Opinião: O que a pandemia nos convoca a aprender?

Por Franciele Sassi
Psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica, Especialista em Luto, Separação, Perdas. Especialista em Relacionamentos Intervenção em Traumas, Emergências e Suicídio.
 

Todos nós estamos cansados de nos sentirmos restritos, aprisionados. Cumprir regras nunca foi tarefa fácil e isso, inclusive, já rendeu até mesmo a fama aos brasileiros de sempre darem um “jeitinho”. A pandemia nos convoca a ter disciplina como forma de conter o caos. Não permite negociações quanto a horários, lugares, classe social, quantidade de vidas e suas idades. A gente já tentou uma série de alternativas, várias vezes, e não funcionou.

Romper com tudo o que nos é conhecido e confortável gera desgaste mesmo. Não é à toa a nossa resistência. Faz com que a gente tenha que olhar mais para dentro, para o exercício do autocuidado, mas também para fora, para a importância da empatia e do cuidado com as pessoas que estão conosco. O perigo do nosso esforço reside justo aí: quanto maior o cansaço emocional, menor a nossa disponibilidade afetiva para reconhecer riscos. A gente também fica cansado de escutar sobre a importância do cuidado, infelizmente, sobretudo, porque enquanto tentamos do lado de cá, muitos negam do lado de lá. 

Na minha experiência clínica, eu tenho acompanhado o sofrimento de perto, por meio de famílias que não puderam estar junto de seus entes queridos que foram levados pelo vírus. Eu sou testemunha do quanto essas experiências doem na gente também. A gente meio que chora junto ao mesmo tempo que não mede esforços para oferecer suporte. Claro que a gente não precisa ter que passar pelo vírus ou necessariamente perder alguém que ama para que entendamos que é essencial olharmos para dentro e para fora. Já passou da hora de vermos a pandemia para além do nosso narcisismo, de necessidades individuais, de crenças e valores distorcidos ou construídos a partir de informações pela metade, de qualquer questão política. A gente precisa aprender a combater as dificuldades de frente. Negar a gravidade da crise, vivendo na onipotência de que o vírus não passa de uma gripe ou acreditando que cuidados com saúde não funcionam, porque um dia todo mundo vai passar pelo vírus é o tipo de “jeitinho brasileiro” que não funciona. Sem contar que essas condutas e formas de falar também nos informa sobre cansaço emocional – o que sugere a necessidade de cuidados de saúde mental. 

Enfim, que a gente não desista pelo cansaço, muitas vezes, dos outros. Isso tudo vai passar… Mas precisamos, mais do que nunca, estarmos juntos na proposta de cuidados com a saúde.


Franciele Sassi | Psicóloga
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