17 metas que, se observadas e atingidas, assinalarão um ponto de inflexão na história do comportamento humano no planeta. Essas considerações são particularmente realçadas pelo momento atual, que é desafiador. 

Vendo-se às voltas com uma crise de saúde pública de dimensão gigantesca, abrangendo todo o planeta, com bolsões de concentração crítica, queda abrupta da economia, desemprego crescente e insuficiência de recursos necessários à sobrevivência e indispensáveis ao salvamento de vidas humanas, a humanidade é chamada à solidariedade entre as nações e ao espírito de fraternidade entre os povos, como nunca antes visto. Por certo, a crise passará. Mas, com certeza, a sociedade resultante jamais será a mesma. 

Valores realçados na extrema dificuldade vivenciada agora marcarão, de forma indelével, cada um dos seres humanos. Não somente a tecnologia identificará as diferenças exuberantes que irá exibir a sociedade do futuro comparativamente a dos dias atuais. Comportamentos e atitudes deverão sinalizar a mudança de curso em direção a princípios de convívio menos egoísta e mais igualitário, a menor concentração da riqueza gerada, à intolerância da fome e de condições miseráveis de sobrevivência, à exploração consciente e responsável dos recursos do planeta, à proteção das espécies, enfim, a uma nova realidade de convivência em sociedade.
 

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