Opinião: Um ponto de vista sobre a gestão em época de pandemia


 

Era 18 de março de 2020, uma quarta-feira, quando tivemos que suspender as atividades do serviço de saúde em que eu atuava como gestora. A pandemia começava a se fazer presente. Tivemos poucas horas para planejar como seria essa paralisação. Agendas cheias, pacientes marcados, atividades programadas, equipe fluindo em suas atividades. Tudo isso precisou ser rapidamente remarcado, transferido, redimensionado, transformado. 

Todos – equipe, pacientes, familiares, cuidadores, colegas da área da saúde e da instituição – queriam uma previsão de retorno, todos buscavam por certezas, afinal, parar repentinamente sem ter um cenário concreto de voltar à rotina, de retomar as atividades corriqueiras gera uma sensação de tudo estar inacabado, em aberto – o que, segundo a Gestalt, já nos coloca em choque com nosso próprio cérebro, que trabalha para fechar e encerrar ciclos. Essas respostas não poderiam ser dadas naquele momento. Ao mesmo tempo em que serviços, estabelecimentos comerciais, indústrias e escolas paravam, hospitais, supermercados e farmácias pareciam se preparar para o apocalipse. 

Em sete dias, parte da equipe que trabalhava no serviço já estava alocada no hospital da mesma instituição, já treinada e atendendo pacientes. Usei 1.240 caracteres dos que tenho disponíveis para a redação deste texto para lhes contar resumidamente uma história real, que aos olhos de muitas pessoas pode não ter nada de mais, mas que para mim foi muito significativa. 

No exercício da gestão, muitas vezes se confundem os conceitos de autonomia e interdependência das equipes com deixar as pessoas e a equipe trabalhando por si. Quando falo em deixar as pessoas e a equipe trabalhando por si, não é no sentido de dar o espaço e a autonomia necessários para vencerem ou progredirem na própria carreira, mas sim no sentido de deixá-los sós, sem o olhar e amparo que necessitam para poder evoluir como pessoas, profissionais e como equipe. 

Neste momento exaustivo de pandemia, ao mesmo tempo em que as equipes vivem seus próprios medos em relação à COVID-19, muitas se reorganizaram, inclusive, assumindo atividades na linha de frente no combate ao vírus e na manutenção da vida (como a equipe mencionada no exemplo acima), assumindo novas responsabilidades e desafios. O gestor que está vivendo essa pandemia junto com sua equipe possui um ambiente fértil para o desenvolvimento e aprimoramento de competências grupais, desde que esteja presente e conectado emocionalmente ao seu grupo. Sentir e compartilhar medos, angústias e preocupações no ambiente profissional é dar espaço para o que de mais genuíno há no ser humano, as emoções. A pandemia nos colocou face a face com as nossas próprias vulnerabilidades, e isso não foi diferente nas equipes. O momento é oportuno para trabalhar vínculo e confiança grupal, afinal, as equipes obtêm sucesso porque são excessivamente humanas.